As medidas tarifárias de Donald Trump contra o Brasil e outros países despertaram, entre determinados setores direitistas, um falso sentimento “soberanista” que, curiosamente, foi impulsionado pela própria imprensa burguesa brasileira.
Logo atrás veio a imprensa da esquerda pequeno-burguesa, que tem seguido fielmente o que dita a rede Globo e os demais meios de comunicação. Basta ver a política com relação à Donald Trump e ao próprio Supremo Tribunal Federal (STF). O que a Globo fala a esquerda pequeno-burguesa fala também.
Um caso parecido é o de Alberto Cantalice, membro da Direção do Partido dos Trabalhadores (PT), que, em texto recente publicado no Brasil 247, afirmou que “as tarifas de Trump, o servilismo da extrema direita brasileira e o desafio da independência tecnológica são o centro do debate sobre a soberania nacional”.
Que as medidas de Trump são, de fato, uma ingerência contra a política nacional, não é novidade. Na verdade, a política norte-americana é, desde sempre, uma ingerência contra os países todos, não só contra o Brasil. Basta ver o que fizeram com Cuba, por exemplo.
A ideia central de Cantalice, de toda a esquerda e da rede Globo é que “a imposição da sanção de 50% nas exportações brasileiras para os Estados Unidos, país que é superavitário na balança comercial com o Brasil, usando como mote uma mentirosa perseguição a Bolsonaro e sua quadrilha pelo STF, aponta que a escalada do atual ocupante da Casa Branca, além de deletéria, foge a qualquer parâmetro de civilidade nas relações internacionais”.
A questão do STF é uníssona entre a esquerda pequeno-burguesa e a imprensa nacional. A imprensa imperialista e a esquerda apoiam as medidas contra os bolsonaristas, por mais ilegais que sejam. É claro que o processo contra os manifestantes de 8 de janeiro é parte de uma perseguição política, bem como os processos contra Jair Bolsonaro. É uma manipulação eleitoral para o pleito de 2026, tal como já fizeram anteriormente contra Lula.
Mas o fato é que a posição “soberanista” da rede Globo é uma farsa, pois, uma posição nacionalista, soberana, começa, em primeiro lugar, com reestatização de todas as empresas públicas que foram vendidas pela direita “civilizada”, que agora está escondida atrás do STF e da Rede Globo.
As medidas de Trump fazem parte de uma “intervenção nos assuntos políticos das Américas”, como diz Cantalice. No entanto, a posição do STF, definindo quem pode ou não ser candidato, não deixa de ser uma intervenção ainda mais grave na política nacional, nos interesses dos brasileiros.
“Essa ameaça à nossa soberania mostra a necessidade urgente de o Brasil romper a dependência tecnológica que atravanca o desenvolvimento nacional”, a começar pela expulsão dos ongueiros do governo Lula e dos ambientalistas de araque da esquerda, que se colocam, por sua vez, do lado do imperialismo quando o assunto é o desenvolvimento nacional, a exploração da Margem Equatorial, etc.
“É claríssimo que a aplicação tarifária por parte de Trump visou amedrontar o governo brasileiro em sua iniciativa de fortalecer os BRICS e restabelecer uma política externa independente, que por sinal já faz parte do histórico do nosso Itamaraty”.
Seria muito importante uma política externa independente, mas o que Cantalice tem a falar sobre o caso da Palestina, onde ocorre um genocídio neste exato momento?
A política com relação aos venezuelanos e seu governo também revelaram o mesmo problema. A pedido dos Estados Unidos, o governo federal teve a falta de vergonha de exigir as atas das eleições dos venezuelanos, isso no exato momento em que o STF ajusta as eleições de 2026, para vencer aquele que deve vencer, segundo a burguesia.
“O Brasil é um país soberano e não deve se subsumir à lógica de nenhuma grande potência. Busquemos o nosso caminho”, diz Cantalice, e esse caminho começa, dentre outros, por eleger os ministros e juízes. Tal como está, o Poder Judiciário está nas mãos dos mais poderosos, pois não existe controle popular sobre ele.
Além disso, o soberanismo de araque da esquerda e da rede Globo esquece de mencionar que, para ser soberano, o país precisa se desenvolver, explorar o petróleo, desenvolver a indústria; reestatizar todas as empresas e demais bens públicos que foram vendidos (estradas, parques, etc.). Diante dessas questões, na realidade, as tarifas de Donald Trump perdem completamente a importância.
