A Missão de Observação Internacional da Associação Americana de Juristas (AAJ) apresentou, nesta quarta-feira (3), um relatório preliminar sobre as eleições gerais realizadas em Honduras. No documento, a entidade afirma que a intervenção aberta de autoridades estrangeiras “colocou em crise a legitimidade democrática do processo” e pode configurar um golpe eleitoral em curso.
Segundo a missão, declarações públicas do presidente norte-americano, Donald Trump, e do presidente da Argentina, Javier Milei, em apoio aos candidatos da direita hondurenha, Nasry Asfura e Salvador Nasralla, representaram uma violação flagrante ao princípio de autodeterminação dos povos. Trump chegou a condicionar apoio econômico ao país à vitória da oligarquia local e prometeu, caso reeleito, indultar o ex-presidente hondurenho Juan Orlando Hernández, condenado a 45 anos de prisão por narcotráfico nos Estados Unidos.
A AAJ destaca “a enorme gravidade da intervenção externa” e conclui que as declarações “constituem flagrante violação da soberania hondurenha”. O relatório pede que Estados e organismos internacionais se abstenham de exercer qualquer pressão sobre o processo eleitoral, reafirmando o direito do povo de decidir “sem interferências e sem chantagens”.
A missão também registra problemas técnicos na transmissão preliminar de resultados pelo sistema de Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares (TREP). Segundo o documento, essas projeções parciais “podem distorcer a percepção do resultado final”, razão pela qual a AAJ recomenda aguardar a contagem oficial de 100% das atas das Juntas Receptoras de Votos antes de qualquer reconhecimento definitivo.
Os observadores relatam falhas na implementação do sistema biométrico, dificuldades de conectividade em vários centros de votação e problemas específicos na identificação de eleitores idosos, tanto pela impressão digital quanto pelo reconhecimento facial. O relatório manifesta “enorme preocupação” com vazamentos de informações internas do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que indicariam a existência de um esquema de suborno e de manipulação do TREP.
Nesse ponto, a AAJ cita áudios atribuídos à conselheira Cossette López, ligada ao Partido Nacional, nos quais se mencionaria a obstrução de maletas eleitorais, interferência na logística e possível tentativa de envolver setores das Forças Armadas em um golpe.
A candidata presidencial do Partido Liberdade e Refundação (Libre), Rixi Moncada, denuncia que está em curso um “golpe eleitoral” articulado por meio de irregularidades técnicas, manipulação da imprensa e interferência externa sem precedentes na história recente da região.
Os resultados preliminares divulgados pelo TREP apontam um empate entre Salvador Nasralla e Nasry Asfura, representantes do antigo bipartidarismo hondurenho, e colocam Moncada em terceiro lugar, com cerca de 19% dos votos. O Libre não reconhece esses números e exige transparência total no escrutínio.
Pela lei eleitoral de Honduras, o CNE tem até 30 dias após o pleito para publicar o resultado oficial e proclamar o vencedor. O prazo expira em 30 de dezembro, sob intensa pressão interna e externa.





