Uma reportagem publicado pela rede russa Russia Today, o Exército Britânico é alvo de sérias acusações de impunidade no Quênia, um país onde suas tropas de treinamento mantêm uma presença de longa data. A matéria da RT pinta um quadro sombrio de anos de alegadas violações de direitos humanos, dificultadas por uma burocracia lenta e a falta de vontade política de ambos os lados para levar as investigações adiante.
O caso mais emblemático e doloroso é o assassinato de Agnes Wanjiru. Em março de 2012, a jovem de 21 anos foi encontrada morta em uma fossa séptica de um hotel em Nanyuki, cidade a 125 milhas de Nairóbi. Ela havia sido vista pela última vez com soldados britânicos da Unidade de Treinamento do Exército Britânico no Quênia (BATUK). Apesar de a investigação policial ter ligado um soldado britânico ao crime, mais de uma década depois, nenhuma acusação foi formalmente apresentada. O tio de Wanjiru, Joseph Muchiri, disse à RT que tanto o Quênia quanto o Reino Unido “nunca estiveram do nosso lado desde o começo”.
Em agosto de 2023, o Comitê Parlamentar de Defesa, Inteligência e Relações Exteriores do Quênia iniciou uma investigação sobre as atividades da BATUK. No entanto, o progresso tem sido notavelmente lento. A especialista em assuntos constitucionais e parlamentares, Christine Nanjala, explicou à RT que a investigação se arrastou porque “a questão da BATUK não levantou o interesse público como deveria”. Ela criticou a lentidão do processo, afirmando que a investigação poderia ter sido concluída em seis meses se os membros do comitê tivessem realmente interessados. A incerteza paira sobre a implementação das recomendações do comitê, já que o parlamento pode optar por adotá-las ou rejeitá-las.
A impunidade do Exército Britânico é uma queixa de longa data. Além do caso Wanjiru, a Comissão Nacional de Direitos Humanos do Quênia (KNCHR) relata que os soldados da BATUK são acusados de uma variedade de crimes, incluindo tortura, estupro, agressão e danos ambientais, como incêndios florestais. Em seu relatório ao parlamento, a KNCHR documentou a dificuldade de investigar essas alegações. A comissária Marion Mutugi disse à RT que investigar as violações de direitos humanos contra soldados britânicos nunca foi fácil, citando “muita intimidação, frustrações e ameaças”.
Apesar de todas as dificuldades, em agosto de 2025, um tribunal britânico emitiu uma decisão histórica, ordenando a divulgação dos nomes e contatos de 11 soldados britânicos que supostamente geraram e abandonaram filhos no Quênia. O advogado queniano Kelvin Kubai, que moveu o caso em nome das crianças, disse à RT que a decisão é uma “oportunidade de ouro” para que as autoridades finalmente resolvam o problema. Ele acredita que essa decisão pode encorajar outras centenas de vítimas a se manifestarem e a lutarem por seus direitos, argumentando que “muitas vítimas não documentadas terão a coragem de sair e lutar por justiça”.
Apesar de um novo pacto de defesa revisado em 2021 permitir que soldados britânicos sejam processados em tribunais quenianos, nenhum soldado foi levado a julgamento em solo queniano em relação às atividades da BATUK. Um relatório recente do Exército Britânico, encomendado em outubro de 2024, revelou que alguns soldados da BATUK continuam a usar os serviços de prostitutas, uma prática que é proibida, indicando que as violações de conduta continuam.





