Na quarta aula do curso “A teoria marxista da revolução e a situação atual”, o presidente nacional do PCO, Rui Costa Pimenta, destacou que a conclusão tirada por Marx e Engels da Revolução de 1848 é que os “operários alemães não têm que seguir a burguesia e não têm que seguir a pequena burguesia”. O dirigente do PCO explicou também o que é a “via prussiana”, um mecanismo político que aparece frequentemente. “Como funciona? Não é que a burguesia deseja fazer a revolução”, disse.
1848 mostrou que a situação era insustentável e se soluções para os problemas sociais não fossem encontradas, as classes possuidoras seriam devastadas. Em 1870, após a derrota da França, o rei da Prússia unifica toda a Alemanha, mas só vai fazer isso por que se encontra sob intensa pressão popular. No Brasil isso acontece muito e uma parte da nossa intelectualidade ignorante trata esses eventos como “pacto das elites” sem compreender o que realmente são.
A abolição da escravidão e a proclamação da República, no Brasil, são exemplos de movimentos feitos para impedir que as massas nas ruas fizessem as transformações. Como na Alemanha naquela época, a burguesia brasileira era fraca e precisava manobrar com o povo. O movimento por cima é reflexo do movimento por baixo, não é uma coisa autônoma.
A Ditadura Militar de 1964 derrotou o nacionalismo burguês e os movimentos populares. Quando Castelo Branco assume, ele empossa Roberto Campos, uma figura tão execrável que ficou conhecido como “Bob Fields”, por ser capacho do imperialismo norte-americano. Esse governo, com essas pessoas, pressionados pelo movimento camponês, lançou um programa de reforma agrária, em um processo sem enfrentamento, indolor e por isso mesmo, fracassa. Não dá pra fazer reforma agrária sem acabar com o latifúndio, porque o monopólio das terras faz com que as pequenas propriedades ao redor do latifúndio terminem subjugadas pelo grande proprietário.
“A Revolução de 1848 foi o primeiro grande laboratório do marxismo. Depois disso, a monarquia prussiana vai ter um regime muito reacionário. Marx e Engels precisarão se exilar na Inglaterra, que era um país mais democrático e abrigava centenas de revolucionários alemães e italianos. Nesse período, a situação reacionária vai obrigar os revolucionários a adotarem táticas de luta direcionadas a períodos pacíficos, com a defesa de reformas. Na Alemanha, será construído o Partido Social Democrata, um dos mais poderosos do mundo.”
O período de estabilidade vai ultrapassar as chuvas de verão de 1871 (a comuna de Paris e as unificações italiana e alemã), durando até a primeira década do século XX. Nesse momento, a política revolucionária precisa se adaptar para os tempos de progresso capitalista, os partidos operários levando à distinção entre os chamados programa mínimo, dedicado a reformas, e o programa máximo, a tomada revolucionária do poder.
Nisso, a discussão sobre a revolução acaba ocupando um papel secundário, virando uma coisa abstrata. A teoria revolucionária só será retomada com a Revolução Russa de 1917.
A Alemanha já estava praticamente pronta para o capitalismo, tanto que o desenvolvimento alemão será muito rápido e acentuado. Tratando a revolução de 1830 como um ato principalmente da burguesia francesa, Rui Pimenta destaca:
“A sequência é assim: cai Napoleão Bonaparte, os reis europeus trazem Luiz XVIII, colocam ele no governo, mas devido à situação crítica, o governo contemporiza, cria uma fachada de monarquia constitucional. Esse rei morre e é substituído por um rei francamente reacionário. Ele se indispõe com a burguesia, que em um determinado momento, promove o levante das massas operárias.
Os burgueses fecham um monte de fábricas, demitem milhares de trabalhadores e essa explosão vai derrubar o rei. Luis Felipe de Órleans vai ser posto no lugar, um rei da burguesia. Marx fala que quando Órleans assume o poder político, um banqueiro deixou escapar o segredo da Revolução de 1830 e que a partir de então, governarão os banqueiros.”
O Brasil vai sentir os reflexos dessa agitação. D. Pedro I não era um absolutista, mas um liberal. Tanto que ele vai sair do Brasil, vai unir um movimento em Portugal, pedir ajuda aos ingleses e franceses (ou seja, dois reis liberais) e cavalgar ao lado dos reis desses países.
Guerra do Paraguai
O Brasil levava uma política amistosa com os vizinhos, tanto que o Exército Brasileiro era minúsculo. Já o Paraguai tinha o maior exército da América Latina. Para o Brasil, a Guerra do Paraguai era uma guerra defensiva, enquanto para o Paraguai, era uma guerra de conquista. Toda a imprensa europeia falsificava dados sobre a guerra para favorecer o Paraguai.
A proporção das forças era um milhão do lado paraguaio e 80 mil do lado brasileiro. O País precisou criar um exército do nada, no meio da guerra.
Muitos negros foram incorporados ao Exército. Já havia um movimento abolicionista antes, mas depois disso, os militares veem os negros lutando, veem que eles não eram covardes, mas extremamente combativos. Isso foi o fim da escravidão. As forças armadas estavam em peso na defesa do abolicionismo. Quando a insurreição começa em São Paulo, chama-se as tropas para reprimir os escravos, mas o que acontece é um levante militar, que após a própria revolução, é o pior acontecimento no âmbito de um Estado.
A revolução política e a revolução social
A revolução social depende que você tenha uma classe social representante de um novo modo de produção. Se você não tem essa classe, você pode ter revoluções, mas vai ficar tudo igual. Por exemplo, a China, em seus quase 4 mil anos de história, deve ter tido uma infinidade de revoluções. Derrubava-se o governo, assumia um outro e tudo ficava exatamente como antes. O caráter social da revolução está determinado pela situação da classe que faz a revolução. A classe operária não pode se transformar em uma classe possuidora. Ela é uma classe de milhões de pessoas que já trabalham em um sistema coletivo. Imagina a Volkswagen. Os 15 mil trabalhadores lá não vão se transformar em donos da fábrica, eles vão administrá-la. Em todas as revoluções, o que os trabalhadores vão fazer é isso, acabar com o capitalismo e estabelecer uma administração coletiva.
Para o trabalhador, não tem outra solução que não seja abolir a propriedade privada dos meios de produção. Na França em 1936, mais de 10 mil fábricas foram ocupadas pelos trabalhadores em protesto contra o fascismo francês. É uma coisa instintiva para os trabalhadores.





