Uma forte tempestade atingiu Cuiabá na tarde e noite da última terça-feira (8), deixando um rastro de destruição na capital mato-grossense, que completava 306 anos de fundação na data. Alagamentos tomaram ruas e avenidas, invadiram residências, comércios e prédios públicos, danificaram veículos e colocaram diversos bairros em alerta.
Na manhã da quarta-feira (9), os moradores ainda contabilizavam os prejuízos, enquanto a Defesa Civil monitorava áreas críticas. Não houve registro de mortes, mas os danos materiais foram extensos.
Entre os pontos mais afetados estão a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Leblon, onde a correnteza derrubou um muro e inundou o interior, prejudicando os serviços médicos, e o Shopping Popular, no centro, onde a água atingiu a altura do joelho, comprometendo cerca de 30% das lojas, segundo o presidente do local.
Lojistas lamentaram as perdas: “perdemos tudo novamente”, relatou um comerciante ao sítio Varzea Grande News. O Pantanal Shopping também foi invadido pela água, assim como uma loja de suplementos próxima ao Posto Idaza.
Na avenida Fernando Corrêa da Costa (uma das principais da cidade) e nos bairros Boa Esperança, Pedregal, Renascer, Prainha, Miguel Sutil e Dom Aquino, onde uma casa desabou, a situação segue sob vigilância. A estimativa inicial da Defesa Civil aponta que 100 famílias foram impactadas, com maior concentração no Pedregal.
A força da chuva também comprometeu estruturas maiores. Em um condomínio residencial, a garagem cedeu sob o peso da água e do vento, danificando carros estacionados. Na Assembleia Legislativa, parte do forro desabou, mas sem feridos.
Vídeos divulgados por moradores mostram a gravidade da situação, com correntezas arrastando objetos e ruas transformadas em rios. O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) mediu precipitações de até 50 mm em poucas horas, volume compatível com o período chuvoso na região, mas suficiente para expor a fragilidade urbana.
A previsão de mais chuva nesta quarta-feira (9) mantém o alerta. O INMET prevê entre 20 e 30 mm/h, podendo chegar a 50 mm/dia, com ventos de 40 a 60 km/h, o que eleva o risco de novos alagamentos, quedas de árvores e interrupções de energia. A Defesa Civil orienta evitar áreas próximas a córregos e locais historicamente vulneráveis.
Segundo o IBGE, cerca de 20% da população de Cuiabá vive em zonas de risco, e um relatório da prefeitura de 2023 admitiu que apenas 40% das obras de drenagem planejadas desde 2018 foram concluídas, evidenciando anos de negligência. Os transtornos não têm origem em supostas e abstratas mudanças climáticas.
A raiz do problema está na política de rapina dos governos estadual e municipal, que, sob o neoliberalismo, desviam recursos das cidades e abandonam a infraestrutura essencial para enfrentar chuvas. Quando existentes, as redes de drenagem sucumbem por falta de manutenção; quando inexistentes, não são construídas, deixando Cuiabá à mercê de desastres previsíveis.