Polêmica

Prisão de Bolsonaro apenas fortalecerá o bolsonarismo

Apesar de o DCO ter demonstrado que a prisão de Bolsonaro pode fortalecer o bolsonarismo, só agora setores direitas das esquerda começam a acordar

Bolonaro

O artigo O fascismo prepara a próxima etapa, de Moisés Mendes, publicado no Brasil247 nesta segunda-feira (1º), a constatação, por vias tortas, de que o bolsonarismo não se concentra na figura de Jair Bolsonaro.

De início, Mendes escreve que começa agora, antes mesmo da condenação de Bolsonaro e de seus comandados do núcleo golpista, a próxima etapa do roteiro que vai sendo ajustado às circunstâncias pelo fascismo”. Na verdade, Bolsonaro já figura como condenado e a “próxima etapa”, já era de se esperar, pois os interesses de classe, a pressão de setores sociais, nunca cessam.

Mendes é obrigado a constatar que pela frente deverá vir “mais fascismo e em estágio mais avançado. Porque se intensifica agora a obra de reconstrução do bolsonarismo sem Bolsonaro”. Apenas não percebe que a reconstrução do bolsonarismo sem Bolsonaro é uma exigência da polarização social que não está superada.

O jornalista afirma que “mesmo que as esquerdas tentem negar, a base política que sustenta essa gente é mais forte do que o lastro político a serviço da democracia. Tem mais representação parlamentar, mais potencial de votos e mais engajamento orgânico”. Ele próprio, no entanto, subestimou o bolsonarismo, sua aposta era a de que a prisão do ex-presidente, a ação do Supremo Tribunal Federal, poderiam barrar uma força social.

Outro erro flagrante de Mendes é tentar opor democracia contra fascismo, como se a ação do Judiciário, que a todo momento passa por cima da Constituição, fosse uma defesa da democracia. Nada mais enganoso. Esse vale-tudo “democrático” tem servido apenas para levar a classe trabalhadora a apoiar e votar em candidatos supostamente progressistas quando, na verdade, são os setores reacionários e antipopulares de sempre.

A parte cômica de Mendes aparece quando diz que “o cenário só não é pior pela bravura de Alexandre de Moraes”. O ministro do STF, extremamente autoritário, não tem nada de bravo, a não ser, claro, quando é para condenar pessoas comuns à cadeia sem o devido processo legal. De resto, só enfrenta Bolsonaro porque recebe apoio da burguesia e do grande capital.

Derrotismo

Moisés Mendes parece um tanto desanimado, escreve que “o fascismo tem perspectiva de poder que a esquerda acha que tem, porque sonega a si mesma a verdade de que só continua viva por causa de Lula”. Ocorre que o bolsonarismo se apoia em sua base social, enquanto a esquerda, incluindo o senhor Mendes, se apoiam na instituição mais reacionária do Estado burguês.

Os entusiastas dos acordos com Alckmin e “setores progressistas”, não podem agora esperar outro resultado. Lula e o PT se afastaram da classe trabalhadora, seu governo é fraco, essa é a consequência inevitável.

É verdade que os bolsonaristas “poderão existir sem Bolsonaro e até fortalecer e renovar retórica e ação”. Foi isso que este Diário veio dizendo há tempos, mas que é ilusão acreditar que a prisão de Bolsonaro, que a esquerda chave de cadeia vive exigindo, vá diminuir a influência. Poderá, na verdade, fortalecer. Lula ficou praticamente dois anos preso e saiu da prisão para a presidência. Donald Trump, nos Estados Unidos, ganhou força com a perseguição judicial. Não vê quem não quer.

Enquanto Bolsonaro tem setores inteiros da classe média e evangélicos em seu apoio, Moisés Mendes lamenta “E nós? Nós temos Lula e Moraes, mas não temos mais a vitalidade da universidade, dos professores, dos estudantes, dos sindicatos e das comunidades organizadas nas periferias”. Moisés Mendes se ilude de que Moraes está ao lado de Lula e da democracia, ainda que a realidade mostre o contrário.

Cegueira

Citando uma entrevista, Mendes diz que Steven Levitsky alertou que “as forças da política formal, de governo ou de representação legislativa, não conseguem enfrentar sozinhas os que conspiram contra a democracia”. O problema é que os conspiradores, os golpistas, como Alexandre de Moraes, estão hoje travestidos de defensores da democracia.

É até natural, talvez um ato falho, que Mendes, que exalta Alexandre de Moraes, recorra ao golpista Miguel Reale Júnior, autor do pedido de impeachment de Dilma Rousseff. Em entrevista à também golpista Folha de S. Paulo, o jurista teria dito que “a anistia é o suporte para o projeto de impunidade do bolsonarismo e da preparação para que o golpismo prepare a sua volta”.

Moisés Mendes precisou de Tarcísio de Freitas para deduzir que ele próprio, e outros da esquerda pequeno-burguesa, erraram ao prever que “depois da derrota na eleição e do fracasso do golpe, uma direita alquebrada, levaria um bom tempo para se recuperar”. Na verdade, erraram antes, ao chamar de golpe o que ocorreu no 8 de janeiro.

Em seu último parágrafo, que termina de forma ambígua e lamentável, Moisés Mendes escreve que “o fascismo não está nem um pouco desconfortável com a condenação de Bolsonaro, porque seus projetos, mesmo com divisões internas, independem da sobrevida ou da morte política do líder. E o melhor talvez seja vê-lo bem morto”.

A esquerda pequeno-burguesa não consegue enxergar a luta de classes, por isso não entende o que é o bolsonarismo. Também não entende que as contradições só podem ser resolvidas com um embate político, não com a prisão desta ou daquela figura, como ficou demonstrado no caso de Lula.

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