São Paulo

PCO comemora vitória do Hamas com palestra-debate

Evento promovido pelo Centro Cultural Benjamin Péret contou com a participação de Rui Costa Pimenta, presidente do Partido, e Reda Sued, presidente da Frente Progressista Árabe

Neste sábado (18), o auditório do Centro Cultural Benjamin Péret (CCBP) recebeu mais um importante evento em defesa da Resistência Palestina. A palestra-debate A vitória do Hamas, conduzida por Rui Costa Pimenta, presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), e por Reda Sued, presidente da Frente Progressista Árabe, fez um balanço da luta de libertação nacional palestina após o mais novo acordo de cessar-fogo ter sido alcançado.

Rui Pimenta iniciou sua exposição destacando que o acordo estabeleceu uma série de polêmicas, com posições na esquerda considerando-o uma derrota palestina ou caluniando o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas).

“O Hamas saiu vitorioso”, declarou o presidente do PCO. Ele argumentou que, em um embate entre uma força militar superior (“Israel”) e uma inferior (Hamas), a aceitação de uma trégua pela parte superior indica fragilidade, pois o acordo favorece o inimigo militarmente mais fraco, permitindo-o a reorganização de forças. A trégua, sob essas condições, é vista como um “momento para respirar” para quem apanhou muito, o que sugere que a superioridade militar sionista não é sustentável no campo de combate.

Rui Pimenta ressaltou que, apesar de meses de destruição maciça em Gaza — com o uso de armamentos que alguns comparam ao equivalente a “várias bombas atômicas de Hiroxima” —, “Israel” e seus aliados imperialistas não conseguiram “nem de longe destruir o Hamas”. O analista destacou que o Hamas demonstrou ser uma “força imponente” e, segundo especialistas militares, recuperou sua capacidade de combate, repondo as perdas sofridas.

Segundo Pimenta, o exército sionista “não consegue progredir”. Ele apontou a “desmoralização muito grande” das forças israelenses, que sofreram um grande número de baixas, estimado pelo próprio porta-voz militar sionista em 20 mil (entre mortos e feridos). O dirigente comparou a intensidade da guerra em Gaza, que chamou de “quase uma guerra municipal”, com o conflito no Vietnã, para ilustrar a alta eficiência militar da resistência palestina, “encabeçada pelo Hamas”, que soube aproveitar as vantagens da guerra irregular. Ele assinalou que a destruição urbana de Gaza, planejada para combater o Hamas, acabou por criar uma situação impossível para os sionistas, transformando cada prédio em um esconderijo para os soldados das Brigadas Al-Qassam, ala militar do partido palestino.

Para Pimenta, o que ocorre em Gaza é comparável à derrota norte-americana no Vietnã, onde os Estados Unidos não conseguiram suportar a pressão militar e social e tiveram que se retirar. “É o que está acontecendo em Gaza”, resumiu, classificando a resistência como “quase um milagre”, dada a desproporção de forças. O analista destacou que a força sionista é, na verdade, uma “fachada do conjunto do imperialismo” mundial, que não conseguiu quebrar a resistência palestina, que estaria disposta a lutar por até “10 anos”.

O presidente do PCO destacou que o Hamas não fez nenhuma concessão para o cessar-fogo. O objetivo principal da captura de reféns, segundo Pimenta, era forçar a troca por prisioneiros palestinos. O Hamas obteve a libertação de um “número muito grande de pessoas”, incluindo figuras importantes.

Essa libertação de presos é uma “vitória extraordinária”, afirmou Pimenta. Ele defendeu que o fato tem uma imensa “importância política e moral da solidariedade” para os palestinos detidos, o que “solda a unidade política da resistência”. O analista citou que o líder revolucionário martirizado Iahia Sinuar prometeu, quando foi solto, lutar até que todos os prisioneiros palestinos fossem libertados, promessa que o Hamas está cumprindo.

O debate destacou que a propaganda sionista, baseada no discurso de vitimização foi completamente desmoralizada. “Isso aí acabou. Ninguém vai reerguer isso no futuro”, assegurou Pimenta, comparando a situação com a África do Sul, onde o apartheid caiu. Para ele, essa é uma vitória fundamental da resistência e da mobilização internacional em favor da Palestina.

Rui Pimenta acredita que o cessar-fogo encerra uma etapa da luta e que o conjunto de forças regionais que apoiam a resistência não foi destruído. Ele prevê que o imperialismo, embora brutal e criminoso, está em uma situação difícil e “pisando num gelo muito fino”, com a possibilidade de crises ainda maiores, como uma eventual guerra contra o Irã.

Apesar das dificuldades, a situação é “promissora”, segundo Pimenta. A população palestina não foi expulsa de Gaza e continua a apoiar a resistência, o que é “líquido e certo”.

O analista apontou a “situação muito problemática” da Autoridade Palestina (AP). Ele destacou que o Hamas exigiu a libertação de Maruã Barguti, líder do Fatá que se opõe a Mahmoud Abbas, o que “Israel” relutou em aceitar por temer o colapso da AP. Para Pimenta, a Autoridade Palestina é um “departamento do Mossad” e seu líder, Mahmoud Abbas, é um “traidor da causa palestina, vendido para Israel”, que governa de forma ditatorial. O analista afirmou que o que resta da AP é um “grande corpo policial que controla os palestinos para que não se revoltem contra Israel”.

