Na última sexta-feira (21), Laísa Angélica Motta Silva, uma jovem de 23 anos de Bauru, interior de São Paulo, faleceu vítima de dengue em um caso que expôs as fragilidades do sistema de saúde local. A família da operadora de telesserviços, que sonhava em ser mãe, denuncia que a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Bela Vista negligenciou seu quadro, informando repetidamente que os sintomas eram normais enquanto ela aguardava por um leito. A morte, causada por complicações como choque hipovolêmico e hepatite aguda, ocorreu às 16h17 no Hospital das Clínicas, após uma espera de mais de 30 horas por internação.
Laísa começou a sentir os primeiros sinais da doença em 16 de março, com febre e mal-estar. Quatro dias depois, na quarta-feira (20), seu estado piorou drasticamente, apresentando sangramentos vaginais e convulsões. Levada à UPA Bela Vista, enfrentou um cenário de lotação, sem cadeiras de rodas disponíveis, conforme relatou sua mãe, Silvana Motta, ao portal JCNet: “a UPA estava lotada e não tinha sequer cadeira de rodas para ela sentar”. Apesar dos sintomas graves, a jovem recebeu alta temporária e, ao retornar para os resultados dos exames, foi constatada uma contagem de apenas 40 mil plaquetas por microlitro de sangue – nível crítico, bem abaixo do normal, que varia entre 150 mil e 450 mil.
A família relata que, mesmo com vômitos, dificuldades respiratórias e sangramentos na boca, a UPA demorou a agir. O tratamento com soro intravenoso só começou às 5h40 da sexta-feira (21), e a reavaliação médica ocorreu às 11h. Silvana destacou: “o pedido por uma vaga deveria ter sido feito imediatamente após o episódio das convulsões”. Na madrugada, Laísa foi intubada na sala vermelha da UPA e, às 5h do dia 22, transferida em estado crítico ao Hospital das Clínicas, sofrendo parada cardiorrespiratória no trajeto. Apesar da reanimação, os danos hepáticos e renais foram irreversíveis.
A Secretaria Municipal de Saúde lamentou o ocorrido e abriu investigação, enquanto o Hospital das Clínicas informou que o leito foi liberado às 3h26 do dia da transferência. A secretaria estadual da saúde esclareceu que a Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross) gerencia a alocação de vagas, mas hospitais locais recusaram a internação por não serem especializados em dengue. A mãe de Laísa afirmou: “apesar de ser impossível reverter a situação trágica, espero que medidas sejam tomadas para evitar que outras famílias passem pela mesma dor”.
O caso reflete a precariedade da infraestrutura de saúde em Bauru. Dados do Ministério da Saúde, atualizados em 25 de março, mostram que o estado de São Paulo registra mais de 300 mil casos de dengue em 2025, com 87 mortes confirmadas até o momento. Em Bauru, a incidência supera 600 casos por 100 mil habitantes, segundo a prefeitura, mas a rede pública não acompanha a demanda.
A tragédia de Laísa soma-se a outras denúncias de demora no atendimento, como a de um idoso que aguardou 48 horas por uma vaga em fevereiro, conforme noticiado pelo g1. Nem o prefeito Suéllen Rosim (PSD) nem o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) anunciaram medidas emergenciais para a crise. A situação caótica é agravada pela rapina de recursos públicos que beneficia banqueiros, enquanto a população fica desalentada.



