O artigo 20 anos de PSOL: duas táticas contra a extrema direita e um impasse estratégico, assinado por Vinicius Machado e publicado no sítio da Revista Movimento nesta quinta-feira (23), é uma confissão de que esse partido já nasceu reformista.
Segundo o autor, “O PSOL surgiu como herdeiro de uma tradição crítica que apontava a construção de uma alternativa de esquerda independente como único caminho para as transformações estruturais há tanto tempo adiadas no Brasil”. Essas “transformações estruturais”, e ainda “no Brasil”, além de centrismo, aponta claramente para um reformismo. A oposição do PSOL ao PT é puro oportunismo e não serve para a construção de nenhuma alternativa.
Machado escreve que a fundação do PSOL “marcou uma ruptura política e ideológica com o PT, que, naquele momento, consolidava a sua adaptação à ordem burguesa e à política de alianças com a burguesia”. Esse partido, no entanto, fez inúmeras alianças eleitorais e se adaptou muito bem à ordem burguesa. O próprio MES (Movimento Esquerda Socialista), apoiou o golpe contra Dilma Rousseff e a Operação Lava-jato, o que o coloca à direita do PT.
No terceiro parágrafo, Machado afirma que “desde sua origem, o PSOL ergueu a bandeira da independência de classe e o horizonte estratégico socialista, ainda que na sua trajetória o partido fosse reunindo correntes com diferentes tradições reformistas e revolucionárias. Essa posição, longe de ser uma escolha meramente tática, resultava de uma longa trajetória de experiências e derrotas do movimento operário ao longo do século XX”.
Na verdade, o PSOL é uma colcha de retalhos. Tem de tudo ali dentro, desde lavajatistas, ecossocialistas, identitários… até aqueles que pregam que a esquerda deve passar para o campo das democracias liberais em nome de se combater o fascismo.
Nos parágrafos seguintes, o autor passa a dizer que “sempre que a classe trabalhadora tentou governar em aliança com setores da burguesia, o programa socialista acabou sendo secundarizado”. O PSOL nem precisou governar, pois abraçou o identitarismo, dentre outros modismos, e o socialismo foi (provavelmente desde sempre) deixado de lado.
Segue uma tentativa de traçar um panorama histórico de derrotas da esquerda motivada por alianças com a burguesia, passando por críticas de Rosa Luxemburgo, Internacional Comunista, o Partido Comunista no Brasil etc.
O panorama deságua no PT que, segundo diz Machado, “a opção pela governabilidade por meio de alianças com partidos burgueses, desde a Carta ao Povo Brasileiro em 2002 até o atual arcabouço fiscal, resultou, e ainda resulta, na renúncia ao programa histórico de reformas estruturais da classe trabalhadora”. Mas o PSOL difere em quê?
Esse partido privilegia as eleições. Por acaso o PSOL tem a ilusão de que poderá implementar o socialismo, ou fazer as “transformações estruturais” por meio de ações parlamentares? Para disfarçar seu reformismo, Machado acaba dizendo que “o partido demonstrou flexibilidade tática para compreender a conjuntura”.
Não é verdade que “diante da crise do capital e da ofensiva dos setores reacionários e do imperialismo para retirar direitos da classe trabalhadora, o PSOL se posicionou na defesa da unidade da esquerda e dos movimentos sociais contra o golpe de 2016, contra a prisão de Lula e pela sua liberdade, bem como na construção de uma frente de esquerda nas ruas e nas eleições contra a extrema direita”.
Como já foi dito acima, o MES apoiou a Lava-jato. Durante o golpe de 2016, o PSOL integrou a frente Povo Sem Medo, que surgiu para dividir e enfraquecer a unificação da esquerda contra o golpe.
Durante as últimas eleições presidenciais, a tal “construção de uma frente de esquerda nas ruas e nas eleições contra a extrema direita” foi uma tentativa desse partido de emplacar nomes como João Doria e Ciro Gomes para a presidência. Ou seja, a mais pura colaboração de classes. A mais completa aliança com a burguesia.
A extrema direita, no caso, foi utilizada como bicho-papão para tentar convencer a base de que era preciso fazer qualquer coisa para barrar Bolsonaro. O senhor Guilherme Boulos chegou a desenterrar o cadáver do movimento pelas eleições diretas no final da ditadura, tentando com isso provar que determinadas alianças são frutíferas. Omitindo o fato de a classe trabalhadora ter sido traída. Não houve eleições diretas. Os dois candidatos, Tancredo e Maluf, foram eleitos pelo colégio eleitoral e ambos eram de confiança do regime.
Vale lembrar que o PSOL esteve durante a campanha presidencial relutou em se unir para apoiar Lula, só fez isso depois de muita enrolação, marcando sua política divisionista.
O governo
Boa parte do texto de Vinicius Machado gira em torno da participação ou não do PSOL no governo. Essa é, de fato, a razão de ser do partido. A entrada de Guilherme Boulos em seus quadros tinha essa clara intenção.
O PT apoiou a candidatura de Boulos para prefeito. Não adianta agora vir chorar dizendo que “o recente anúncio da entrada de Guilherme Boulos no governo Lula aprofunda um debate que já vinha crescendo entre as diferentes alas do PSOL.” E que “o líder do MTST simboliza esse processo de forma emblemática. De dirigente combativo e uma das vozes mais criativas da esquerda radical brasileira, transformou-se num quadro institucional do campo governista, assumindo o papel de porta-voz do lulismo”.
Chamar Boulos de radical é uma piada. Foi ele quem negociou com a Policia Militar que a esquerda deveria dividir com a extrema direita o uso da Avenida Paulista em manifestações. Boulos também, sempre que teve a oportunidade, levou os atos da esquerda para o Largo da Batata, em Pinheiros; uma evidente sabotagem que esvaziou as manifestações.
De que adianta o purismo de agora dizer que “Boulos estará ao lado de figuras representativas da burguesia, como Alckmin, Tebet, Fufuca e cia”. Qual a diferença desses nomes para Ciro Gomes e João Doria e até mesmo do MBL?
Que futuro?
Para Machado, “os próximos anos serão decisivos. A capacidade do partido de se posicionar de forma clara diante dos limites da institucionalidade burguesa poderá determinar o seu futuro enquanto ferramenta útil para a classe trabalhadora”. O problema é que o PSOL não está sendo útil no presente.
O partido está em franca dissolução, perdido em ideologias burguesas que nada têm a ver com os interesses da classe trabalhadora.




