Guerra da Ucrânia

PCBR se junta à OTAN pela morte de mais russos e ucranianos

Partido publica declaração aberrante que propõe a continuidade de conflito em fase de liquidação

No dia 19 de fevereiro, o portal Em defesa do comunismo, editado pelo Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), publicou uma declaração de uma tal Ação Comunista Europeia (ACE), organização capitaneada pelo Partido Comunista da Grécia (KKE), ao qual o PCBR é ligado desde a época em que era uma dissidência do Partido Comunista Brasileiro (PCB). A declaração, intitulada Sobre os três anos desde o início formal da guerra imperialista na Ucrânia, apresenta, como veremos, uma frente única com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e a União Europeia pela manutenção da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

O texto começa com uma patifaria que já se tornou comum na esquerda internacional:

“Esses acontecimentos confirmam as posições da Ação Comunista Europeia sobre o caráter imperialista da guerra, que eclodiu em meio do agravamento da competição e das contradições entre os dois campos capitalistas beligerantes. Agora está mais claro do que há três anos que esta não é apenas um conflito entre a Rússia e a Ucrânia, mas um conflito expandido entre a burguesia ucraniana, os EUA, a UE e a OTAN, de um lado, e a burguesia russa e seus aliados, do outro.”

Se a guerra é “imperialista”, como diz a ACE, então, no mínimo, a organização teria que considerar que a Rússia é um país imperialista – afinal, foi a Rússia quem tomou a iniciativa de levar adiante uma operação militar na Ucrânia, e não o contrário. Essa conclusão – de que a Rússia é imperialista – já foi apresentada por vários grupos da esquerda pequeno-burguesa internacional, que acabaram se desmoralizando completamente. Por isso, a ACE sequer tem a coragem de levantar essa lebre. Isso é particularmente interessante quando levado em consideração que o grupo é dirigido pelo KKE, que é um partido que se desmoralizou muito no último período por suas posições ultrassectárias e pró-imperialistas.

Diga a ACE abertamente ou não, ela considera a Rússia imperialista – se não, como assinalamos, a guerra não seria “imperialista”. Quanto a esse argumento, basta perguntar aos sábios da ACE quantas bases militares no mundo têm a Rússia e quantas bases têm os Estados Unidos, quantos golpes de Estado foram organizados pelo primeiro e quantos foram organizados pelo segundo, e quantas sanções econômicas foram impostas pelo país eslavo e quantas pelo país norte-americano. É uma tese ridícula, mas que tem um objetivo claro: defender as ações do imperialismo contra a Rússia.

No argumento patife, a ACE fala que, de um lado, está a burguesia ucraniana, os EUA, a UE e a OTAN – isto é, o imperialismo e seus “aliados” – e, de outro, “a burguesia russa e seus aliados”. É uma forma de dizer que a classe operária russa não está envolvida na guerra e que, portanto, não deveria defender a posição adotada pelo seu governo. Será mesmo?

Para responder isso, basta perguntar: qual é o motivo alegado pelo governo russo ao iniciar a operação militar especial? Que o imperialismo norte-americano, por meio da OTAN, pretendia fazer da Ucrânia uma base militar contra a Rússia. E qual seria o objetivo do imperialismo na Rússia? Quais seriam os planos do imperialismo para a Rússia?

A década de 1990 já mostrou. Entre 1991 e 1998, quando o governo russo era totalmente submisso ao imperialismo, o Produto Interno Bruto (PIB) do país diminuiu em 51%. O salário real caiu 58% entre 1990 e 1999. O número de pobres passou de 2% da população em 1988 para 39% em 1995.

O imperialismo quer a destruição econômica da Rússia, o que levaria os trabalhadores a uma situação de calamidade total. Por isso, os seus interesses estão em jogo. Por isso, os trabalhadores, em grande parte, apoiam o governo de Vladimir Putin. Por isso, os trabalhadores devem, sim, tomar lado na guerra, na medida em que ela é uma tentativa de barrar a ofensiva do imperialismo sobre o país. Não tomar partido na guerra implicaria em ficar de braços cruzados diante da tentativa do imperialismo fazer a Rússia regredir à década de 1990 ou coisa pior.

