Supremo Tribunal Federal

Os papéis que venceram os canhões?

Não é possível acreditar que, em um ano, sem nenhuma mobilização significativa, o Estado decidiu se curvar ao povo

Em artigo delirante desde o título, o jornalista Washington Araújo, do Brasil 247, procura apresentar a prisão definitiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como um grande avanço civilizacional. O texto, intitulado Nunca mais um país ajoelhado diante de quartéis, afirma que o dia 25 de novembro, quando o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decretou o processo de Bolsonaro como concluído, teria sido a data do “triunfo do que deveria ter sido inegociável desde sempre: a democracia como linha de chegada e ponto de partida, como pacto civilizatório e como limite impermeável à sanha destrutiva de quem tentou capturá-la”.

Dito de forma menos pomposa, com a prisão de Bolsonaro, o Brasil teria encerrado um ciclo e iniciado outro. Antes da prisão de Bolsonaro, o Brasil não seria um país democrático (ou estaria com sua “democracia” sob risco). Após o julgamento, a “democracia” teria tomado conta do País.

O autor não se dá conta, mas o Brasil nunca esteve submetido a um regime verdadeiramente democrático. Desde o choque neoliberal de Fernando Henrique Cardoso (1994-1998), o direito de greve foi praticamente abolido no País. Há quase um milhão de pessoas presas, muitas das quais sequer foram julgadas. O sistema eleitoral é tão draconiano que nem mesmo Bolsonaro, enquanto era presidente da República, conseguiu registrar um partido político.

O articulista considera que havia uma democracia no Brasil porque o regime fazia pequenas concessões, insignificantes diante do sofrimento imenso do povo brasileiro. O fato de que o País tenha eleições, por exemplo, não é nada comparado ao criminoso mecanismo da dívida pública, que impede qualquer governante de direcionar a arrecadação nacional para as necessidades sociais.

Diante desta breve explicação, comemorar o resgate da “democracia” é simplesmente absurdo. Restaria ao autor, ao menos, dizer que a prisão de Bolsonaro iniciaria um processo de reversão do golpe de 2016. Mas o que acontece é exatamente o oposto.

“Os golpistas, enfim, chegaram ao fim do caminho. O Brasil, finalmente, chegou ao começo de outro.”

Não. O Brasil está simplesmente seguindo o mesmo caminho do golpe de 2016. O País está cada vez mais dominado pelos representantes do grande capital e da política neoliberal, pessoas cujos interesses estão completamente em contradição com aqueles da maioria da população brasileira.

Quantos votos tiveram os ministros do STF? Absolutamente nenhum. O impasse em torno da atual indicação de Jorge Messias para a Corte deixa claro o motivo: só podem ser indicadas para o Supremo as pessoas de confiança da burguesia. Esse mesmo STF, no último período, levou adiante ataques sem precedentes contra o povo brasileiro, como a revogação do artigo 19 do Marco Civil da Internet — o que, na prática, levará a uma ofensiva da censura na Internet.

Os mesmos ministros, com a prisão de Bolsonaro, ganharam ainda mais poderes para atacar o povo brasileiro, uma vez que as ilegalidades cometidas contra o ex-presidente agora poderão ser cometidas contra qualquer pessoa.

No Banco Central, vampiros controlam a política monetária e impõem à população uma taxa de juros pornográfica. A grande imprensa, que atua como monopólio, continua sendo sustentada pelo Estado para fazer propaganda em defesa das chacinas policiais e da privatização de estatais.

A Polícia Federal e o Ministério Público se encontram completamente infiltradas pelos serviços de inteligência do imperialismo. O brasileiro Lucas Passos Lima foi condenado a 16 anos de prisão porque o Mossad, agência de espionagem israelense, assim determinou.

Não há novo Brasil. Há simplesmente a continuidade do mesmo golpe de Estado que está conduzindo o País a uma ditadura. Uma ditadura explícita, como no Equador e no Peru, cujos governos são elogiados pelos mesmos homens que controlam a máquina estatal brasileira.

Nem mesmo a ideia de que “os golpistas, enfim, chegaram ao fim do caminho”. Isso porque a prisão de Bolsonaro nada tem a ver com a preservação de qualquer valor democrático — afinal, foram os golpistas que planejaram, executaram e comemoraram a condenação do ex-presidente. A reação dos militares à prisão mostra que há uma revolta das baixas patentes. Assim como Lula foi solto pouco mais de um ano depois de ser preso, Bolsonaro pode também sair da cadeia rapidamente.

Na verdade, a diferença é que Lula só poderia ser solto se houvesse uma crise política grande — o que aconteceu. No caso de Bolsonaro, ele pode ser solto tanto se houver uma crise ou se simplesmente ele fizer um acordo em torno das eleições de 2026.

A propaganda de Araújo é tão fantasiosa que ele considera que é “assim que democracias respondem a quem tentou destruí-las: com papéis, não com porretes; com audiências, não com ameaças; com ritos, não com armas”.

As Forças Armadas têm um efetivo de 355 mil pessoas. A polícia brasileira tem 700 mil pessoas. São mais de um milhão de homens armados controlados diretamente pelo Estado. É do Estado, e não de qualquer indivíduo que vem a ameaça contra o povo brasileiro. E é o mesmo Estado quem controla os “papéis”, as “audiências” e os “ritos”.

No passado, foram necessários quase dez anos de mobilização operária para derrubar a ditadura militar. Não é possível acreditar que, em um ano, sem nenhuma mobilização significativa, o Estado decidiu se curvar ao povo.

Quem se curvou nessa história toda foi a esquerda pequeno-burguesa, que, a exemplo de Washington Araújo, capitulou vergonhosamente diante do imperialismo e seus representantes no Brasil, terceirizando a eles a tarefa de combater o bolsonarismo. O resultado será desastroso: o fortalecimento do maior inimigo do povo trabalhador.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Rolar para cima

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.