O processo golpista iniciado com a derrubada a presidenta Dilma Rousseff em 2016 e o impedimento da candidatura do presidente Lula nas eleições de 2018 não terminou. Seu capítulo mais recente é a denúncia aberta contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, uma figura que qualquer esquerdista deve detestar pelos crimes reais que cometeu, mas que não está sendo denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por nada minimamente parecido com um crime, ou pior ainda, um golpe de Estado, como o imperialismo quer que os mais desesperados na esquerda acreditem.
O movimento é parecido com o que fizeram na década passada, para inflamar um setor mais radicalizado da direita até que o governo do PT caísse. 11 anos após a emergência da força-tarefa golpista da Lava Jato, eis que é a extrema direita está na mira da burocracia judicial. Se os campos atacados mudaram radicalmente, o responsável pelo ataque não. Foi o Supremo Tribunal Federal que deu início à reorganização do regime político brasileiro, ainda com o processo do Mensalão, em 2012, onde já eram perceptíveis os sinais de que o imperialismo ia intervir de maneira mais decidida no País e o Judiciário é que desempenharia a tarefa de executar a intervenção.
Dois anos depois, surgia a operação Lava Jato, poucos meses após o norte-americano Edward Snowden (ex-NSA) revelar que o “Brasil é o grande alvo dos EUA” ao jornalista norte-americano radicado no Brasil, Gleen Greenwald. Embora executada por vaqueiros de toga do Paraná, a operação golpista sempre foi orientada pelo STF, com o ministro Luís Roberto Barroso praticamente atuando como um padrinho e orientador de Moro, Dallagnol e companhia. O famigerado Inquérito das Fake News de Alexandre de Moraes foi apenas a continuação do mesmo processo que tem agora, na denúncia de Bolsonaro, seu mais recente desenvolvimento, mas que certamente não será o último.
Enquanto o imperialismo não tiver o regime brasileiro sob seu controle, as intervenções do STF no regime político continuarão acontecendo, mais ou menos veladas como no caso da Lava Jato, ou de maneira totalmente escancarada como agora. Concretamente, isso significa que enquanto a ditadura judicial não for devidamente enfrentada, toda sorte de manobras golpistas serão utilizadas pelo STF para impedir que alguém verdadeiramente popular chegue à presidência da República, seja na esquerda, seja na direita.
Por mais que a esquerda odeie Bolsonaro (e há razões de sobra para isso), as celebrações contra mais esse golpe em marcha, longe de resolver os problemas da esquerda, estão aprofundando o poder dos responsáveis pela queda da presidenta Dilma, a prisão de Lula e todo o pacote maldito de ataques aos direitos dos trabalhadores derivados dessas derrotas históricas do campo. É preciso ter a cabeça no lugar e não se deixar levar por ilusões de que a perseguição ao bolsonarismo favorece a esquerda, porque não é o que vai acontecer, muito pelo contrário.
O preço de apoiar as arbitrariedades do STF é que, fatalmente, a esquerda será vítima delas também, uma vez que o golpe em marcha desde 2012 se fortalecerá. Por mais que Bolsonaro seja uma figura detestável, o preço de apoiar as loucuras da ditadura judicial é muito alto. Longe de apoiar o STF, é preciso combatê-lo.