Mais uma vez, o regime marroquino escolhe vender ilusões e apresentar “vitórias diplomáticas” sobre a questão do Saara como ferramenta para desviar a atenção dos problemas internos. O anúncio de que o Paraguai reconheceu a soberania do Marrocos sobre o Saara e vai abrir um consulado nas regiões do sul não é inocente nem gratuito. A experiência anterior nos ensinou que as posições de alguns países pequenos podem ser compradas com doações e cheques generosos.
E os marroquinos lembram bem que, em 2018, o Marrocos ofereceu cerca de 700.000 dólares americanos ao Paraguai para serem usados na renovação de unidades de saúde familiar nas províncias de Guairá e Caazapá, incluindo alguns equipamentos como laboratórios, aparelhos de raio-X e instalações de maternidade.
Hoje, enquanto o regime se orgulha dessa “vitória”, as ruas do Marrocos assistem a uma onda crescente de protestos devido à degradação dos serviços de saúde, à falta de medicamentos e à superlotação extrema dos hospitais públicos.
Que lógica é essa que faz com que o dinheiro público seja gasto na reparação de unidades de saúde na América Latina, enquanto o cidadão marroquino morre diante das portas das emergências? E que tipo de soberania é essa, construída na compra de posições em vez de fortalecer internamente a capacidade de impor respeito?
O que o Marrocos precisa hoje não são declarações diplomáticas para consumo midiático, mas sim políticas sociais reais que restaurem a dignidade do sistema de saúde, forneçam tratamento digno aos marroquinos e deixem de usar o sofrimento do povo como moeda de troca em acordos duvidosos.
Será que os responsáveis têm coragem de responder: os reconhecimentos importados são mais importantes do que a saúde do cidadão?



