Polêmica

Os EUA não ‘influenciam’, eles mandam nos juízes brasileiros

Jornalista lembra da Lava Jato, mas tira conclusões erradas do episódio e termina defendendo os criminoso que a criaram

Nessa semana, o Brasil 247 publicou um artigo intitulado Pelas mãos de Sérgio Moro, Estados Unidos já influenciaram a Justiça brasileira e assinado por Paulo Henrique Arantes. Logo no começo, Arantes brinda o leitor com uma pérola:

“Mediante sanções econômicas, judiciais e políticas, os Estados Unidos de Donald Trump pretendem pressionar o Poder Judiciário brasileiro. O objetivo principal, claro está, é o livramento de Jair Bolsonaro da cadeia e sua viabilização como candidato presidencial da extrema direita em 2026. Nada disso acontecerá, pois a democracia brasileira mostra vigor nesta hora.”

Ora, “pretendem”? Se a aplicação das sanções fez com que o corpo de monarcas do Supremo Tribunal Federal (STF) recuasse de qualquer manifestação em defesa de um dos seus, o que temos não é a suposta pretensão de Trump, mas a facilidade com que os supostos “heróis da defesa da democracia” são impressionáveis, colocando às claras a farsa dessa propaganda para tolos de que os 11 ministros do Supremo seriam a última trincheira da defesa do País.

Digno de nota, também, a declaração de que “a democracia brasileira mostra vigor nesta hora”, que, diga-se de passagem, é a mesma hora em que tanto o STF quanto o Executivo se acovardam diante de um chefe de Estado acuado e incapaz de governar conforme a sua política. Após tais considerações, Arantes entra no centro da questão, crendo-se o único a lembrar o papel do Judiciário na operação golpista da Lava Jato:

“Enquanto Trump faz pressão aberta, quase ninguém se recorda de que, há bem pouco tempo, os Estados Unidos atuavam para influenciar esse mesmo Judiciário, aliando-se ilegalmente a um juiz parcial para que Luiz Inácio Lula da Silva fosse condenado e preso.

(…)

A intromissão externa no processo que levou Lula à prisão, hoje se sabe, deu-se mediante cooperação informal entre o Ministério Público Federal, sob os olhos do juiz do caso, Sérgio Moro, o DOJ (Departamento de Justiça americano) e o FBI. Houve troca de informações entre procuradores da Lava Jato e membros do DOJ, por exemplo, de modo alheio aos canais oficiais de cooperação jurídica internacional, como o Itamaraty. O DOJ chegou ao absurdo de emitir comunicados comemorando os resultados da Lava Jato e a perspectiva de compartilhamento de valores recuperados pela Petrobras nos Estados Unidos.”

O jornalista parece crer que Sérgio Moro é um homem extraordinário, a ponto de permitir a “cooperação” do governo norte-americano com o Ministério Público. Não são os EUA, o país imperialista mais poderoso do mundo, que procurou um grupo de desclassificados na burocracia judicial para alinhar o País aos seus interesses, mas um obscuro juiz caipira que observaria “troca de informações” entre procuradores e o governo imperialista. É como dizer que o rabo balança o cachorro.

Desde o começo da Lava Jato, foram os interesses do imperialismo norte-americano que se impuseram, tanto na destruição da economia brasileira, quanto na reorganização do sistema político nacional. Arantes até lembra que “a Lava Jato destruiu empresas brasileiras e beneficiou empresas americanas”, mas não liga esses acontecimentos com o fato óbvio até a uma criança, de que a operação não foi “influenciada”, mas articulada pelos EUA.

A única conclusão lógica politicamente coerente a ser tirada de “a Lava Jato destruiu empresas brasileiras e beneficiou empresas americanas” e “houve troca de informações entre procuradores da Lava Jato e membros do DOJ” é que o Judiciário brasileiro é controlado pelos EUA e isso inclui, naturalmente, o STF. É preciso lembrar ainda que foi “sob os olhos” da instância máxima do judiciário nacional que Moro e sua gangue atacaram, um fato convenientemente esquecido pela esquerda defensora de Alexandre de Moraes, mas fundamental para a compreensão da loucura que estão cometendo.

Reconhecer que o STF é parte da conspiração contra o povo, porém, arruinaria a defesa da prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, uma vez que este é o órgão que está na ofensiva contra o líder da extrema direita brasileira. Obrigaria alguém honesto a se perguntar se é, realmente, o interesse nacional que está sendo defendido quando se apoia os sacripantas ministros do Supremo.

Se era um órgão golpista na década passada, que “destruiu empresas brasileiras e beneficiou empresas americanas”, porque seria diferente agora, uma vez que nada em sua composição mudou? “Nada”, seria a resposta, do que se conclui que as colocações de Arantes, na realidade, estão protegendo os verdadeiros criminosos da questão: o STF e o imperialismo norte-americano, agrupado principalmente no Partido Democrata, organizador da Lava Jato e em guerra para submeter o trumpismo nos EUA.

O judiciário brasileiro de conjunto (e o STF em especial) é uma burocracia totalmente dominada pelos piores inimigos do povo brasileiro, um fato antigo se lembrarmos que a Ditadura Militar (1964-1985) realizou um expurgo em suas fileiras, derrubou o Executivo, fechou o Legislativo, mas manteve o Supremo intacto. Para que seja um instrumento da defesa dos interesses nacionais, o Judiciário precisaria de uma reforma completa, que submetesse seus órgãos ao controle popular, com eleições a intervalos regulares.

Não é isso, porém, o que a esquerda pequeno-burguesa que se expressa por Arantes defende, até porque tampouco eles defendem qualquer coisa além do mesquinho interesse pela obtenção de cargos eleitorais, que, acreditam, conquistarão com mais facilidade com Bolsonaro fora do páreo. Um erro de cálculo que já está cobrando um preço elevado para todo o campo, mas que terá suas piores consequências para os trabalhadores, se esse tipo de política fadada ao fracasso não for combatida.

 

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