Estados Unidos

Por que os identitários ficaram calados durante o governo Biden?

A esquerda identitária diz lutar contra Trump, mas o que mais faz é aumentar sua popularidade, bem como da extrema direita, que surfa na impopularidade dessa ideologia

Pilgrim

O MRT (Movimento Revolucionário de Trabalhadores) publicou em seu sítio nesta quarta-feira (29) uma matéria sob o extenso título 29J: A classe trabalhadora, com as pessoas trans na linha de frente, precisa enfrentar Trump, seus capachos e o capitalismo que os sustenta. Mais um passo desse setor da esquerda dentro do identitarismo, uma ideologia de direita que surgiu dentro das universidades americanas.

Os identitários estão em uma cruzada contra Trump, mas não moveram um dedo contra Joe Biden, o que era de se esperar, pois o identitarismo é linha auxilia do Partido Democrata americano.

Soa estranho que, no título prometam uma briga contra o capitalismo, pois os identitários lutam por colocar pessoas em “posições de comando”, lutam por colocar uma mulher negra no Supremo Tribunal Federal, uma instituição ultrarreacionária do Estado; apoiaram Kamala Harris para a presidência dos Estados Unidos sob a desculpa de que se tratava de uma mulher negra – embora não seja exatamente o caso.

Para apoiar Harris, e anteriormente Biden, esse setor da esquerda teve que omitir o passado dessas duas figuras nefastas da política norte-americana, responsáveis pelo encarceramento em massa de pessoas pobres, especialmente os negros.

No Brasil, após a morte de um homem negro por seguranças em um supermercado em 2020, e com a repercussão que o caso teve, uma loja de departamentos famosa abriu algumas vagas para gerentes negros, o que foi festejado pelos identitários. Onde está a luta contra o capitalismo?

O capitalismo vem, desde sempre, oprimindo a classe trabalhadora e, obviamente, os setores minoritários da sociedade, portanto não seria necessário esperar a posse de Donald Trump para travar uma luta. Sendo assim, não faz muito sentido o trecho do olho da matéria que diz “é urgente uma alternativa anticapitalista que enfrente a violência transfóbica e abra caminho para a luta por uma sociedade sem opressão e exploração, por um futuro comunista”.

No texto, argumentam que “o segundo mandato de Donald Trump nos Estados Unidos apareceu como um marco na escalada da extrema-direita internacional contra os trabalhadores e setores oprimidos, um fenômeno que é, ao mesmo tempo, fruto da crise de hegemonia nos EUA e seu catalisador”. Apenas se esquecem que essa escalada encontra eco na sociedade que reage contra o modo como os identitários tentam forçar suas reivindicações.

Trump vem ganhando popularidade capitalizando uma insatisfação que existe na sociedade, que em grande medida é conservadora, e não pode ser enfrentada com a força. Em vez de analisar essa realidade, os identitários tentam atacar o atual presidente em uma área que apenas o fortalece.

Vejamos: no texto alegam que “A política anti-trans de Trump não é uma novidade, em sua primeira eleição em 2016, a transfobia já era uma marca de seu discurso”, e que “esse asqueroso projeto anti-trans retorna intensificado em 2024, com 218 milhões de dólares em propagandas reacionárias contra as trans (o maior gasto de sua campanha), com promessas de Trump de proibir que crianças possam ter acesso a quaisquer procedimentos de afirmação de gênero e perseguir os médicos que os disponibilizam”.

Quem vai aceitar de bom grado que crianças sejam expostas a “procedimentos de afirmação de gênero”? As crianças não têm condições de decidir sobre esses procedimentos, e, mesmo que seus pais apoiem, não se deve mesmo autorizar tais práticas. Trump, ao se opor, recebe mais apoio, coisa que os identitários se recusam a enxergar.

Fortalecimento do Estado

Uma das características da esquerda identitária é sua preocupação com a ordem institucional, por isso sempre falam em leis disso e leis daquilo. Como, por exemplo, quando afirmam que “essa ofensiva trumpista é o coroamento de uma política transfóbica levantada pela extrema-direita ao redor do mundo: dos ataques da direita à Lei trans em Madri”. Ou quando reclamam da “retirada do feminicídio do código penal”.

Um assassinato é um assassinato, mas os identitários querem agravantes quando o crime for cometido contra mulheres, minorias sexuais, ou por racismo. Querem penas duríssimas para quem cometer “injúria racial”. No Brasil a pena pode chegar a cinco anos de reclusão. O que torna o ambiente completamente repressivo.

Essa esquerda, no entanto, não está, nem de longe, protegendo as minorias, mas aumentando o poder do Estado, que é burguês. Tanto é verdade que os crimes contra mulheres têm aumentado, um claro sinal da falência dessa política reacionária que tenta sanar os problemas sociais com a cadeia.

O Esquerda Diário diz que “Trump e a extrema-direita internacional vão ter que se enfrentar com uma classe trabalhadora que vem mostrando sinais de recomposição da sua subjetividade”. Até onde se sabe, o que move a classes são seus interesses objetivos, não os subjetivos. É verdade que, pelo mundo, a juventude fez grandes manifestações em “apoio ao povo palestino”. Mas também é verdade que os identitários estão ao lado do imperialismo, e contra os palestinos, quando não apoiam a resistência armada por serem muçulmanos e supostamente não respeitarem as mulheres e as minorias sexuais.

Foi assim na derrota da OTAN no Afeganistão, quando a esquerda identitária ficou contra os Talibãs, e a favor do imperialismo, que jogou as mulheres afegãs na mais completa miséria em vinte anos de ocupação e massacres.

O texto diz que, nas últimas eleições “quem se fortaleceu na grande maioria dos municípios foram a direita e a extrema-direita, elegendo parlamentares reacionários com centenas de milhares de votos, como o Lucas Pavanato em SP, que se comprometeu a liderar um forte ataque às pessoas LGBTs”. E por que isso é assim? É preciso tirar conclusões.

O identitarismo é uma política de direita que encontra grande resistência dentro da sociedade. Seus métodos de ação são sempre com base na tentativa de impor comportamentos às pessoas, como a utilização de banheiros, o uso de linguagem neutra.

As táticas dos identitários estão fortalecendo o trumpismo e jogando água no moinho da extrema direita. Os setores da esquerda que insistem nessa ideologia burguesa vão afundar com esse movimento que a própria direita, seu principal financiador, já está abandonando.

Empresas como a Disney, que investiu milhões em produções identitárias, já anunciaram que vão abandonar essa tendência que lhes trouxe prejuízo. Pelo visto, a administração Trump vai retirar dinheiro das ONGs, o principal sustento do identitarismo. Talvez esteja aí o verdadeiro motivo da oposição da esquerda ongueira com o governo recém-eleito dos Estados Unidos.

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