América Latina

Problema da Bolívia não é ‘divisão interna’, mas golpe de Estado

Tese de que a derrota histórica do MAS seria resultado apenas de “brigas públicas” entre Evo e Arce e uma falsificação

Na última segunda-feira (18), o portal Brasil 247 publicou o artigo “Bolívia: os motivos da derrota da esquerda nas urnas”, assinado pela jornalista Márcia Carmo, no qual se afirma que “a implosão atual do MAS, as disputas internas e públicas acabaram abrindo as portas para a oposição no país vizinho”. A conclusão, apresentada como análise, não passa de pura enrolação que oculta o desenvolvimento desse processo: não se trata de uma simples “implosão” ou de um erro de cálculo de lideranças, mas de uma política de capitulação que começou ainda em 2019.

Evo Morales, eleito legitimamente pela quarta vez consecutiva presidente da Bolívia, foi derrubado por um golpe militar-policial articulado pelo imperialismo através da OEA (Organização dos Estados Americanos), que, após o anúncio de sua vitória com uma margem superior a 10% sobre Carlos Mesa, sugeriu fraude eleitoral publicando prontamente um relatório sobre “irregularidades graves” sem qualquer prova. A falsa denúncia foi amplamente divulgada pela imprensa internacional e pelos Estados Unidos, servindo como justificativa para protestos da extrema-direita e para que os militares pressionassem o presidente boliviano a renunciar e exilar-se do país.

Dessa forma, a então senadora Jeanine Áñez, sem qualquer base legal, autoproclamou-se presidente e assumiu o controle do país. Assim, promoveu imediatamente uma perseguição implacável a opositores, repressão sangrenta contra o povo boliviano — como nos massacres de Sacaba e Senkata — e alinhou-se com os Estados Unidos.

Diante dessa situação, o partido de Evo Morales, o MAS (Movimento ao Socialismo), e os movimentos populares bolivianos mobilizaram-se para denunciar a ditadura no país. Os protestos permanentes na Bolívia levaram o governo Áñez, que buscava perpetuar-se no poder, a convocar novas eleições. Porém, o principal dirigente do MAS, a liderança mais popular do país, cedeu. Morales aceitou a imposição de novas eleições sem a sua candidatura. Essa foi a primeira grande derrota imposta ao movimento popular boliviano, consumada pela capitulação. Enquanto o povo estava disposto a resistir, Evo apostou em negociar uma transição que jamais existiria. Dessa forma, Luis Arce disputou as eleições pelo MAS e se tornou presidente da Bolívia.

É importante recuperar a memória de que a esquerda pequeno-burguesa brasileira defendia a tese de que a vitória de supostas figuras de esquerda — como Luis Arce em 2020 — teria “encerrado o período de golpes e da ascensão da extrema-direita”. A realidade, como advertimos, é que Arce não era um dirigente forjado nas grandes lutas do povo boliviano como Evo Morales e que, inevitavelmente, cederia às pressões de setores da burguesia nacional subserviente ao imperialismo.

Não demorou para que essa previsão se confirmasse. O artigo de Márcia Carmo relata que Álvaro García Linera, ex-vice-presidente de Evo Morales, “responsabilizou o atual presidente Luis Arce pela derrota do MAS nas urnas”, acusando-o de ter impedido a candidatura de Evo. O que não se diz é que isso não foi mero “desentendimento interno”, mas uma política sistemática de perseguição. Arce e seus aliados buscaram expulsar Evo do MAS, abrir processos judiciais e cassar seus direitos políticos, desempenhando exatamente o papel que a direita e o imperialismo exigiam.

O texto do 247 chega a reconhecer que Linera considerou “injusto o impedimento da candidatura de Evo nesta eleição”. Mas a injustiça só foi possível porque Evo novamente capitulou. Diante da decisão judicial que o excluiu, não chamou o povo às ruas a exigir sua candidatura, não denunciou a fraude eleitoral conclamando ao boicote, não mobilizou as massas para levar a luta às últimas consequências contra essa ofensiva.

A tese de que a derrota histórica do MAS seria resultado apenas de “brigas públicas” entre Evo e Arce, como escreve Carmo — “a implosão atual do MAS, as disputas internas e públicas acabaram abrindo as portas para a oposição” —, trata-se de uma falsificação. Ao reduzir a tragédia boliviana a meras divergências de cúpula, a análise publicada pelo 247 oculta a capitulação gigantesca de Evo Morales desde o golpe de 2019 e busca responsabilizar o suposto “cansaço do eleitorado”.

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