Rio de Janeiro

Pai de jovem de 14 anos assassinado pela polícia desabafa

"Eu estou à base do remédio. No mesmo lugar, na mesma casa. A cama dele está ali, a roupinha dele dobradinha. E eu vejo ele me pedindo as coisas"

“Perdi meu filho. Quando vi a foto — aquela foto tirada lá na montanha — e reconheci o meu menino no chão, eu disse: é ele. É o meu menino.”

A voz embargada de Samuel Peçanha, um pai de 56 anos e trabalhador de serviços gerais, carrega o peso de uma perda inimaginável: a morte de seu filho caçula, Michel, de apenas 14 anos, na chacina policial mais letal da história do Brasil. Em entrevista à emissora britânica BBC, ele narrou detalhes sobre a morte de seu filho.

Michel foi uma das 121 vítimas da operação nos Complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, em 28 de outubro de 2025.

A tragédia chegou a Samuel através de uma foto nas redes sociais. A imagem do corpo de um jovem estendido na mata bastou para que o instinto paterno desse o alerta mais doloroso.

“Naquele momento, me veio uma ardência, um aperto… eu falei: perdi meu filho.”

O detalhe que dilacerou o coração de Samuel foi a forma como Michel foi encontrado, uma imagem de fragilidade que contrastava com o cenário de guerra:

“Ele parecia estar dormindo. Do jeito que estava deitado na mata, era como dormia em casa: as duas mãozinhas atrás da cabeça, tranquilo. Ver aquilo… me feriu.”

Michel era o “filho da velhice” de Samuel, o caçula de cinco, a quem o pai se apegava: “aquele que a gente se apega, por quem trabalha dia e noite”. Dentro de casa, ele era apenas “um garoto tranquilo… que adorava danone e biscoito Piraquê”. Uma criança normal, cuja vida foi brutalmente interrompida.

O pai chega a comentar a famosa foto de Michel com armas, publicada em suas redes sociais. De maneira criminosa, a polícia, com ajuda da grande imprensa, vem divulgando a existência desta foto, com o objetivo de justificar o assassinato da criança. Nem foto com fuzil, nem mesmo portar um fuzil justifica ser alvejado pela polícia: no Brasil, não existe pena de morte.

Samuel, ao descobrir fotos do filho com armas, afirmou:

“Fiquei totalmente assustado, e ali percebi que ele se iludiu. Falei: ‘Filho, pra que você está tirando foto com arma? Pra que está tirando foto em certos locais?'”

Para o pai, aquilo não passava de uma “ostentação”, uma moda entre os jovens da periferia.

“Essa ostentação que existe nas comunidades — o que é mostrado na televisão e nas redes sociais — faz com que eles achem que tudo vem com facilidade. Eles pensam que vão chegar ali e terão esse poder. Meu filho queria ‘subir no conceito’, entendeu? Ele tinha essa mentalidade.”

Ao contrário do que queria a grande imprensa, Samuel não atestou a prática de qualquer crime pelo filme. Nem afirmou que ele integrava qualquer organização criminosa. Pelo contrário, Samuel é, acima de tudo, um pai que perdeu um filho que sequer chegou aos 15 anos de idade.

“Eu estou à base do remédio. No mesmo lugar, na mesma casa. A cama dele está ali, a roupinha dele dobradinha. E eu vejo ele me pedindo as coisas… Ontem mesmo eu fiz dois copos de suco. Eu fui lá e comprei biscoitinho dele. E aí me toquei: ‘Meu Deus, ele não está aqui’.”

Ele narrou ainda que Michel era um filho que o ajudava em casa e era amado por sua família. “‘Pai, deixa que eu faço o arroz para não incomodar minha tia’. Essa era a criança que eu tinha, amável”.

“Perder um filho assim… não é uma forma natural. Morte natural, a gente chora, sofre, mas aceita. Agora, chegar lá e ver meu filho com um furo na cabeça… gente, quem pode imaginar isso? Ter que reconhecer o corpo do próprio filho assim?”

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