O número de pessoas sem-teto no Brasil registrou um aumento significativo de aproximadamente 30% entre 2023 e 2024. Em dezembro de 2023, cerca de 800.000 pessoas viviam em condições precárias nas ruas, e esse número subiu para 1.040.000 no final de 2024, conforme revela a pesquisa mais recente divulgada pelo Instituto Nacional de Estudos Sociais e Políticas Públicas (INESP). Esse aumento reflete um cenário preocupante que agrava a situação de desigualdade social no país, especialmente entre as populações mais vulneráveis.
O levantamento, realizado com base nos dados do Cadastro Único de Programas Sociais (CadÚnico), que identifica as famílias de baixa renda e as populações mais expostas a condições adversas, aponta que a quantidade de pessoas sem-teto aumentou drasticamente nos últimos anos. O CadÚnico, utilizado para o direcionamento de benefícios como o Bolsa Família e o Auxílio Brasil, serve como um termômetro das populações em maior risco social.
A região Nordeste concentra a maior parte dos flagelados no País, com cerca de 40% do total, seguido pela região Norte, com 25%. O estado da Bahia, em particular, se destaca, com um aumento de 40% no número de cidadãos dormindo ao relento, de 160.000 para 224.000, refletindo as dificuldades econômicas enfrentadas pelas famílias da região.
Segundo o coordenador do INESP João Carlos Silva, o aumento da população indigente pode ser atribuído à intensificação das desigualdades econômicas, com o agravamento da crise no mercado de trabalho e a falta de políticas públicas mais eficazes voltadas para essas pessoas. “Embora o CadÚnico tenha fortalecido a identificação desses moradores, ainda observamos que a ausência de políticas públicas abrangentes em áreas como educação, saúde e assistência social tem contribuído para o aumento desse número”, afirmou Silva.
O levantamento também revelou que cerca de 60% dos flagelados não têm acesso regular à educação, e uma porcentagem alarmante de 15% está em situação de abandono escolar. Além disso, muitos enfrentam sérias dificuldades no acesso a serviços de saúde e alimentação, o que agrava ainda mais sua condição de indigência.
Em entrevista, a pedagoga Mariana Alves que trabalha com os sem-teto em São Paulo, destacou que o número crescente de pessoas nessas condições reflete a falha das políticas no enfrentamento das desigualdades. “A falta de acesso a serviços essenciais, como escolas e creches, é uma das principais causas dessa realidade. Se houvesse maior investimento em programas de acolhimento e inclusão social, a situação poderia ser diferente”, afirmou.
A Secretaria de Assistência Social de São Paulo informou que o governo estadual tem realizado investimentos para amenizar essa situação e que em 2024, aproximadamente R$180 milhões foram destinados a programas de apoio aos indigentes, incluindo a implementação de centros de acolhimento e a ampliação de vagas em escolas públicas. Contudo, especialistas apontam que ainda há um longo caminho a percorrer para que as políticas de moradia possam atender de maneira eficaz essa crescente demanda.
Esse aumento no número de moradores de rua no Brasil está diretamente ligado aos efeitos do golpe de 2016 e à ofensiva neoliberal, que tem sido imposta ao país desde então. A implementação de políticas de austeridade, o corte de gastos em áreas essenciais como saúde, educação e assistência social, e a desestruturação dos programas de proteção social têm contribuído para o aprofundamento da pobreza de grande parte da população.
A falta de investimento em políticas que tragam desenvolvimento econômico, empregos e aumentos salariais, deixaram milhares de brasileiros à mercê da marginalização social, com o aumento de pessoas ao relento. Além disso, uma solução real para esse problema exige um fortalecimento nas redes de proteção social dos setores atingidos pela carestia e que não dispõem de meios de custear as crescentes despesas com moradia, uma necessidade urgente diante da realidade de uma expansão tão grande da população sem-teto.