Na última sexta-feira (11), a Polícia Militar de Rondônia prendeu 26 camponeses, incluindo uma mulher grávida, em uma operação violenta contra o acampamento São Francisco, em Nova Mutum, Porto Velho. A ação, sem ordem judicial de reintegração de posse, contou com mais de 20 policiais, seis viaturas e um helicóptero, e teve a participação direta de latifundiários, que indicavam quem deveria ser detido e quais bens confiscar.
Os camponeses denunciaram abusos durante a operação. Um agricultor relatou que estava em seu sítio, cuidando de gado e plantações, quando foi abordado por um PM identificado como Mendes, jogado em um veículo e levado ao acampamento, onde foi acusado de ser uma “liderança camponesa”. Ele foi liberado, mas proibido de retornar à sua propriedade.
Um motorista de ônibus escolar, que trabalhava na região, também foi preso, acusado sem provas de esbulho e posse de armas. Segundo os moradores, os policiais apontavam armas e detinham qualquer pessoa com “cara de sem terra”. Não havia assistência social ou bombeiros no local, apesar da presença de crianças.
As prisões ocorreram na entrada do acampamento, e os detidos foram levados ao Quartel do Distrito Nova Mutum. A advogada da Associação Brasileira de Advogados do Povo (ABRAPO) interveio na sexta-feira, garantindo a transferência dos camponeses para a Central de Flagrantes. Eles relataram agressões, ameaças e pertences revirados.
No sábado, foram enviados ao presídio Urso Branco, e a mulher grávida, à Casa de Detenção Feminina. Todos foram liberados no domingo, mas três receberam tornozeleiras eletrônicas e foram proibidos de se aproximar de suas terras. Carros, motos e celulares foram apreendidos.
No acampamento, os PMs obrigaram mulheres a cozinhar para eles antes de destruírem as casas das famílias.
Os camponeses afirmam que os latifundiários por trás da operação não são da região, um padrão comum no Norte e Nordeste. Em março, a União das Comunidades em Luta (UCL) denunciou manobras judiciais de latifundiários do Sul contra camponeses no Maranhão, segundo o Comitê de Solidariedade à Luta pela Terra.
Em Rondônia, ataques recentes em Machadinho D’Oeste, liderados pelo grupo paramilitar “Invasão Zero” e pelo pistoleiro Gesulino Cesar Travagine Castro, deixaram camponeses feridos, conforme o portal Resistência Camponesa. Dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) indicam 1.056 conflitos agrários no Brasil nos primeiros seis meses de 2024, um aumento de 12% em relação a 2023. A valorização de 113% no preço das terras agrícolas nos últimos cinco anos, segundo a Scot Consultoria, intensifica a pressão dos latifundiários contra camponeses, sejam trabalhadores rurais, índios ou quilombolas.
A operação em Nova Mutum é um exemplo da violência do Estado em apoio ao latifúndio. Os camponeses têm o direito de se defender armados contra esses ataques, e as polícias, que agem como braços armados dos grandes proprietários, devem ser extintas.