Rui Pimenta refutou energicamente a ideia de que o Hamas teria sido criado por “Israel”, classificando-a como “propaganda sionista”. Ele lembrou que os israelenses permitiram a Irmandade Muçulmana atuar no passado para fazer sombra à Fatá, mas que a criação do Hamas e da Al-Qassam fez essa condescendência desaparecer.

O analista também desfez a imagem do Hamas como um grupo isolado: “O Hamas é Gaza. Gaza é o Hamas”. Ele o descreveu como um “partido muito grande” enraizado na população, cujos líderes perderam familiares nos combates, o que desmente a acusação de que teria feito uma ação impensada que sacrificaria inocentes.

Rui Pimenta abordou o argumento de que a destruição de Gaza seria um sinal de derrota. Ele classificou essa ideia como uma “pior manifestação do espírito pequeno-burguês e covarde”. Para ele, a disposição de sacrificar vidas na luta é o que diferencia quem luta verdadeiramente de quem é “servil” ou tem “mentalidade de escravo”.

“Uma revolução implica em perda de vidas humanas”, afirmou, defendendo que os combatentes do Hamas, que “não têm medo da morte”, são os “verdadeiros revolucionários” que lutam pela liberdade em condições sub-humanas.

O dirigente rebateu a tese de que a operação de 7 de Outubro teria sido um “erro colossal”. Para ele, foi o “início de uma operação cuidadosamente planejada por vários atores políticos da região”, que exigiu uma preparação imensa, como evidenciado pela capacidade de ocultação dos túneis da resistência. “Não foi uma coisa impensada”, concluiu, reiterando que a luta vai continuar e que o único freio para a “selvageria e a maldade extrema” do imperialismo é o “medo da humanidade”, ou seja, a força.

Reda Sued iniciou sua intervenção reforçando a tese de Pimenta: “a resistência islâmica palestina, liderada pelo Hamas, ela saiu vitoriosa do conflito. Saiu, sim”.

Ele lembrou que os objetivos anunciados pelo Estado sionista eram claros: “destruir o Hamas e jamais negociar a troca dos prisioneiros”, além da expulsão da população de Gaza. Todos esses objetivos fracassaram, o que por si só atesta a vitória da resistência.

Sued descreveu a Operação Dilúvio de Al-Aqsa como um movimento com o objetivo claro de negociar a libertação de prisioneiros e, mais amplamente, de “trazer à tona a questão palestina”, que estava sendo convenientemente esquecida mundialmente.

O analista afirmou que Gaza estava no meio de uma “rota que estava sendo criada” por interesses imperialistas, e a população palestina, classificada pelos sionistas como “bomba demográfica”, precisava ser removida. O objetivo do era claro: “expulsar, acabar com essa ‘bomba demográfica'”, além de ter acesso às riquezas de gás e petróleo no litoral da Palestina. A operação da resistência “atrapalhou todos esses planos”.

O maior impacto da operação, segundo Sued, foi “acabar com aquela imagem que se construiu ao longo de décadas de um Estado sionista que tem um exército super forte, invencível”. A Operação Dilúvio da Al-Aqsa “desmontou toda essa propaganda” e assustou o imperialismo, que correu para apoiar “Israel”, mostrando que o Estado sionista foi “criado pelo Ocidente” para cumprir uma função na região e que ele jamais sobreviveria “24 horas sem o apoio do Ocidente”.

Sued destacou que a Europa “não é a mesma de 7 de Outubro”, pois a resistência fez com que uma nova geração, que “nunca tinham falado da Palestina”, despertasse para a verdade.

Sued afirmou que o genocídio em Gaza, que utilizou o equivalente a “13 bombas atômicas, tipo Hiroxima”, não conseguiu esmagar a população ou obrigá-la a sair. O analista reiterou que o Irã teve um “papel fundamental na estruturação” do aparato militar das resistências na região, incluindo a da Palestina.

O presidente da Frente Progressista Árabe também apontou o fracasso militar de “Israel” em todas as frentes de guerra abertas na região, incluindo o Líbano e o Iêmen. Ele ressaltou que a tecnologia imperialista, usada no espaço aéreo, “fez a diferença”, mas no “campo terrestre fracassaram”. Os soldados sionistas são “zero” no confronto “homem a homem”.

No Líbano, mesmo com cinco divisões, o exército sionista não conseguiu avançar nem um quilômetro. “Sempre que o exército sionista chega a um impasse, aparecem os americanos e os mediadores para negociar o cessar-fogo”, o que evidencia que a trégua serve para salvar o exército sionista.

Reda Sued concluiu que o Estado sionista vive o seu “pior momento”, com aumento da desmotivação social, fugas de colonos (estima-se mais de um milhão) e a paralisação da estrutura industrial.

Ele destacou que, internamente, a sociedade sionista está “abalada” e doente, com um crescente conflito entre comunidades e a ascensão do sionismo nacionalista e religioso de extrema direita, que entra em choque com a velha guarda militar, que tem maior ligação com o imperialismo.

O analista concluiu que a questão palestina “voltou à tona no mundo todo”, e a resistência “vai se reorganizar, se reequipar e uma nova fase de luta que nós vamos entrar por aí”.

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