Emir Sader, em seu artigo O futuro do Brasil, publicado no Brasil 247 neste 13 de abril, diz que “o futuro do Brasil se joga hoje na reeleição do Lula, que evita o retorno da direita, do seu projeto autoritário e do fortalecimento do modelo neoliberal”. Fato é que não há como evitar que a direita retorne, uma vez que ela nunca saiu do regime. Basta ver como atua o Congresso, e, principalmente, o Supremo Tribunal Federal (STF) que impera passando autoritariamente por cima das instituições e dos outros Poderes.
Cabe perguntar a Sader em que medida se tem evitado o fortalecimento do neoliberalismo, pois a política de juros altos estrangula o setor produtivo em nome da lucratividade dos bancos, que embolsam metade do orçamento do governo. E este, por outro lado, sequer tentou recuperar o controle do Banco Central, que atua escancaradamente a mando dos banqueiros.
Sader afirma que “o Brasil depende, muito, da evolução da situação internacional, condicionada fortemente pela guerra de tarifas, promovida por Donald Trump”. No entanto, se ele olhasse com calma o que está acontecendo nos Estados Unidos, veria que as tarifas são uma tentativa de se combater os efeitos do neoliberalismo, que praticamente destruíram a economia americana, que conta com uma dívida pública de US$36,6 trilhões e pela qual paga mais de US$1 trilhão em juros.
Se existe um fator positivo na política de Trump é a bagunça que o presidente norte-americano vem produzindo na economia mundial, dominada pelo imperialismo. A maior parte da esquerda, no seu vale-tudo contra o “fascismo”, tem defendido abertamente o neoliberalismo. Bem como tem apoiado a censura, a continuidade da guerra na Ucrânia, dentre outros absurdos.
Conservadorismo
Para Emir Sader, o futuro do Brasil depende de uma coisa que não existe: a “manutenção e do fortalecimento da democracia”. O articulista parte do pressuposto de que no País existe democracia e que se trata apenas de fortalecê-la, o que é, evidentemente, uma falsificação. Atualmente, a Constituição não tem qualquer valor, pessoas são presas, processadas e condenadas por denunciarem o genocídio praticado pelos sionistas contra o povo palestino.
No Brasil, pessoas estão sendo presas porque, segundo se alega, estariam, supostamente, planejando atos terroristas. As provas apresentadas são uma coleção de facas. Um brasileiro foi investigado pelo Mossad e está preso por ter viajado para o Líbano. Onde está a democracia?
Estamos vendo uma esquerda completamente conservadora, que quer manter o mundo como ele é.
Sader alega que “a democracia que permitiu que o país elegesse como presidente da república um líder sindical, nordestino. Permitiu que o Partido dos Trabalhadores seja o partido mais importante da história do país”. Não é isso, nada foi “permitido”, tudo foi conquistado às duras penas, com as lutas dos trabalhadores contra a ditadura. Hoje, a esquerda pequeno-burguesa apoia a ditadura do STF, uma instituição que cuspiu sobre a Constituição e colocou na cadeia exatamente este presidente nordestino.
Seria importante perguntar a Emir Sader que país democrático é este em que “o povo escolhe seus governantes, por maioria dos votos, com campanha eleitoral pública e gratuita, com acesso aos meios de comunicação de todos os partidos políticos”? Seguramente não se trata do Brasil.
Talvez Emir Sader não saiba, mas no Brasil “democrático” é proibido questionar o processo eleitoral. Isso pode dar cadeia. A campanha eleitoral é completamente desigual. O acesso aos meios de comunicação, na prática, só é permitido aos partidos grandes, os únicos que têm acesso aos debates e possuem maior tempo de propaganda.
Nas eleições “democráticas” brasileiras, em todo pleito aparece uma regra nova, ou proibição, ditada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e sempre no sentido de dificultar as campanhas eleitorais e o debate público.
Reformismo
O texto de Emir Sader é uma obra de ficção. Má ficção, na verdade. A esquerda simplesmente abandonou a luta pelo socialismo e passou a defender a democracia. Abaixo, destacamos alguns trechos do autor do artigo tentando nos vender a tal “democracia”:
- “É na democracia que governos implementam políticas sociais que diminuem as desigualdades características de toda a nossa trajetória como sociedade. É na democracia que as desigualdades regionais diminuíram e o Nordeste passou a ser a região que não apenas é a que mais cresce, mas a que passou a ter mais estudantes universitários do que o Sul do país”.
- “[A democracia] é um elemento indispensável para que se possa caminhar na direção de um tipo de sociedade realmente democrática”.
- “A democracia nos permite ter governos que tomem como sua prioridade a luta contra todas essas mazelas [desigualdades, exclusões sociais, miséria e pobreza]”.
Essa democracia que Sader defende só existe em contraste com um “fascismo ameaçador” que precisa ser combatido. Em outras palavras, é a política do imperialismo que em nome da liberdade tem, no mundo todo, censurado, reprimido brutalmente manifestações e promovido golpes de Estado.
Foram os defensores da democracia, Estados Unidos, França, Inglaterra, etc., que colocaram e colocam no poder todo tipo de fascistas. Os golpes de 1964 e 2016, por exemplo, foram obra de quem?
Os “democratas” destruíram países inteiros na luta contra “ditadores”. Foram eles que colocaram fantoches para governar a Ucrânia na tentativa de agredir a Rússia, mas os russos é que são acusados, pela grande imprensa, e pela maioria da esquerda, de serem os agressores.
Defender abstratamente a democracia significa defender concretamente o imperialismo.
Emir Sader diz que “O Brasil é, hoje, um país menos desigual do que foi ao longo de toda sua história”. Talvez ele pretenda que nos conformemos com o fiasco que tem sido a atual administração petista.
Vejamos alguns números:
Disparidade de renda: já em 2023, os 10% mais ricos do país tinham uma renda média mensal de R$ 7.580, enquanto os 40% mais pobres recebiam R$ 527, uma diferença de 14,4 vezes.
Concentração de Riqueza: Apenas 1% da população brasileira detém 63% da riqueza total do país. Em contrapartida, os 50% mais pobres possuem apenas 2% do patrimônio nacional.
Extrema Pobreza: Mais de 7,5 milhões de brasileiros vivem com menos de R$ 150 por mês
Segundo Sader, a “reeleição [de Lula] permitirá o fortalecimento da democracia, a expansão ainda maior da prioridade das políticas sociais, a diminuição da exclusão e das desigualdades sociais. Pode permitir a quebra do capital especulativo como eixo da economia do país. Assim passaremos do neoliberalismo ao pós-neoliberalismo”. O que Sader não explica é o porquê de isso não estar sendo feito agora. A política econômica está fortalecendo o neoliberalismo.