Em resposta ao “tarifaço” de Trump, vimos nascer no meio da esquerda o “patriotismo azul”, ou seja, os “patriotas” amantes do Partido Democrata. Estes são mais envergonhados do que os brasileiros MAGA, não assumem abertamente o amor pelo principal representante político do imperialismo norte-americano e fazem uma defesa da política do imperialismo de maneira envergonhada.
Discutamos a tese escabrosa da “antes nordestina do que brasileira” Sara Goes, exposta na coluna O show de Trump, publicada no sítio do jornal Brasil 247. Inadvertidamente, pelo menos aparentemente, Goes aderiu ao patriotismo azul. Segundo a âncora da TV 247, “tarifaço contra Brasil expõe ‘modelo Gaza’, que ameaça o Sul Global inteiro”.
Se, por um lado, está correta ao afirmar que o “modelo Gaza” ameaça os países atrasados como um todo, o “modelo Gaza” tem pouco – ou quase nada – a ver com a política econômica defendida pelo trumpismo. Comparar a taxação de 50% sobre produtos brasileiros com o genocídio dos palestinos, nesse sentido, beira ao ridículo.
A comparação existe, no entanto, na política neoliberal imposta ao país, de maneira mais decisiva no governo do “democrático” Fernando Henrique Cardoso, um capacho dos Clintons que levou dezenas de milhões de brasileiros à miséria. Política defendida pelo setor majoritário do imperialismo e contra a qual se dá o fortalecimento da extrema direita no mundo todo. O mesmo setor que sustentou o genocídio em Gaza desde o instante inicial.
Não se trata de “defender” Trump, como o patriota azul acusará, mas sim de ter uma avaliação concreta correta da situação política mundial. Trump não tem amor a ninguém, mas não é isto que está em questão. A base social de onde emana o seu poder político é absolutamente hostil às guerras eternas. Novamente, não por amor, mas por interesses econômicos. Como a curta aventura fracassada no Iêmen meses atrás demonstrou, guerras são muito custosas. Enquanto isso, a crise social nos Estados Unidos se torna cada vez mais explosiva.
A incapacidade de Goes em analisar a realidade de maneira concreta se manifesta de maneira muitíssimo clara neste trecho:
“O governo Lula tem assumido um papel central na reorganização do mundo multipolar. Fortaleceu os BRICS, reatou laços com a África, pautou a transição ecológica com justiça social, rompeu o servilismo diplomático. Isso basta para ser visto como ameaça. Trump não está apenas mirando o agronegócio brasileiro, está tentando frear um projeto de país que escapa ao controle de Washington, e de seus sócios.”
Primeiramente, que papel central o governo Lula tem assumido na política global? Temos no leste da Ucrânia uma guerra de enormes proporções entre a OTAN e a Rússia. Na Ásia Ocidental, a ameaça de uma grande conflagração permanece, agora com ameaças de uma invasão síria ao Líbano objetivando destruir o Hesbolá enquanto ameaça ao sionismo. Isso para não falar do genocídio mais bem documentado da história humana.
Qual o papel desempenhado pelo governo brasileiro? O de uma semi-colônia que, na figura de seu presidente, às vezes levanta a voz, mas, na ação, segue o imperialismo. Não é à toa que a Petrobrás tenha sido colocada como uma das fiadoras do genocídio palestino: um décimo do petróleo “israelense” vem do Brasil, resultado de um aumento nas exportações à base militar do imperialismo no Oriente Médio após o começo do genocídio.
Percebe-se que Goes está totalmente perdida quando fala em “transição ecológica com justiça social”. Esta é a política demagógica oficial do imperialismo. E não tem futuro, como ficou demonstrado na Alemanha, quando da interrupção do fornecimento do gás russo. Além disso, a maioria da energia elétrica gerada no País tem origem nas dezenas de usinas hidrelétricas – número hoje insuficiente – espalhadas pelo Brasil, ou seja, energia “limpa”. Não é de “transição ecológica” que o Brasil precisa, é recuperar a parcela enorme da indústria que foi perdida com o neoliberalismo e, com ela, milhões de postos de trabalho.
Quanto ao “servilismo diplomático”, sugerimos à âncora que tire alguns minutos de seu dia e leia as notas do Itamaraty quando do sequestro de Tiago Ávila e do bombardeio criminoso a Teerã. Os reformistas vivem numa realidade paralela, a versão da vez é o “mundo multipolar” com protagonismo brasileiro.
Pode até ser que esteja “tentando frear um projeto de país que escapa ao controle de Washington”, mas este país não é o Brasil. Poderia ser o Irã, a Rússia, a China, mas, definitivamente, não o Brasil. O Estado brasileiro continua capturado pelos mesmos funcionários que derrubaram o governo Dilma em 2016; que, a mando do Mossad e da CIA, não deixam palestinos entrarem no País.
Para dar boas risadas (de nervoso!), deixamos nosso leitor com a mesma frase com que Goes termina o seu texto:
“Se Gaza é o inferno que querem reproduzir, que o Brasil seja a contraofensiva que ninguém esperava. Sem tanques, mas com wi-fi. Sem mísseis, mas com coragem. Sem ajoelhar.”



