Julgamento de Bolsonaro

‘Punição exemplar’, palavra de ordem da extrema direita

A esquerda pequeno burguesa, como sempre moralista, não consegue esconder sua alegria quando vê alguém sendo punido. No fundo, ela crê na prisão como reformadora política e social

inquisição

O artigo A punição da organização criminosa e o regozijo popular, de Jair de Souza, publicado no Brasil247 neste sábado (13), começa errando no título, pois não ficou provado que tenha existido a formação de uma organização criminosa por parte de Jair Bolsonaro e os outros condenados por tentativa de golpe. Também não se pode dizer que tenha havido regozijo popular, ainda mais se considerarmos a base eleitoral do ex-presidente, que foi às ruas se manifestar contra a perseguição política.

No primeiro parágrafo, Jair de Souza diz que “é impossível negar que fomos tomados por um sentimento de grande alegria ao receber o veredito judicial com a condenação de todos os integrantes do primeiro escalão da organização criminosa capitaneada por Jair Bolsonaro, em razão dos vários crimes praticados em sua tentativa de levar adiante um golpe de Estado”.

Adiante, no segundo parágrafo, o autor cai em contradição como se pode ver: “a vingança não é a motivação que nos impele a lutar. O que nos impulsiona é a esperança e o desejo de transformar o mundo para que nele imperem a justiça, a dignidade e a solidariedade. É por isso que não nos alegramos com a condenação jurídica que acaba de ser aplicada pela Primeira Turma do STF aos articuladores das ações golpistas”. – [grifos nossos]

Talvez, Jair Souza estivesse tentando dizer que não seria de bom-tom ficar feliz, como ficou, com as condenações e, embora não queira reconhecer, tem a ver com vingança, pois em nenhum momento foi feita justiça nesse caso. Bolsonaro, todos sabiam, estava condenado antes mesmo de ser iniciado o processo-farsa.

Para o articulista, “É plenamente compreensível que tenha havido uma efusiva demonstração de satisfação com o veredito da Corte Máxima condenando os líderes da quadrilha a penas de longos anos de prisão”. Mas, foram presas pessoas comuns e que receberam penas absurdas. A essas pessoas foi negado o amplo direito de defesa, o devido processo legal. Foram acusadas de tentativa de golpe quando sequer possuíam armas. Mas a “esquerda” ficou efusivamente satisfeita.

Esquerda chave de cadeia

Desde que o “politicamente correto” se instalou na esquerda, tem aumentado um sentimento moralista e repressor, especialmente nos setores mais pequeno-burgueses. Com a infiltração do identitarismo essa tendência atingiu seu auge. Tudo virou crime. “Injúria racial”, por exemplo, foi praticamente equiparada a um homicídio. Para tudo se pede cadeia, até mesmo por se criticar o cabelo de alguém. A história do Brasil foi reduzida a um caso policial pelos identitários.

Ainda assim, Jair Souza escreve que a esquerda não é punitivista. Segundo ele, “nosso propósito não é, e nunca deve ser, o de castigar ninguém. Nosso enfrentamento com as classes dominantes exploradoras não tem por objetivo impor sofrimentos pessoais a nenhum de seus membros ou prepostos. A verdadeira punição que os sanguessugas de nosso povo merecem e deveriam receber é a eliminação das condições sociais que lhes possibilitam usufruir de tantos privilégios às custas do sacrifício do conjunto da população. Portanto, é com a destruição das bases que dão sustentação à sua hegemonia na sociedade que esses grupos vão ser de fato severamente punidos”.

Quem lê o trecho acima, poderá acreditar que o autor vá defender o socialismo, mas não se trata disso. Segundo sustenta, exigiam “a rigorosa aplicação da lei a todos os réus comprovadamente envolvidos no plano criminoso, mas não estamos agora nos regozijando pela punição em si. Pedíamos e cobrávamos uma atitude firme do STF, por ser esta uma medida indispensável para que o caminho que nos conduz à materialização de nosso sonho maior não volte a ser obstruído”.

A lei não foi rigorosamente aplicada, esse julgamento nada mais é que uma repetição da Lava Jato, utiliza os mesmos métodos, com a diferença de que no caso do PT a esquerda condenava, mas aplaude quando utilizada contra seus adversários políticos.

Para piorar, Jair de Souza pretende que o Supremo Tribunal Federal, não a classe trabalhadora e seus partidos, libere o caminho para a realização dos anseios populares. Quer dizer, uma instituição do Estado burguês agiria contra a própria burguesia em favor da classe trabalhadora. Acredita quem quiser nessa fantasia.

O autor deveria ser capaz de explicar como uma peça-chave do golpe de 2016 estaria empenhada em evitar um golpe. Para Jair Souza, “a impunidade dos delinquentes, neste caso, serviria como forte alento para que estes e outros prepostos das classes dominantes se sentissem encorajados a repetir a tentativa na primeira oportunidade que venha a surgir”. Assim, é preciso perguntar: “como a oportunidade que surgiu para se derrubar Dilma Rousseff?”.

Segue a missa

Nesse artigo, que é quase uma pregação, Jair de Souza afirma que não esperamos, nem desejamos, que os integrantes dessas classes, nem seus filhos, passem pelas privações e carências que, em nosso país, eles sempre impuseram a milhões de trabalhadores e seus filhos”.

Não se sabe como o autor chega à conclusão de que se a euforia pelas condenações “não resultar em transformações nas estruturas de dominação prevalecentes, ela terá sido inútil”. Ou seja, o articulista acredita que a punição tem, sim, um sentido positivo, o que o faz novamente cair em contradição.

No meio de seu texto absurdo, Souza faz um chamado: “vamos aproveitar o momento da condenação da quadrilha bolsonarista para conscientizar a todos de que é justo e imperativo obrigar os mais ricos a pagarem impostos em proporção a seus rendimentos, tendo sempre em conta a máxima de que ‘quem mais ganha mais deve pagar’. Precisamos travar a luta ideológica para impedir que pessoas do campo popular, em lugar de aderirem à luta para exigir a taxação dos super-ricos e das operações financeiras, engrossem o campo dos que cobram o fim do Bolsa Família e de outros modestos programas sociais”.

É espantoso, como o articulista tenta estabelecer um nexo entre uma condenação com a taxação dos super-ricos. É impossível imaginar que desse processo se conclua que “Todo o nosso povo deve ser encorajado a gritar em alto e bom-tom: Bolsa Família, sim; Bolsa Banqueiro, não!”.

Reformismo

Jair de Souza, que fala em um mundo igualitário, se limita a fazer um chamado tímido pela taxação da burguesia, um tema que sempre vem à tona em determinados momentos e nunca sai do lugar. Além da defesa do Bolsa Família, que está congelado, pois é preciso garantir o pagamento de juros altíssimos justamente aos super-ricos.

O que o articulista não percebe é que está se unindo ao imperialismo e seus sócios no Brasil. Qualquer pessoa de esquerda deveria desconfiar quando toda a grande imprensa, inclusive a estrangeira, os golpistas, estão todos unidos tentando “evitar” um golpe.

Na verdade, a esquerda está a reboque da burguesia e participando de uma nova fase do golpe cujo propósito é colocar um governo extremamente neoliberal no poder. Para isso, foi preciso tirar uma das figuras com votos e base popular da próxima corrida presidencial: Jair Bolsonaro. O próximo alvo será Lula, que tem um governo enfraquecido, pois em vez de se apoiar na força e nas revindicações da classe trabalhadora, está dependente das ações do Supremo Tribunal Federal, o mesmo que o colocou na cadeia.

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