A Operação Rosa Branca, realizada pela Polícia Federal nesta semana, revelou uma tendência cada vez mais presente na política brasileira: o uso da polícia para reprimir as pessoas por sua opinião. Oficialmente, a operação visa investigar apologia ao nazismo, racismo e exposição indevida da intimidade sexual de parlamentares federais.
A investigação começou após uma comunicação da Polícia Legislativa do Senado, motivada por supostas “postagens indevidas” nas redes sociais — ou seja, críticas e conteúdos que desagradaram parlamentares. A partir dessa denúncia, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão em Brasília e em Araçatuba (SP), alegando que os investigados participavam de grupos com propaganda nazista e teriam divulgado imagens íntimas falsas de parlamentares.
A fronteira entre o que seria crime e o que seria simplesmente opinião, sátira ou provocação política está sendo apagada a cada novo inquérito e ação da PF.
O ponto mais grave da operação é o uso do termo “apologia” como se fosse um crime em si. Na realidade, apologia é simplesmente a opinião de uma pessoa sobre algo, a defesa de uma ideia ou posição, e jamais pode ser considerada crime por si só. Transformar defesa de ideias ou manifestações de opinião em delito é um abuso que ameaça os fundamentos da liberdade de expressão.
Quando a PF afirma investigar “apologia ao nazismo”, está tratando uma opinião ou posição ideológica como se fosse crime, mesmo que a manifestação não envolva prática criminosa concreta — ou seja, uma ação. Isso abre espaço para que qualquer crítica a autoridades eleitas seja enquadrada como infração penal, criando um efeito persecutório sobre quem deseja se manifestar publicamente — e politicamente.
Isso é especialmente grave porque estamos falando de autoridades públicas, que ocupam cargos eletivos e devem, por obrigação democrática, estar expostas ao escrutínio popular. Criticar político é um direito. Transformar isso em infração penal é uma perseguição por parte do aparato do Estado.
A PF alega que os investigados divulgaram símbolos nazistas e conteúdos racistas, mas isso aparece misturado, na mesma operação, com acusações de deepnudes de parlamentares — um tema completamente distinto, que acaba servindo de justificativa adicional para ampliar o poder da PF.
No fim, tudo vira um grande balaio de gatos: crítica, opinião, sátira, meme, discurso, provocação política e crimes reais são misturados como se fossem equivalentes. A operação reforça que quando o Estado passa a decidir qual crítica vale e qual crítica “ataca a democracia”, dá-se início a um processo de censura mascarado de proteção institucional.





