O primeiro-ministro da Sérvia, Miloš Vučević, anunciou sua renúncia nesta terça-feira (28), em meio a uma onda de protestos que vem sacudindo o país desde novembro. A queda do premiê ocorre em um momento de forte pressão política e tentativas de desestabilização do governo nacionalista de Aleksandar Vučić, orquestradas pelo imperialismo através do financiamento e incentivo a mobilizações de setores da juventude.
Em um pronunciamento oficial, Vučević afirmou que sua decisão busca reduzir as tensões no país, embora tenha denunciado a natureza externa da crise política. “Posso dizer com certeza que isso é uma ação absolutamente deliberada, organizada de fora, não tenho dúvida disso”, declarou. O prefeito de Novi Sad, Milan Đurić, também apresentou sua renúncia.
Rússia alerta para tentativa de golpe
Diante do agravamento da situação, o governo russo alertou contra os riscos de “caos” no país. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia Maria Zakharova, enfatizou a importância de evitar a instrumentalização dos manifestantes para promover desordem. “É extremamente importante que os manifestantes demonstrem razão e não sigam aqueles que manipulam emoções. O caos deve ser evitado na Sérvia”, afirmou Zakharova.
A diplomacia russa destacou que o governo sérvio tem demonstrado abertura para o diálogo e tomado medidas para responder às críticas, reforçando a necessidade de preservar a soberania e a estabilidade do país diante das investidas externas.
As manifestações e sua manipulação pelo imperialismo
Os protestos têm sido apresentados pela imprensa ocidental como um movimento espontâneo da juventude contra um governo corrupto. No entanto, a realidade mostra um cenário muito mais complexo.
A mobilização começou após o desabamento de uma estrutura em uma estação ferroviária em Novi Sad, que deixou 15 mortos. Rapidamente, a insatisfação foi canalizada para um movimento de pressão contra o governo de Vučić, com estudantes ocupando ruas e universidades, bloqueando vias e se recusando a negociar soluções concretas.
Além disso, há uma clara articulação de setores da oposição política tradicional, que buscam instrumentalizar o movimento estudantil para ampliar a crise institucional. A presença de organizações financiadas por entidades estrangeiras nos protestos reforça a percepção dos russos, de que a desestabilização do governo não ocorre de forma espontânea, mas para pressionar o governo e impor uma política alinhada aos interesses imperialistas.
O jornal inglês The Guardian, um dos principais veículos da imprensa imperialista, tem exaltado os protestos como um levante histórico da juventude contra um regime autoritário, comparando a situação com os levantes que derrubaram Slobodan Milošević em 2000. Como já ocorreu em outros países, a imprensa dos monopólios apresenta os estudantes como heróis e esconde a instrumentalização política do movimento por interesses estrangeiros.
O golpe em andamento
As características da crise política na Sérvia seguem um padrão já observado em outros países onde o imperialismo atuou para derrubar governos nacionalistas. Movimentos supostamente espontâneos de jovens são incentivados por ONGs e instituições financiadas por países desenvolvidos, desestabilizando governos que se recusam a alinhar-se plenamente aos ditames da União Europeia e dos Estados Unidos.
A Sérvia, por sua posição estratégica nos Bálcãs e por sua relação histórica com a Rússia, é um alvo prioritário das potências imperialistas, que buscam ampliar sua influência na região. A pressão externa, combinada com a mobilização interna, visa enfraquecer qualquer governo que não esteja completamente subordinado aos interesses do imperialismo.
Em 2024, um processo semelhante ocorreu em Bangladesh, onde protestos estudantis foram utilizados para derrubar um governo nacionalista e impor um banqueiro como líder do país. O mesmo roteiro está sendo aplicado na Sérvia, onde o objetivo é minar um governo que, com todas as suas limitações, se coloca em posição de resistência às imposições dos EUA e da Europa.
A juventude sérvia, em vez de servir de massa de manobra para o imperialismo, deveria canalizar sua energia para a luta contra as ingerências externas que buscam transformar a Sérvia em mais um satélite dos interesses norte-americanos e europeus. O golpe em curso na Sérvia não se trata de um movimento pela “democracia” ou contra a corrupção, mas sim de uma estratégia para subjugar o país e alinhar sua política às potências imperialistas.
A necessidade de resistência contra o avanço imperialista
Diante dessa conjuntura, torna-se fundamental que os setores progressistas e nacionalistas da Sérvia organizem uma resposta enérgica contra as tentativas de golpe. A história recente mostra que as chamadas “revoluções coloridas” patrocinadas pelo imperialismo não trouxeram avanços para os países afetados, mas sim instabilidade política, aumento da dependência econômica e retrocessos na soberania nacional.
A juventude sérvia precisa compreender que sua verdadeira luta não deve ser contra um governo nacionalista, mas sim contra aqueles que desejam transformar o país em um mero peão da política imperialista, a exemplo do que fazem. Somente com uma organização independente e uma visão clara dos interesses em jogo será possível evitar que a Sérvia se torne mais uma vítima das operações de mudança de regime patrocinadas pelo imperialismo.