Sindical

Para fortalecer a Cassi, somente com a mobilização

Quanto mais se aprofunda a crise do capitalismo, aumenta a necessidade dos patrões procurarem uma saída através de um maior ataque às condições de vida dos trabalhadores

Na última quarta-feira (2), ocorreu a primeira rodada de negociação entre as entidades de luta dos trabalhadores e a direção do Banco do Brasil para tratar da situação da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil (Cassi). A reunião contou, também, com a participação dos dirigentes da Cassi, que apresentaram a atual situação da entidade, cuja projeção é de um grande déficit no próximo período — cerca de R$700 milhões.

Primeiramente, é preciso destacar que o elevado número de bancários do Banco do Brasil adoecidos é resultado direto das péssimas condições de trabalho nos setores e do constante assédio sofrido pela categoria, diante da voracidade por lucros dos banqueiros.

Além de enfrentarem a falta de funcionários e o aumento considerável da carga de trabalho, os chefes têm exigido cada vez mais dos trabalhadores, submetendo-os a um regime de chicote para o cumprimento de metas cada vez mais abusivas, mesmo sem as condições mínimas para tanto.

Diante desse cenário, os bancários estão cada vez mais abandonados pelo banco. Um aspecto que chama atenção — e é bastante suspeito — é que essa mesma direção, responsável por patrocinar brutais ataques aos seus funcionários, estaria agora buscando uma solução para a Cassi que os beneficie.

É sempre bom lembrar das sistemáticas mudanças no estatuto da Cassi.

Em 1996, no famigerado governo FHC (PSDB), por meio de sucessivas ameaças da direção do banco quanto à suposta falência do plano, foi imposta uma alteração no estatuto da Cassi. Naquele ano, aprovou-se o aumento da contribuição dos funcionários de 1% para 3% — ou seja, um reajuste de 200% — e da contribuição do banco de 2% para 3%, representando um aumento de apenas 50% para a patrocinadora. Além disso, os pais, avós e filhos maiores de 24 anos foram excluídos do plano e, para permanecerem cobertos, tiveram que aderir a um plano específico, nos moldes dos planos privados de mercado.

Outra mudança no estatuto ocorreu em 2007. À época, apesar de ter sido rejeitada em três votações, a alteração só foi aprovada na quarta tentativa, após intensa campanha de ameaças. A medida introduziu, entre outros pontos, a cobrança de “co-participação” de 10% a 30% sobre procedimentos de diagnóstico e terapia não vinculados à internação hospitalar.

A última mudança no estatuto se deu em 2019. Novamente sob o pretexto da iminente falência da Cassi, foi aprovada a cobrança adicional para os dependentes: 1% para o primeiro dependente, 0,5% para o segundo e 0,25% para os demais. Em 2022, a direção do banco desferiu mais um golpe contra os funcionários ao deixar de arcar com as despesas administrativas da Cassi, que, no ano passado, somaram R$508 milhões.

Como se pode verificar, ao longo das últimas três décadas, as sucessivas gestões do banco vêm aplicando uma verdadeira política de terra arrasada em relação à Cassi. Nesse sentido, não se pode, de forma alguma, confiar na direção do banco, justamente por seu histórico de ataques ao plano de saúde dos funcionários do BB.

À medida que a crise do capitalismo se aprofunda, aumenta também a necessidade dos patrões de buscar uma saída por meio de ataques cada vez mais brutais às condições de vida dos trabalhadores.

Os representantes dos funcionários, na atual mesa de negociação com o banco sobre os problemas da Cassi, afirmam haver “necessidade de buscar soluções sustentáveis para a Cassi, destacando a importância de um modelo viável a longo prazo. Eles enfatizaram que o momento e o ambiente são favoráveis a um processo negocial que leve a uma solução conjunta e perene” e que “o engajamento do funcionalismo nos debates e nas decisões será determinante para garantir transparência e encaminhamentos que atendam aos interesses de todos” (Contraf, 3/4/2025).

Ao contrário da posição da burocracia sindical, os bancários não podem depositar a mínima confiança nas tais mesas de negociação. O “engajamento nos debates e nas decisões” não passa de uma miragem, uma ilusão. Basta observar o que vem ocorrendo com a Cassi nos últimos 30 anos.

Somente a mobilização da categoria poderá barrar a sanha da direção do banco, que despreza olimpicamente a saúde dos seus trabalhadores.

As direções sindicais devem convocar, imediatamente, plenárias regionais com o objetivo de organizar uma mobilização nacional que responda à ofensiva reacionária do Banco do Brasil contra o seu plano de saúde.

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