Governo Lula

‘Giro à esquerda’ ao lado de Tebet e de Xandão?

Esquerda Online diz que quer uma política mais à esquerda, mas todas as críticas fazem referência a ir mais fundo na política de frente ampla

No dia 4 de abril, foi publicada uma coluna no portal Esquerda Online intitulada Por um giro à esquerda do governo Lula, na qual são colocadas algumas críticas ao governo e a necessidade de que este vá mais à esquerda.

Diante do perigo que se avizinha, é preciso uma virada de rumo. A queda da popularidade de Lula significa que a extrema direita se fortalece à disputa da Presidência da República em 2026. O pior pode acontecer, caso não exista mudança de estratégia. Mesmo com a possível prisão de Bolsonaro, há outros nomes competitivos na extrema direita. As elites empresariais não escondem sua simpatia por Tarcísio de Freitas, o fascista de “garfo e faca”.”

Ou seja, o único perigo viria da extrema direita, enquanto que a direita tradicional não apresenta perigo algum, na visão do autor. Além disso, o texto já começa a deixar claro que há a necessidade de prisão de Bolsonaro, ainda que isso não seja suficiente.

Mais para a frente do texto, vemos que:

Além disso, a extrema direita promove uma campanha diária de ataques e mentiras contra Lula. Ela tem imensa penetração popular, especialmente através das redes sociais controladas pelas bigtechs. A gigantesca repercussão do caso Pix comprova essa avaliação.”.

Para quem escreveu o texto, o problema do capitalismo começou com as chamadas bigtechs. Antes, o mundo era um lugar bonito, em que a verdade reinava, mas, desde que a internet se popularizou, as mentiras começaram a correr soltas sem controle algum, o que prejudicaria a esquerda.

O discurso possui um verniz esquerdista, mas é conservador. Segundo a matéria, antes da Internet, enquanto a opinião da população brasileira dependia completamente da Globo, do Estadão e da Folha, tudo estava bem. Agora que os meios de comunicação evoluíram e a população pode sair da esfera de controle da imprensa tradicional da burguesia, que segue a imprensa norte-americana, é que o problema aparece.

O que eles chamam de “mentiras contra Lula” nada mais é do que a opinião da população que se coloca contra o que é ditado pela direita dentro do governo. A política de vigilância do Pix não é própria de Lula, assim como as críticas a essa política não são exclusivas da extrema direita. No fim, trata-se de uma defesa da frente ampla.

Mais adiante, vemos o seguinte:

Outro exemplo é a culpabilização do governo federal pelos problemas de segurança pública, como roubos de celulares e assassinatos. Essa acusação está “colando” na massa. Embora a responsabilidade pela insegurança pública seja fundamentalmente dos governos estaduais, que controlam as polícias.

Aqui o texto nem mesmo esconde que compra completamente as ideias da burguesia. Se a “responsabilidade” da segurança pública é dos governos estaduais e o texto do Esquerda Online admite que algo tem que ser feito por conta do aumento da criminalidade, o texto, portanto, credita à ineficiência da polícia o problema da segurança pública? Para isentar o governo das críticas à segurança, o texto defende que os estados reprimam ainda mais a população pobre pedindo por uma polícia mais eficiente?

O texto, então, passa a comentar a política de Donald Trump:

O contexto internacional também impõe sérios desafios e perigos. O governo neofascista dos EUA promove a guerra tarifária global. Ataca implacavelmente os imigrantes e a democracia. Patrocina a extrema direita pelo mundo. E aprofunda a devastação ambiental e os conflitos geopolíticos. A família Bolsonaro conta com a interferência de Trump no Brasil em seu benefício.”.

Ou seja, para o Esquerda Online, o grande problema da humanidade é Donald Trump. O governo norte-americano anterior, que organizou a guerra da Ucrânia, o genocídio em Gaza, o golpe na Síria e os bombardeios no Iêmen e no Líbano, para falar só alguns dos crimes cometidos, não tem problema algum. Somente Donald Trump é perigoso.

Além disso, a crítica chega ao ponto de chamar Trump de fascista por conta das taxações, que são um ataque à política neoliberal. Sendo assim, o artigo da Esquerda Online defende a política neoliberal pelo único motivo de que quem a ataca é Trump.

O texto então passa a apelar para  mais repressão, pedindo para que os bolsonaristas presos no 8 de janeiro continuem presos:

Outra batalha fundamental é a continuidade da campanha “Sem Anistia, prisão para Bolsonaro!”. O desfecho do processo, que pode prender Bolsonaro e o comando golpista, é decisivo para o futuro da democracia no país. A esquerda não deve contar apenas com a alta probabilidade do STF condenar os réus. É necessário luta política e ideológica e mobilização nas ruas.

Na sequência, sem perceber, o redator do texto acaba por declarar que o julgamento contra os bolsonaristas não tem nada de legal, mas, se trata de uma perseguição política:

“Não está em jogo apenas o veredicto do tribunal superior, mas sobretudo a disputa pela maioria social sobre o tema. Isto é, Bolsonaro será visto pela maioria da população como injustiçado ou culpado? Nesse sentido, foi importante o ato em SP, dia 31 de março, que levou milhares de pessoas às ruas.”.

Ou seja, o artigo propõe sair às ruas para pedir que os presos políticos não sejam anistiados, com o simples objetivo de tentar fazer a população acreditar que os bolsonaristas são criminosos que merecem a cadeia, mesmo que não o sejam, mesmo que sejam declarados inocentes. O objetivo é puramente eleitoral e se assemelha às eternas campanhas da imprensa tradicional da burguesia contra o próprio PT.

Por fim, caro leitor, leia os últimos parágrafos:

Diante das tarefas colocadas, consideramos que o PSOL deve seguir na sua atual localização política. O partido é útil à luta contra a extrema direita fazendo o combate nas ruas e no Congresso. E não ocupando cargos e ministérios no Executivo, o que limitaria sua autonomia política, inclusive para criticar o governo quando necessário.

Érika Hilton está ajudando a levar a bandeira contra a escala 6×1 a milhões de trabalhadores. Boulos ocupa um lugar central na luta contra a anistia aos golpistas. Os parlamentares do partido são reconhecidos pelo enfrentamento prioritário ao bolsonarismo, por defender o governo dos ataques da extrema direita e apoiar todas medidas progressivas de Lula. Mas o partido também cumpre um papel positivo ao criticar e votar contra projetos do governo que vão contra a classe trabalhadora e necessidades sociais, como foi no caso do ajuste fiscal e do arcabouço.”

Esses parágrafos que tentam engrandecer o PSOL, Érika Hilton e Boulos, revelam detalhes interessantes. Segundo o artigo, que até agora não vê problema nenhum em se aliar ao STF e à direita tradicional que participa da frente ampla, o problema estaria justamente em que o PSOL participa do governo do PT. Ou seja, não há problema algum em estar ao lado da direita, mas, do PT, sim.

Apesar do vocabulário esquerdista, as “críticas” do texto não querem que o governo de Lula vá mais à esquerda. É uma tentativa de aprofundar a política de frente ampla, como se o problema do governo fosse não ser o suficientemente radical naquilo que a frente ampla quer. Como a política da frente ampla é uma política do imperialismo, o que o texto busca, nada mais é do que aprofundar a dominação imperialista sobre o Brasil.

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