A histeria identitária, que busca censurar tudo o que desagrada o que os identitários consideram ofensivo, continua atuando no caso da cantora de axé, Claudia Leitte.
Para quem não está acompanhando o caso, a cantora, que se converteu evangélica poucos anos atrás, trocou uma palavra de uma música chamada Caranguejo. Em determinado trecho onde se diz “Iemanjá”, ela canta “Yeshua”. Sem dúvida, a mudança é de mau gosto, mas não é esse o problema.
Segundo informações da Folha de S. Paulo, mais duas organizações entraram com petição contra a cantora. “O Idafro (Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afrobrasileiras) e a iyalorixá Jaciara Ribeiro apresentaram uma petição ao Ministério Público da Bahia para que recomende ao governo do estado e à Prefeitura de Salvador que não contratem shows da cantora Cláudia Leitte” (Instituto afro aciona Ministério Público para proibir shows de Cláudia Leitte na Bahia, Folha de S. Paulo, 30/1/2025).
Como fica claro pela notícia, não é “apenas” uma censura, querem proibir que o poder público cotnrate a cantora. Para entender como é reacionária essa ação, ela é muito parecida com o que o MBL, por meio da vereadora de São Paulo, Amanda Vettorazzo, e do deputado federal Kim Kataguiri, ambos do União Brasil, querem fazer. Chamada de “lei anti-Oruam”, o projeto, apresentado na Câmara de Vereadores de São Paulo e que Kataguiri quer apresentar no Congresso Nacional, quer justamente proibir que o poder público contrate shows e artistas que fariam “apologia ao crime”.
Conforme este Diário explicou, em artigo publicado na edição dessa sexta-feira (31), em ambos os casos a censura é “justificada” por motivos morais: “o crime”, a “apologia às drogas”, a “intolerância religiosa”, o “racismo”.
Uma música, uma piada, um artigo de jornal, uma obra literária, enfim, qualquer coisa deixou de ser isso e passou a ser passível de crime. Se alguém de direita não concorda com alguma coisa que foi dita numa música, a solução é censura. Se alguém de esquerda não concorda ou acha ofensivo alguma coisa que foi dito, a solução é… censura.
Não qualquer censura, os órgãos repressivos do Estado são logo acionados para calar as pessoas com as quais não se concorda.
O fato de que a esquerda esteja usando o mesmo método que a direita é mais perigoso para a esquerda, porque esta não tem nem de longe o mesmo respaldo nessas instituições. Portanto, nessa queda de braço, a direita vai se sair melhor.
Basta ver o caso em questão. Quantas pessoas de religião de matriz africana existem no Ministério Público? Quase nenhuma. E quantos evangélicos ou religiosos conservadores? Muitos.
Esses órgãos que entraram com a petição contra Cláudia Leitte ou estão sendo manipulados, ou são mal-intencionados, porque a única função de sua ação é fortalecer um sistema repressivo que só pode prejudicar os próprios negros e a população oprimida em geral.
É óbvio que não vale a pena tudo isso por causa de uma palavra que Cláudia Leitte mudou na música. Se ela quer mudar a palavra, que faça. Os outros têm todo o direito de criticar a mudança. Mas chamar os órgãos estatais para perseguir a cantora, é dar um tiro no próprio pé. E isso está cada vez mais claro.