O jornal Opinião Socialista, do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU), é um dos que não resistiu resistiu em fazer uma demagogia identitária no caso dos elogios do presidente Lula ao físico de sua correligionária Gleisi Hoffmann.
Em recente artigo, o jornal afirmou, por meio da Secretaria de Mulheres da organização, que “fala de Lula sobre Gleisi não foi elogio, foi machismo!”, em título que já mostra o que vem por aí.
Érika Andreassy, da Secretaria Nacional de Mulheres do PSTU, afirmou que o discurso de Lula sobre a posse de Hoffmann no Ministério das Relações Institucionais “reflete a persistência de uma cultura machista que reduz as mulheres a objetos, desvaloriza suas capacidades intelectuais e políticas e reforça estereótipos de gênero que perpetuam a desigualdade e a violência contra as mulheres”.
Mas o que Lula disse? O atual presidente, que já passou mais de 500 dias na cadeia de maneira ilegal, afirmou que:
“O que a gente quer é facilitar que vocês tenham acesso ao crédito. Acho muito importante trazer aqui o presidente da Câmara e do Senado, porque uma coisa que eu quero mudar, estabelecer a relação com vocês, por isso eu coloquei essa mulher bonita para ser ministra das Relações Institucionais, é que eu não quero mais ter distância de vocês”.
O problema aí não é o suposto “machismo” de sua declaração, mas o fato de que ele está refém das cobras golpistas do Congresso Nacional e se vê na impossibilidade de tratá-los realmente mal. Se “machismo” virar crime, Lula vai amargar mais uns anos na cadeia.
Suposto “machismo” porque chamar uma mulher de “bonita” é elogio, sempre foi. Mas isso começou a ser “machismo” com o advento do identitarismo, organizado diretamente pelas agências de inteligência norte-americanas para tomar colocar a esquerda a seu reboque.
O que a autora não viu é que a indicação de Gleisi Hoffmann é justamente em razão de suas capacidades políticas, ou melhor, sua maior adesão ao próprio Partido dos Trabalhadores. Ao contrário da quantidade industrial de tucanos e identitários que estão no governo, Hoffmann, ao contrário do que pensa a redatora do PSTU, é a mais politizada, a mais progressista.
Também por isso ela respondeu os chiliques identitários que foram disparados contra Lula, como foi o caso da redatora do PSTU:
“Não teve e não tem outro líder como o presidente Lula, que mais empoderou as mulheres. Não é qualquer líder que ousa lançar a primeira mulher presidenta do país, a primeira presidenta do PT, o que mais nomeou mulheres ministras, nas estatais, no Banco do Brasil, na Caixa, no Superior Tribunal Militar e outros tantos lugares.”
Como fica a luta contra o “machismo” quando a vítima de “machismo” disse não haver “machismo”? A própria Gleisi seria machista? É claro que essa “luta” não serve mais que uma chantagem moral e não resolverá nada para as mulheres.
Na verdade, se considerarmos a política do “Fora Todos” do PSTU quando do golpe de 2016 contra Dilma, o machismo se voltaria contra o próprio partido. Se Lula é “machista” por chamar Gleisi de bonita, o que seria o PSTU ao defender a derrubada de Dilma Rousseff? Poderia ser chamado de “machista”, como foi muito comum na época.
Diz, ainda, o PSTU: “Lula prometeu defender as pautas das mulheres, mas, até agora, não cumpriu com suas promessas. E, para piorar, suas falas machistas mostram que, além de não priorizar as mulheres, ele ainda contribui para a perpetuação de uma cultura que as oprime”.
Se Lula prometeu e não cumpriu, é preciso mobilizar as trabalhadoras para empurrar o governo para as reivindicações dos trabalhadores. Não ensaiar, timidamente, um “fora Lula” com um viés “feminista”.
A “perpetuação de uma cultura” depende mais dos fatores econômicos e sociais que a produziram que da cultura em si. Ou seja, para o PSTU, depois da luta contra o “machismo”, vem a luta contra a “cultura”. É neste caminho que se propõe, por exemplo, a destruição de toda história nacional, pois ela seria “machista”, “racista”, etc. Ou seja, outra medida que não vai resolver nada para as mulheres.
Afirma a redatora da ONG PSTU: “ao reduzir a importância de uma liderança política como Gleisi Hoffmann à sua aparência física, Lula não apenas desmerece sua trajetória, mas também reforça a ideia de que o lugar da mulher está vinculado a atributos estéticos, e não a suas habilidades e sua competência”.
Note-se que ela, a Secretária de Mulheres do PSTU, desconsiderou propositalmente o cargo que Gleisi foi nomeada, a importância disso e mesmo a necessidade de Lula e do PT em ter uma pessoa firme neste cargo. E o fez para criticar Lula por meio do “machismo”, que, de fato, não existiu, muito pelo contrário. A autora segue:
“Infelizmente, essa não é a primeira vez que Lula reproduz falas machistas. Recentemente, ele fez comentários sobre como a violência doméstica aumenta em dias de partidas de futebol para logo em seguida emendar que ser for corinthiano (time para qual torce), tudo bem!”
Para um marxista essa questão não deveria ser a central. Se for tomada ao pé da letra, como é apresentado pelo PSTU, a política contra a “violência doméstica” seria encarada como uma luta contra o “machismo”. O que, para um partido revolucionário, está completamente errado.
A violência contra a mulher só irá acabar quando o peso social da mulher for maior, ou seja, quando seus direitos sociais e políticos forem minimamente desenvolvidos. Creche, legalização do aborto, salário igual para função igual, pleno emprego, enfim, essas são as medidas para libertar a mulher. Não a luta contra o “machismo”.
“O movimento feminista não pode tolerar isso. É preciso exigir mais do que discursos vazios e promessas não cumpridas. É preciso lutar por um projeto de sociedade que coloque as mulheres no centro, não como objetos de apreciação, mas como sujeitos de direitos e protagonistas de suas próprias vidas.”
Esse é o discurso identitário puro-sangue. Não tem absolutamente nada a ver com o marxismo e com o direito das mulheres e esse é o problema da luta contra o “machismo”, pois torna a luta das mulheres uma luta contra os homens.
Por isso não se fala, no texto do PSTU, em revolução, em comunismo, em luta contra a burguesia. É mais um texto que propõe o alpinismo social de determinadas figuras do “movimento feminista”. Não se trata de derrubar a burguesia, mas de alçar mulheres a postos de comando, independentemente do que defendam. É em razão dessa política que Lula tem Marina Silva como ministra do Meio Ambiente. Uma pessoa pronta para entregar o país todo para os Estados Unidos da América.
Em sede de conclusão, afirma: “a luta contra o machismo não admite meias palavras nem concessões. Se queremos um futuro em que as mulheres possam viver com dignidade, liberdade e igualdade, precisamos enfrentar o machismo em todas as suas formas — inclusive quando ele vem daqueles que se dizem nossos aliados. A resistência feminista não pode ser silenciada. Ela deve ser forte, unida e intransigente na defesa dos direitos das mulheres”.
Essa conclusão do PSTU é a mais pura bravata identitária que não tem nada a ver com a luta das mulheres, por exemplo, pelo direito de autodefesa, direito a possuir armas em punho para defender sua integridade física.
Se a política do “Fora Todos” estraçalhou o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados, o identitarismo vai terminar o serviço e transformar o partido dito socialista em várias ONGs conservadoras e identitárias.