Cinema

Politicagem do Óscar premia campanha da rede Globo por 3ª via

Filme de Walter é peça de propaganda imperialista contra o bolsonarismo

Sem grandes surpresas, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos, responsável pelos Prêmios de Academia, o famoso Óscar, escolheu como melhor filme estrangeiro do ano o brasileiro Ainda estou aqui, de Walter Salles. O anúncio ocorreu na noite desse domingo (2), durante a 97ª edição do evento mais badalado do cinema internacional.

Ainda que se apresente como uma sessão de premiação de excelência da sétima arte, o Óscar é conhecido por ser um espetáculo de politicagem. Sediado em Los Angeles, o evento, além de premiar obras que cumpram algum papel político específico, também é marcado por horas e horas de discursos, piadas e encenações a serviço daqueles que organizam os eventos.

A politicagem do Óscar não é por acaso. Trata-se de um evento organizado pela grande indústria cinematográfica norte-americana. Isto é, por um monopólio, que está diretamente associado a outras indústrias, como a indústria bélica, aos grandes bancos e aos serviços de inteligência de norte-americanos. Se o cinema de Hollywood é um grande instrumento de propaganda do imperialismo, a sua cerimônia de premiação não seria diferente.

Ao longo de toda a sua história, o Óscar foi marcado pelo protesto daqueles que denunciaram o boicote da indústria cinematográfica a grandes obras que desafiavam os interesses dos grandes monopólios. Stanley Kubrick, um dos maiores diretores de cinema de todos os tempos, nunca foi contemplado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Entre os motivos, estava a crítica do diretor à Guerra do Vietnã no filme Nascido para matar. Coisa parecida aconteceu com o célebre Charles Chaplin, que chegou até a ser forçado ao exílio por causa de suas opiniões “subversivas”. Chaplin só foi contemplado com o Óscar no final da carreira, aos 82 anos, pelo “conjunto da obra” – um expediente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas para tentar contornar a sua impopularidade.

Ao longo de toda a sua existência, o Óscar jamais premiou um filme brasileiro. Eis que, no entanto, enfim isso acontece, e com um filme que é inegavelmente uma peça de propaganda política.

Tanto é assim que a indicação de Ainda estou aqui ao Óscar causou uma grande disputa entre setores identificados com a esquerda brasileira e o bolsonarismo. O presidente Lula, em seu discurso no dia 8 de janeiro de 2024, citou o filme, relacionando-o a uma suposta luta contra uma suposta tentativa de golpe de Estado. Apoiadores seus que escrevem para o portal Brasil 247 seguiram o mesmo caminho, relacionando o filme à defesa da “democracia”. Até organizações de esquerda que não estão ligadas diretamente ao governo federal, como a Unidade Popular pelo Socialismo (UP), o Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT) e o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), também elogiaram o filme e destacaram sua suposta importância para a suposta luta contra supostos golpistas.

Do lado do bolsonarismo, a declaração mais relevante foi a do próprio ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que, em entrevista ao jornalista Léo Dias, desdenhou a obra, insinuando que ela não aborda uma suposta relação entre o ex-deputado federal Rubens Paiva e o guerrilheiro Carlos Lamarca, e afirmou:

“A mensagem ali é política. Ela [a atriz principal, Fernanda Torres] falou, por exemplo, que, no meu governo, não faria aquele filme. Não faria por quê?”

Embora o filme seja uma peça de propaganda, ele não é nem de esquerda, nem bolsonarista. Ele é um produto do único monopólio do cinema brasileiro: a Globo Filmes. Isto é, uma peça de propaganda do conglomerado de imprensa conhecido por representar os interesses do grande capital no Brasil. Seu diretor, por sua vez, é o banqueiro Walter Salles, um dos donos do Banco Itaú, banco este também totalmente dominado pelo grande capital.

Fica, portanto, a pergunta: qual é a política dos patrões da rede Globo e de Walter Salles para o Brasil? Qual é a política dos financiadores do Óscar para o Brasil? É a política de tentar impedir – ou, ao menos, controlar – a participação das principais lideranças populares no regime político. Isto é, de procurar afastar a influência de Jair Bolsonaro e de Lula do para, assim, melhor dominar um regime em profunda crise.

A premiação do Óscar vem poucos dias após Bolsonaro ser acusado formalmente por “golpe de Estado”. A obra, assim, caiu como uma luva na campanha contra os “golpistas” criados pela fantasia do procurador da República, Paulo Gonet.

É preciso também lembrar que os diretores de Ainda estou aqui não morrem de amores pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Os dois atores principais, Selton Mello e Fernanda Torres, apoiaram o golpe de 2016 contra a presidente Dilma Rousseff. A rede Globo e Walter Salles não apenas apoiaram, mais impulsionaram a campanha golpista.

O filme pode até ter sensibilizado alguém que se oponha aos crimes da ditadura militar de 1964-1985 – que, diga-se de passagem, foi apoiada pela própria Globo. No entanto, o seu objetivo nada tem a ver com uma luta contra torturadores ou contra a extrema direita. Seu objetivo é fomentar uma campanha histérica contra os “golpistas” – isto é, os bolsonaristas – e apresentar a direita tradicional, a “terceira via” representada pela Globo, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pela Polícia Federal, como grandes heróis da nação.

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