Continuando seu desprezo total pelas necessidades do povo russo, a declaração, de forma maliciosa, compara os gastos militares de ambos os lados da guerra:

“A militarização da UE está se intensificando. O relatório Draghi marca a aceleração da transição para uma economia de guerra, enquanto o relatório Niinistö prevê que, nos próximos 7 anos, a UE terá que gastar quase 20% de seu orçamento em preparativos para a guerra. […] Por outro lado, os gastos militares da Rússia alcançarão 6,3% do PIB em 2025, e ela planeja gastar 40% de seu orçamento estatal em ‘necessidades de defesa e segurança’ em 2025.”

O aumento dos gastos militares dos países imperialistas é, de fato, algo criminoso. Isso significa condenar a população desses países à fome para manter uma guerra em que o único objetivo é implodir o regime russo para, assim, facilitar a dominação dos grandes monopólios sobre a economia da Rússia e dos países sob sua influência. Essa política ultrarreacionária está levando a uma revolta social na Europa e nos Estados Unidos.

O caso da Rússia é oposto. O país está sob um cerco brutal do imperialismo. Investir na defesa é, neste sentido, a única política sensata. É uma política progressista.

Após a vitória da Revolução Russa de 1917, os bolcheviques tiveram de levar adiante o chamado “comunismo de guerra”. Isto é, uma política econômica muito dura para a população, mas que garantiu que a guerra contra a contrarrevolução fosse vitoriosa.

O sacrifício que Putin está impondo a sua população não é nada em comparação ao sacrifício daquela época. Em grande medida, o país driblou as sanções econômicas e está conseguindo se desenvolver. Caso o imperialismo vença a guerra, no entanto, o retrocesso levará a uma piora incomportável nas condições de vida.

Depois de insistir que, para o povo russo, ser derrotado pelo imperialismo não faria diferença alguma, a ACE nos brinda com a sua grande pérola do artigo:

“Qualquer processo de negociação para uma suposta resolução ‘pacífica’ da guerra imperialista na Ucrânia entre os EUA e a Rússia, como a recente conversa telefônica entre Trump e Putin ou aquelas que seguirão, vai contra os interesses dos povos, pois estão fadadas a deixar intocadas as reais causas da guerra.”

Ora, mas se a ACE considera que é uma guerra imperialista, então, teoricamente, o povo russo e o povo ucraniano estariam morrendo em vão. Estariam, portanto, morrendo em nome dos interesses de outras classes sociais. Se é assim, por que a ACE estaria a favor de uma monstruosidade como a continuidade da guerra?

O marxismo nunca se colocou nem a favor, nem contra as guerras em abstrato. Afinal, a violência sempre esteve presente na sociedade, principalmente nos processos revolucionários. É necessário sempre, portanto, analisar os interesses envolvidos na guerra.

Conforme já demonstramos, a guerra é uma guerra defensiva do povo e do governo russo contra o imperialismo. Isso, por si só, já seria suficiente para determinar que a posição de qualquer setor progressista deveria ser o de apoiar a Rússia na guerra.

Uma vez que surja uma discussão sobre o fim da guerra, a única questão que deveria ser analisada é: os termos do cessar-fogo beneficiam quem? No caso do telefonema entre Vladimir Putin e Donald Trump, não há dúvidas de quem é o grande beneficiado. Trump representa um setor da burguesia norte-americano que está em contradição com a política de agressões imperialistas contra a Rússia. Putin, por sua vez, foi quem deflagrou a operação contra a OTAN. O acordo é, claramente, um acordo pró-Rússia. Prova disso são as declarações de insatisfação do presidente ucraniano, Vladimir Zelensqui, e das provocações de lideranças imperialistas, como Keir Starmer, primeiro-ministro britânico, que propôs o envio de tropas à Ucrânia.

Opor-se às negociações entre Trump e Putin é, portanto, opor-se à vitória da Rússia na guerra. Trata-se, portanto, de uma frente única com Keir Starmer, com a União Europeia e com a própria OTAN pela manutenção de uma guerra que, graças à determinação do povo russo, está praticamente terminada.

Não bastasse a posição pró-imperialista da ACE, a declaração ainda termina com uma piada de mal gosto:

“Lutamos para que nossos povos não escolham um lado da guerra contra o outro, mas para que se unam vigorosamente na luta pela derrubada do sistema capitalista, que é a causa das guerras imperialistas, por uma sociedade sem exploração do homem pelo homem, que possa garantir a verdadeira paz, segurança e prosperidade dos povos, pelo socialismo.”

Tudo muito bonito, mas a pergunta que fica é: o que fazer enquanto não houver essa união? Para a ACE, não resta dúvida: é deixar o imperialismo invadir a Rússia, destruir sua economia e escravizar sua população.

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