Desde 22 de setembro deste ano, quando houve a eliminação de subsídios estatais ao diesel, os protestos têm se estendido para diversas províncias (a divisão por estados no país andino) em especial na região de Sierra Norte se intensificando com bloqueios de estradas, marchas e enfrentamentos contra as forças do governo. Estas manifestações têm sido organizadas pela Confederación de Nacionalidades Indígenas del Ecuador, a Conaie que iniciou um protesto contra esta remoção de subsídios ao diesel e outras medidas consideradas antipopulares.
Nesta segunda-feira, dia 13 de outubro, completam-se quatro semanas de protestos contínuos, sem sinais de possível negociação com o governo de Daniel Noboa, apesar dos pedidos da Igreja Católica, do meio acadêmico e de organismos internacionais para a abertura de um debate com objetivo de iniciar negociações. Os manifestantes exigem a reinstituição do subsídio ao diesel, o aumento no investimento em saúde e educação e a redução de um imposto, o Imposto al Valor Agregado, que o governo elevou de 12 para 15 por cento, com o argumento de aumentar o financiamento da luta contra a violência. Porém, apesar destas manobras do executivo, os índices de violência não diminuíram, ao contrário, estão aumentando, ampliando o descontentamento social.
Milhares de manifestantes que se concentraram de modo pacífico nas imediações do parque El Ejido, no centro da capital Quito, foram dispersados pelas forças de segurança, incluindo as forças armadas e a polícia nacional, com denúncias de uso indiscriminado de gás lacrimogênio e bombas de efeito moral, a ação dos militares nestas operações foi classificada como “desproporcional”, acontecendo independentemente de registros de atos de vandalismo, ou ataques contra as propriedades públicas e privadas, como pode constatar uma repórter de campo da emissora Telesur, Elena Rodríguez.
“ O governo está mentindo. Cobri o dia da manifestação. Pude verificar e documentar que o protesto foi pacífico do começo ao fim, apesar do deslocamento desproporcional de militares e policiais, apesar do cerco constante. Vi como as pessoas tentaram chegar ao Parque El Ejido não para destruir, mas para fazer suas vozes serem ouvidas. Estavam indignadas, sim — porque têm um governo que as ignora —, mas não carregavam pedras ou armas: carregavam panfletos, bandeiras e cartazes. “ Declarou a jornalista, em uma rede social.
A jornalista também denunciou que várias equipes de imprensa foram agredidas na cobertura dos protestos “Uma bomba voou muito perto de mim; atingiu um colega fotojornalista que estava de capacete. Eles estavam atirando no corpo. Não se importavam que houvesse crianças ou idosos por perto “. Relatou Elena Rodriguez em Quito.
De acordo com o ministério do Interior, a greve nacional até a data de 13 de outubro, houve 118 pessoas detidas, inclusive com uma vítima fatal, Efraín Fuérez que atuava como ‘comunero’, uma função similar ao de um conselheiro fiscal de um Orçamento Participativo, morto por conta das operações das forças de segurança. A Alianza de Organizaciones por los Derechos Humanos, uma organização em defesa da sociedade, afirmou que documentou mais de 250 violações aos direitos humanos durante a mobilização dos protestos.
O ministro do interior John Reimberg afirmou que “a cidade estava em paz”, depois das ações das forças de segurança, justificando a escalada de violência policial. Ainda o governo tem qualificado os manifestantes de “vândalos e terroristas”, acusando-os de vínculos com o crime organizado, denúncia que a Conaie tem recusado veemente. Foram denunciadas 12 pessoas acusadas por terrorismo, na versão oficial do governo, incluindo 5 detenções – liberadas posteriormente por falta de provas – por serem acusadas de atacar a caravana presidencial na província de Cañar.
Apesar de todo este acontecimento, o governo de Noboa continua afirmando que não revogará a eliminação do subsídio ao diesel, argumentando que não voltará atrás desta medida impopular, declarando que busca “estabilizar as contas fiscais” e orientar os recursos existentes para os setores mais vulneráveis da sociedade equatoriana.





