A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos, responsável pela organização do Oscar, tem enfrentado críticas por sua postura em relação à detenção do cineasta palestino Hamdan Ballal pelas autoridades israelenses. Ballal, co-diretor do documentário “Sem Chão” — vencedor do Oscar de Melhor Documentário —, foi recentemente preso e agredido por colonos judeus na Cisjordânia, sendo posteriormente levado sob custódia militar em Israel. O diretor relata que sua detenção ocorreu como represália pelo conteúdo do filme, que aborda o conflito na região.
Em comunicado assinado por Bill Kramer e Janet Yang, diretor-executivo e presidente da Academia, respectivamente, a entidade afirmou:
“Estamos vivendo um momento de profundas mudanças, marcado por conflitos e incertezas — ao redor do mundo, nos Estados Unidos e dentro de nossa própria indústria.”
O texto destaca que a Academia representa quase 11.000 membros globais com perspectivas diversas e que, diante disso, é frequentemente solicitada a se pronunciar sobre eventos sociais, políticos e econômicos. No entanto, enfatiza a importância de celebrar as vozes criativas da comunidade cinematográfica global e apoiar sua liberdade de criação.
A nota também declara que a Academia “condena qualquer forma de dano ou supressão de artistas por seu trabalho ou por suas opiniões”, porém não menciona especificamente Hamdan Ballal ou sua prisão.
Yuval Abraham, cineasta israelense e codiretor de “Sem Chão”, expressou descontentamento com a resposta da Academia. Em seu perfil no X (antigo Twitter), Abraham lamentou a falta de apoio e relembrou ocasiões em que a entidade se posicionou de forma mais enfática em casos semelhantes envolvendo cineastas atacados por outros governos. Ele destacou que a Academia Europeia e várias outras premiações e festivais manifestaram solidariedade a Ballal.
A detenção de Hamdan Ballal ocorreu após um incidente na Cisjordânia, onde colonos israelenses teriam espancado o cineasta. Segundo relatos, Ballal foi agredido e, enquanto recebia atendimento em uma ambulância, foi retirado à força por soldados israelenses e levado sob custódia. Após passar a noite algemado e vendado em uma base militar, sendo agredido por soldados, ele foi liberado e retornou à sua família.
O documentário “Sem Chão” retrata a destruição de comunidades palestinas em Masafer Yatta, na Cisjordânia, e a parceria entre o ativista Basel Adra e o jornalista Yuval Abraham. Dirigido por Abraham, Adra, Ballal e Rachel Szor, o filme denuncia a pressão militar israelense sobre vilarejos palestinos. Ao receber o Oscar, a equipe do documentário fez um apelo: “Pedimos ao mundo que tome medidas sérias para pôr fim à injustiça e à limpeza étnica do povo palestino”.
A Academia já tomou posições públicas em casos semelhantes no passado, condenando governos e demonstrando apoio a artistas perseguidos em diferentes países. Diante da agressão a Ballal, porém, e da repressão sistemática imposta aos palestinos por “Israel”, a entidade preferiu se esquivar com um discurso genérico sobre “divergência de opiniões”, atitude foi uma clara demonstração de parcialidade política, refletindo o alinhamento com os interesses da ditadura sionista.
Leia abaixo a nota da Academia na íntegra:
Caros membros da Academia,
No coração da Academia está o compromisso de honrar a excelência nas artes e ciências do cinema e conectar o mundo por meio do poder dos filmes. Fazemos isso através do nosso trabalho no Oscar, de nossas exposições e programas, de nossos esforços de preservação e educação, e muito mais. Acreditamos profundamente na capacidade do cinema de iluminar, provocar reflexão e construir pontes, oferecendo uma janela para diversas experiências humanas.
Acreditamos fundamentalmente que o cinema tem o poder de iluminar audiências globais e destacar diferentes perspectivas – e incentivamos nossos membros a usarem sua arte para isso. A Academia condena qualquer forma de dano ou supressão de artistas por seu trabalho ou por suas opiniões.
Estamos vivendo um momento de profundas mudanças, marcado por conflitos e incertezas – ao redor do mundo, nos Estados Unidos e dentro de nossa própria indústria. Compreensivelmente, somos frequentemente solicitados a nos pronunciar em nome da Academia em resposta a eventos sociais, políticos e econômicos. Nessas circunstâncias, é importante lembrar que a Academia representa quase 11.000 membros globais, com muitas perspectivas divergentes.
No entanto, estamos unidos na crença compartilhada sobre a importância da narrativa, no valor da empatia e no papel do cinema como um catalisador. Como organização, nosso foco continua sendo a celebração das vozes criativas que compõem a comunidade cinematográfica global – e o apoio à sua liberdade de criar, desafiar e imaginar.
Permanecemos firmes nesse trabalho e somos gratos por caminhar ao lado de cada um de vocês nessa jornada.
Bill Kramer e Janet Yang.





