Uma das teses que a esquerda pequeno burguesa criou para não se colocar contra os golpes de Estado organizados pelo imperialismo é a tese das “luta dos imperialismo”. De um lado o imperialismo real, os países do G7 (EUA, Inglaterra, França etc), do outro o “novo imperialismo” que seria liderado pela Rússia e pela China. Essa tese aparece nos países no entorno da Rússia como a Geórgia. O pequeno país esta sendo alvo de uma intervenção imperialista mas grupos como o Socialist Worker publicam em seu jornal artigos com a tese do “nem Rússia, nem OTAN” invés de denunciar o golpe. É o caso do texto “Rivalidade imperial e resistência na Geórgia” escrito por Thomas Steele.
O texto começa: “o partido governante Sonho Georgiano (SG) venceu com 54% dos votos nas eleições de outubro. O partido, liderado por Irakli Kobakhidze, suspendeu as negociações para ingressar na União Europeia (UE) até 2028 no mês seguinte”. Esse ponto é crucial, mesmo com bilhões de financiado de ONGs imperialistas para desestabilizar o governo do SG o partido ainda venceu as eleições, isso mostra que de fato há um apoio popular ao partido, mesmo que ele seja um partido nacionalista e não socialista.
O autor então começa a atacar o partido, fazendo uma frente com a imprensa imperialista: “o Sonho Georgiano é um grupo perverso, e não é surpresa que muitos estejam indo para as ruas desafiá-los. O partido é dominado pelo oligarca bilionário Bidzina Ivanishvili, cuja riqueza pessoal equivale a um terço do PIB da Geórgia. Ele promoveu um neoliberalismo desenfreado, repressões violentas contra protestos e dissidência, além de homofobia”. É a clássica política da “ditadura” contra a democracia. A ditadura é sempre aquele governo que é inimigo dos EUA. Aqui ele foge do caráter essencial do partido, ele lidera o nacionalismo georgiano que está na mira da OTAN, exatamenteo como aconteceu na Ucrânia em 2014.
O texto segue: “mas a forma como a crise na Geórgia tem sido abordada pela grande imprensa —o ‘Ocidente pró-liberdade’ desafiando o ‘autoritarismo estilo russo’—está errada. Na realidade, a crise na Geórgia é impulsionada pela rivalidade imperialista entre o Ocidente e a Rússia”. Aqui aparece a tese centrista do conflito entre os “imperialismos”. Essa tese é absurda por muitos motivos. Primeiro, e mais importante, a Rússia não é um país imperialista. A Rússia é um país oprimido que tem a economia baseada na exportação de gás, ela possui uma exército muito forte por motivos históricos, mas não domina nenhuma economia, nem mesmo em seu entorno.
Seria totalmente absurdo por exemplo se os EUA não controlassem o México, que país imperialista não controla nem mesmo o país oprimido que é seu vizinho. A Rússia não controla nenhum de seus vizinhos. Onde o controle da OTAN não é total (Finlândia, Bálticos) há uma disputa para que o imperialismo não domine o país, é o caso da Ucrânia e também da Geórgia. Se a Rússia não controla seu entorno quem dirá países distantes. É totalmente absurdo afirmar que a Rússia é imperialista. A única conclusão que se tira dessa tese é que é preciso ficar contra os BRICS e contra o apoio militar da Rússia na África e no Irã, uma tese ultra reacionária.
O texto tenta justificar: “a Rússia também vê a manutenção do controle sobre seu vizinho georgiano como vital para seu projeto imperialista. Depois que a OTAN convidou a Ucrânia e a Geórgia para aderirem em 2008, ela se moveu para as regiões separatistas da Abkhazia e da Ossétia do Sul. A invasão russa ocorreu sob o pretexto de proteger o ‘direito à autodeterminação’ que havia sido tão recentemente e de forma amarga esmagado na vizinha Chechênia”.
Essa tese também é incorreta. Não é questão de imperialismo, é uma questão de defesa da Rússia. A OTAN já controla toda a sua fronteira oeste, no extremo leste os EUA estão no sul da Coreia e no Japão. A OTAN na Ucrânia é extremamente perigoso para os russos, foi pela Ucrânia que Hitler quase destruiu a URSS. Ao mesmo tempo a OTAN na Geórgia seria extremamente perigoso, mais um flanco aberto para o inimigo. Ou seja, o que acontece não é nenhuma “luta interimperialista”, é a luta da Rússia contra o imperialismo para impedir que seja cercada de bases militares hostis.
Do ponto de vista da Geórgia, é a luta contra o imperialismo que quer tomar conta do país política e economicamente. Baste observar mais uma vez o caso da Ucrânia. Depois do golpe de 2014, os EUA tomaram totalmente a economia do país, impuseram o neoliberalismo violento que se choca com a burguesia local. Esse ponto é importante, na luta contra o imperialismo tanto a burguesia nacional quanto os trabalhadores estão do mesmo lado, mas os trabalhadores são os únicos que travam a luta até as últimas consequências. A burguesia tende a ser capituladora.
O autor então afirma: “o Sonho Georgiano certamente não é amigo do povo, apesar de se posicionar como a escolha ‘anti-guerra’. Mas a oposição também não é muito melhor. Ela continua em grande parte vinculada à política de Mikheil Saakashvili e ao partido Movimento Nacional Unido, que governou a Geórgia de 2004 a 2012”. Esse ponto da guerra que apenas é citado é de extrema importância. A intervenção imperialista na Geórgia tem um objetivo principal, torná-la uma base militar da OTAN contra Rússia. Isso obrigaria a Rússia a destruir a Geórgia como país, seria um desastre total para os trabalhadores!
O imperialismo quer criar uma nova Ucrânia e o Socialist Worker é incapaz de lutar contra isso. O motivo real é uma capitulação diante do imperialismo. Isso aparece ideologicamente com a tese de que a Rússia é imperialista e por isso não se pode defender nenhum de seus aliados. Esse argumento coloca o SW no campo do imperialismo, pois que fica neutro em uma luta desigual assume o lado do mais forte, o lado da OTAN.
Então ele conclui: “enquanto o movimento nas ruas continuar vinculado à UE e ao Ocidente, ele permanecerá preso nas dinâmicas da rivalidade imperialista. Apenas a luta de baixo, que se opõe ao imperialismo do Leste e do Oeste, pode fornecer uma alternativa política e alcançar conquistas para o povo comum”. Mais uma vez a conclusão é a política do imperialismo. O correto seria lançar uma mobilização contra o golpe de Estado, mas o texto conclui que a esquerda não deve fazer nada. Essa é a conclusão final dos que aderem à tese do “nem, nem”: quando o golpe estiver prestes a derrubar o governo não faça nada!