Estados Unidos

Protestos contra Trump ou pró-OTAN?

Liga Internacional dos Trabalhadores - Quarta Internacional sai em defesa da política demagógica do imperialismo em relação ao governo norte-americano

Trump

No artigo Protestos contra Trump reúnem mais de 500 mil nos EUA, a Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI) faz uma defesa explícita da política oficial do imperialismo. A organização, que é representada no Brasil pelo Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), narra que:

“No último sábado, 5 de abril, centenas de milhares de pessoas participaram das manifestações ‘Hands Off!’ (“Tirem as mãos”) em todo os Estados Unidos, expressando oposição às políticas do presidente Donald Trump e de seu assessor Elon Musk. As cifras neste momento são iniciais, e é possível que as cifras das multidões tenham sido de milhões de pessoas. Organizadas por grupos como MoveOn e Indivisible, mais de 1.000 eventos ocorreram nos 50 estados do país.”

É o velho método utilizado pela esquerda pequeno-burguesa toda vez que quer defender uma mobilização pró-imperialista, mas não tem coragem de fazê-lo abertamente. A LIT-QI se limita a falar que teve “centenas de milhares de pessoas”, mas é incapaz de fazer uma análise que diga respeito à luta de classes. Quem de fato está à frente dos protestos? Quais as suas reivindicações? Que enfrentamento as classes sociais nos Estados Unidos têm neste momento e como ele se relaciona com as manifestações?

A LIT-QI não responde a essas perguntas. Afinal, seu objetivo é apenas promover as manifestações, sem entrar no mérito do que elas significam. Façamos, então, a investigação que a LIT-QI omitiu em seu artigo.

As manifestações não tinham palavras de ordem gerais e muito concretas. Os protestos foram chamados em todo o país com a frase “hands off”, algo que poderia ser traduzido como “tire suas mãos”. Essa expressão foi utilizada tanto para contestar a política de Trump em relação a imigrantes (“tire as mãos dos imigrantes”), quanto para contestar sua política em relação à Groenlândia (“tire as mãos da Groenlândia”) e em relação à Ucrânia (“tire as mãos da Ucrânia”). Tratam-se, no mínimo, de manifestações com um conteúdo bastante heterogêneo.

A política de repressão aos imigrantes é uma política tipicamente imperialista. O imperialismo destrói os países atrasados, recruta miseráveis desses países para rebaixar o valor da mão de obra e os trata como animais. Ainda que Trump não tenha mudado nada em relação ao tratamento dado aos imigrantes – é tão ruim quanto era no governo anterior -, é compreensível que uma parcela da esquerda e dos trabalhadores se mobilize em torno desta questão.

Mas o que dizer em relação à Groenlândia? Tudo o que o presidente fez foi dizer, de forma espalhafatosa, que cogitava ocupar aquele pedaço de território que já é, na prática, uma extensão do território norte-americano. É uma política imperialista, mas que, neste caso, não interessa em nada a população norte-americana. Por que haver uma mobilização em torno disso?

O caso da Ucrânia, no entanto, é o que mais chama atenção. A política de Trump para o país do Leste Europeu se choca com a política do imperialismo. Trump quer desmantelar o que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) fez na Ucrânia, favorecendo a Rússia. O próprio presidente norte-americano já ensaiou sair da OTAN. Por que, então, a população norte-americana estaria interessada em se mobilizar para defender o regime nazista de Quieve (capital da Ucrânia), que já custou 500 bilhões de dólares aos cofres públicos dos Estados Unidos?

A manifestação é, portanto, uma amálgama. E o que unificaria essas palavras de ordem tão discrepantes? A própria LIT-QI responde:

“Ativistas exibiam cartazes condenando ataques à democracia, aos direitos civis e a programas públicos como a Seguridade Social e o Medicaid.”

O imperialismo quer apresentar Donald Trump como uma grande ameaça à “democracia”. Esta expressão, inclusive, foi dita pelo próprio ex-presidente Joe Biden. Trump seria especialmente “autoritário” porque estaria “com as mãos” nos imigrantes, na Ucrânia, na Groenlândia.

É uma picaretagem. O fato é que o imperialismo é uma máquina de ingerência política, econômica e, claro, militar sobre todos os países do mundo. No governo de Joe Biden, os Estados Unidos organizaram a guerra contra a Rússia, a guerra contra os palestinos, a tentativa de golpe contra a Venezuela, o assassinato de lideranças árabes e milhares de outros crimes. Por que não foi chamado um protesto de “Biden, tire suas mãos”? Dada a quantidade de denúncias de pedofilia contra o ex-presidente, seria uma palavra de ordem até bastante conveniente…

A LIT-QI, que se diz marxista, trotskista e internacionalista, está, no entanto, saindo em defesa da campanha imperialista contra o governo Trump. Isto é, a política que tem como objetivo encobrir as ações criminosas dos verdadeiros arquitetos da reação global e, ao mesmo tempo, tentar disciplinar Trump em torno desta política criminosa.

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