Em artigo intitulado O Brasil do futuro e o resto bolsonarista, publicado pelo Brasil 247, Elvino Bohn Gass, deputado federal (PT/RS) e vice-líder do governo Lula no Congresso Nacional, afirma que “a prisão de Bolsonaro e de generais de quatro estrelas” seria “a confirmação do esgotamento de uma estratégia política baseada na ruptura democrática, na desinformação e na corrosão das instituições do Estado”. Trata-se, portanto, do fim de um ciclo, de acordo com o parlamentar.
A primeira coisa a ser feita por quem analisa o fim do ciclo é determinar o início deste ciclo. Afinal, o que caracteriza o ciclo é justamente a sua oposição ao período anterior. O Ciclo da Borracha no Brasil, por exemplo, inicia-se na segunda metade do século XIX, impulsionado pela demanda industrial por látex, e se esgota a partir da década de 1910 pela concorrência internacional das plantações asiáticas. O ciclo napoleônico inicia com o Golpe de 18 de Brumário (1799) e se esgota em 1815, provocado pelas derrotas militares. Assim sendo, fica a pergunta: onde se inicia a “estratégia política baseada na ruptura democrática, na desinformação e na corrosão das instituições do Estado”?
O autor não responde porque a resposta não é conveniente. Este tipo de “estratégia” acompanha toda a história do Estado moderno. Em que momento da história do Brasil não houve um grupo que procurasse se opor a um funcionamento democrático do Estado, visando atender interesses particulares? A República Velha era um regime democrático? O Estado Novo era um regime democrático? A oposição ao varguismo era democrática? A ditadura militar era democrática? As eleições de 1989, 1994 e 1998 foram democráticas? O PSDB, que provocou a explosão popular de 2013, era uma oposição “democrática”?
De uma perspectiva histórica, o bolsonarismo não traz absolutamente nada de novo. O bolsonarismo é um movimento da burguesia — e, como tal, representa uma série de interesses antipopulares. Por isso, o bolsonarismo defende medidas de força, antidemocráticas.
Isso, contudo, não é diferente dos partidos e forças políticas dominantes no País. A rede Globo, o Supremo Tribunal Federal (STF), a cúpula das Forças Armadas, o Ministério Público Federal (MPF), a Polícia Federal — todos atuam no sentido de preservar os interesses dos grandes bancos no Brasil. Sabotam abertamente o desenvolvimento do País e condenam a população à miséria. E, portanto, não têm como ser “democráticos” em nenhuma acepção da palavra. São antidemocráticos porque defendem interesses escusos, e não os interesses da população, e são antidemocráticos porque a única maneira de defender esses interesses é por meio da força.
Visto desse ponto de vista, não existe o tal ciclo apontado pelo autor. O que se pode dizer que existe é uma ofensiva dos poderosos sobre a população pobre deflagrada pela crise econômica de 2008 — e que teria como primeira grande tarefa a derrubada do governo de Dilma Rousseff em 2016. Ainda que o imperialismo domine o Brasil há mais de um século, a ofensiva é uma novidade: ela provocou uma correlação de forças e colocou em marcha um conjunto de ataques.
Esse ciclo, por acaso, foi interrompido com a prisão de Bolsonaro? De forma alguma. Pelo contrário: o fato de que o principal adversário eleitoral do Partido dos Trabalhadores (PT) foi preso pelo mesmo regime político só mostra o avanço do ciclo golpista. Isto é, mostra que o imperialismo possui mais de um recurso para impor uma derrota à população.
Objetivamente, a ideia de que o ciclo de golpes de Estado teria sido encerrado tem como único fim estimular uma colaboração com os golpistas de 2016. Isto é, fazer a população esquecer que vive sob um regime profundamente modificado pela ação de criminosos políticos, associados a crimes internacionais como o genocídio na Faixa de Gaza.
É uma capitulação vergonhosa diante do imperialismo. O deputado covarde, que não se dispõe a lutar contra o imperialismo, pede clemência na esperança de conseguir alguma esmola dos inimigos do povo brasileiro.





