Cinema

Por que o Óscar premiou obra palestina em 2025?

Filme "Sem chão" é co-dirigido por um israelense sionista e produzido por noruegueses

Neste domingo (2), a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos, responsável pelos Prêmios da Academia, o famoso Óscar, escolheu como melhor documentário o filme Sem Chão (No Other Land, em inglês), dirigido pelo palestino Basel Adra. Essa é a primeira vez que o Óscar premia alguém que considera nascido na Palestina. Em duas ocasiões anteriores, em 2006 e 2014, o palestino Hany Abu-Assad foi indicado, mas a Academia o classificou como nascido em “territórios palestinos”, mantendo a tradição sionista de negar ao povo palestino o direito de constituir um Estado próprio.

Não há como negar a relação direta entre uma instituição marcada pela hipocrisia e pela politicagem, como a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, e os acontecimentos recentes na Palestina. Premiar um diretor palestino após 15 meses de guerra faz parte do espetáculo de cinismo do próprio Óscar, conhecido por boicotar os inimigos do grande capital, incluindo o célebre Charles Chaplin. A premiação é uma forma de a indústria cinematográfica se desculpar com seu público, como se dissesse: “Não nos culpe pelo horror na Faixa de Gaza, pois não apoiamos isso.”

A verdade, no entanto, é que essa mesma indústria cinematográfica apoia esse horror. Prova disso é que a plataforma de streaming Netflix, no momento em que “Israel” tentava levar adiante uma contraofensiva contra a Resistência Palestina, assassinando importantes lideranças como Ismail Hanié e Saied Hassan Nasseralá, retirou de seu catálogo todos os filmes palestinos. Essa mesma indústria é historicamente conhecida por retratar os árabes como um povo bárbaro e ameaçador, além de endossar a campanha de vitimização dos sionistas baseada no holocausto judeu.

O Óscar foi obrigado a premiar um diretor palestino, cujo filme denuncia a limpeza étnica de seu povo, porque ignorá-lo seria, nas atuais circunstâncias, impossível. A mobilização em defesa da Resistência Palestina tornou-se tão grandiosa em todo o mundo que a propaganda descarada em defesa dos crimes de guerra de “Israel” levaria a premiação a perder ainda mais sua popularidade. Afinal, o Óscar se encontra em decadência tão grande que, em 2022, o principal assunto não foi a seleção de filmes, mas o bofetão que o ator Will Smith deu em um dos apresentadores da cerimônia.

Embora tenha premiado Basel Adra, o objetivo do imperialismo é a demagogia, e não a defesa dos palestinos. A prova disso é que o filme só foi premiado porque não se trata de uma produção palestina integralmente independente, mas de uma obra controlada pelo próprio sionismo.

Basel Adra expressa, de fato, a denúncia do que é o sionismo. Palestino, ele luta contra a expulsão em massa dos moradores de sua comunidade, Masafer Yatta, localizada no sul da Cisjordânia. Contudo, Adra não foi o único premiado.

Para que o filme se tornasse “palatável” para os demagogos do Óscar, era necessário que houvesse israelenses envolvidos na produção. Por isso, a obra é apresentada como resultado do esforço de quatro pessoas: Basel Adra, o também palestino Hamdan Ballal e os israelenses Yuval Abraham e Rachel Szor. Com isso, a produção tem sido classificada como “palestino-israelense”, e não simplesmente palestina. Uma composição perfeita, já que a demagogia oficial do imperialismo sobre a questão palestina consiste na ideia impossível de uma convivência pacífica entre palestinos e israelenses sob a constituição de dois Estados.

A participação dos israelenses na obra, no entanto, vai além da propaganda implícita da “solução de dois Estados”. Yuval Abraham, apresentado como “co-diretor”, é um notório sionista, um inimigo declarado da Resistência Palestina. Durante os 15 meses de guerra, ele espalhou reiteradamente as mentiras sionistas sobre supostas atrocidades cometidas pelo Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), incluindo a farsa de que teria estuprado israelenses. Abraham também afirmou que o Hamas deveria ser destruído e classificou o grupo como “supremacistas islâmicos” que querem subjugar e matar todos os judeus.

Apresentado também como “jornalista”, Abraham trabalha para a revista sionista +972, cuja cofundadora, Lisa Goldman, mentiu ao afirmar que viu pessoalmente fotos inexistentes de bebês decapitados pelo Hamas. Em seu discurso após a premiação do Óscar, Abraham declarou: “Nós fizemos este filme, palestinos e israelenses, porque, juntas, nossas vozes são mais fortes”, enfatizando a campanha pela “solução de dois Estados”. E concluiu: “Nós vemos um no outro, a destruição de Gaza e de seu povo, que deve cessar, e os reféns israelenses, tomados brutalmente no crime de 7 de outubro, que devem ser libertados.”

A comparação das vítimas palestinas com qualquer ação realizada pelo Hamas em 7 de outubro já é criminosa em si, pois equivale a comparar a violência do opressor com a eventual violência do oprimido. O caso dos “reféns” – isto é, prisioneiros de guerra – é ainda mais grotesco: enquanto “Israel” mantém mais de 12 mil prisioneiros palestinos, torturados e passando fome, o Hamas detém apenas algumas centenas. Além disso, o Hamas já se comprometeu a libertar seus prisioneiros conforme o acordo de cessar-fogo vigente. A fala de Abraham, portanto, não passa de pura propaganda contra a Resistência.

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