São Paulo

PF invade casa e rouba computador para defender ‘Israel’

Morador do interior de São Paulo é vítima de mandado de busca e apreensão por publicações "antissemitas"

Nessa terça-feira (8), a Polícia Federal (PF) cumpriu um mandado de busca e apreensão em uma casa na cidade de Bragança Paulista (SP), localizada a cerca de 74 km da capital paulista. Segundo informado pelo governo brasileiro, a ação teria como objetivo combater a disseminação de conteúdos “antissemitas” e “racistas” na Internet.

A vítima do mandado é um homem de nacionalidade francesa, de 36 anos. De acordo com a própria PF, as investigações foram iniciadas a partir de informações recebidas da França, via Interpol, por meio de contato com o Núcleo de Cooperação Internacional da Policia Federal em São Paulo. Como resultado do mandado, foram apreendidos um computador portátil e um disco rígido. A instituição ainda informou que teria “coletado provas” durante a ação, embora não tenha especificado que “provas” seriam estas.

Segundo o portal eletrônico Sampi, a Polícia Federal “reforçou que o combate aos crimes de ódio na internet tem sido prioridade nos últimos anos, com uso de acordos internacionais de cooperação policial para localizar e responsabilizar autores de conteúdos ilegais que atentam contra a dignidade humana”.

O alvo do mandado não foi preso. De acordo com reportagem do jornal Metrópoles, “a Polícia Federal encontrou ainda diversos livros na casa do francês”. O jornal alegou que “pelo menos um deles fala sobre nazismo”. A vítima, cujo nome não foi divulgado, vai responder pelo crime de “preconceito racial” ou “incitação ao ódio”, o que pode resultar em pena de até três anos de prisão.

Independentemente do que a Polícia Federal encontre no computador e disco rígido apreendido, a operação em si é ilegal em todos os sentidos.

Não existe, na legislação brasileira, o crime de “antissemitismo”. Existe, sim, o crime de racismo, mas este nada tem a ver com a disseminação de conteúdos. Afinal, a própria Constituição Federal (CF) estabelece, claramente, que “é livre a expressão do pensamento” e que é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”. Ou seja, ninguém pode ser incriminado devido às ideias que divulga.

O caso se torna ainda mais grotesco quando levado em consideração que a origem do processo é estrangeira. Um país imperialista decidiu perseguir um homem estabelecido no Brasil e o governo brasileiro, por meio da Polícia Federal, em vez de protegê-lo desta violação, está contribuindo para que ele seja perseguido em território nacional. É um ato que demonstra a subserviência total das instituições brasileiras perante os serviços de inteligência do imperialismo.

A participação da Interpol é uma das mais importantes engrenagens deste mecanismo. “Interpol” é o acrônimo para “Organização Internacional de Polícia Criminal”, uma polícia internacional comandada pelo aparato militar e repressivo dos países imperialistas que tem como objetivo transformar toda a superfície terrestre em território de ação do Pentágono, do Mossad, do MI-6 e de todos os serviços de espionagens imperialistas. É uma organização cuja finalidade é atropelar a soberania dos países para que os inimigos do imperialismo sejam perseguidos em qualquer lugar do mundo.

Em novembro de 2024, o brasileiro Valdecy Urquiza, delegado da Polícia Federal, se tornou secretário-geral da Interpol. O caso de Bragança Paulista, no entanto, demonstra apenas que Urquiza foi alçado ao mais alto posto da organização porque se comporta como um servo do imperialismo, que permite a infiltração dos serviços de inteligência imperialistas no País.

O alto nível de infiltração do aparato militar e repressivo do imperialismo no Brasil é um reflexo da atual crise em que o imperialismo se encontra. Em todo o mundo, sua política criminosa, que tem na Faixa de Gaza a sua face mais macabra, está sendo contestada e causando revoltas. Por isso, o imperialismo busca reprimir toda e qualquer dissidência.

Não é à toa que o homem investigado está sendo acusado de “antissemitismo”. O caso serve para abrir um precedente que permita invadir a casa e os computadores de qualquer pessoa que defenda o povo palestino contra o genocídio provocado por “Israel”. Afinal, segundo os sionistas, que controlam a Polícia Federal, todo aquele que seja contra a existência de “Israel” – isto é, seja antissionista – é “antissemita”.

Hoje, o alvo é um desconhecido, estrangeiro. Amanhã, partidos políticos terão suas sedes revistadas por causa de uma publicação na Internet.

O que deixa claro que o objetivo da Polícia Federal é criar as condições para uma repressão mais ampla no futuro é a própria divulgação dos livros nazistas. Não é crime ter uma coleção de livros nazistas. Por que, então, a PF considerou relevante informar ao público que o seu alvo tinha esse acervo exótico em casa? Porque o objetivo é escandalizar a opinião pública para justificar a operação ilegal. A Polícia Federal procura apresentar que está reprimindo o nazismo – que nem existe mais -, quando, na verdade, busca uma cobertura para uma perseguição política.

A perseguição explícita ao movimento em defesa da Palestina no Brasil, embora ainda não tenha chegado ao nível da operação descrita, já vem evoluindo a cada semana que se passa. Casos como o do jornalista Breno Altman, duplamente condenado por suas críticas a “Israel”, e do ativista Thiago Ávila, intimidado pela Polícia Federal por suas viagens ao Oriente Médio, mostram isso com clareza.

O caso que mais demonstra a evolução da perseguição, no entanto, é o cerco ao Partido da Causa Operária (PCO), a organização que mais defende a Palestina no Brasil. Os dirigentes do Partido enfrentam inúmeros processos criminais, desde acusações de “racismo” a acusações de “terrorismo”, promovidos pelos defensores dos crimes de “Israel” no Brasil.

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