Brasil

O que pensa a esquerda sobre o Irã?

A questão do Irã fez a esquerda "revolucionária" sair do armário e apoiar o imperialismo e o sionismo

Desde o dia 13, todo o mundo tem acompanhado o conflito militar aberto entre o imperialismo e o Irã, que ocorre no presente momento por meio do principal instrumento do imperialismo no Oriente Médio, o Estado de “Israel”. Após ser atacado por mísseis e drones vindos do “Pequeno Satã”, apelido cunhado pelo falecido aiatolá Khomeini para o enclave imperialista, o Irã reagiu com uma longa sequência de ataques contra o país artificial.

Os estragos causados na entidade sionista são gigantescos. Netaniahu proibiu a saída dos cidadãos israelenses do país, transformando “Israel” em uma verdadeira prisão. Apesar da censura governamental sobre imagens dos bombardeios, há centenas de vídeos mostrando a destruição em Telavive, Haifa e outros locais, são dezenas de alvos militares atingidos, incluindo um edifício do Mossad. A situação é muito crítica, o governo Netaniahu tem implorado pela ajuda dos Estados Unidos, no entanto, Trump titubeia, mesmo com toda a pressão do imperialismo nesse sentido.

Diante de acontecimentos desse porte, seria de se esperar que diversos setores da esquerda brasileira estivessem comemorando o duro golpe sofrido pelo imperialismo e pelo sionismo. No entanto, o que se vê é exatamente o oposto.

Setores da chamada “esquerda revolucionária” brasileira, ou ainda “radical”, como eles gostam de se chamar, têm se destacado não pela solidariedade internacionalista, pela defesa intransigente do Irã, mas por uma submissão vergonhosa aos interesses dos EUA e de “Israel”. Partidos como o PCBR, a UP, o PSTU e alas do PSOL e do PT optaram por uma postura servil ao sionismo e ao imperialismo.

A Esquerda que Abandonou a Luta Anti-Imperialista

Historicamente, a esquerda brasileira posicionou-se contra as agressões imperialistas, seja na Palestina, na América Latina ou em qualquer território sob ataque do eixo EUA-Israel-OTAN. No entanto, diante do recente conflito entre Irã e “Israel”, em vez de denunciar as agressões de Israel, um Estado de apartheid e ocupação, preferiram atacar o governo iraniano, repetindo as mentiras da gigantesca máquina de propaganda da grande imprensa capitalista internacional e ignorando o direito à autodefesa das nações sob ameaça imperialista.

O PSTU, saindo do seu roteiro tradicional, publicou uma matéria, que originalmente é do sítio Worker’s Voice onde se posicionam contra as agressões ao Irã, dizendo que “diante dessa agressão de um Estado que conta com o total apoio militar do imperialista Estados Unidos, o Irã tem o direito e a obrigação de se defender”. Ao mesmo tempo, jogam lama no regime dos aiatolás, afirmando que “a República Islâmica do Irã não é uma aliada de princípios da libertação política em geral, ou mesmo da Palestina em particular. (…) Na Ucrânia, apoiaram o imperialismo russo, fornecendo armas ao arsenal russo. E, internamente, massacraram esquerdistas e reprimiram ferozmente mulheres e minorias étnicas“.

Ao mesmo tempo em que “apoiam” o Irã, fazem essas caracterizações sobre o regime. Uma posição que destoa do apoio explícito ao imperialismo que tem sido um destaque da política do PSTU. Seria o gato escaldado com medo de água fria?

O PCBR, por sua vez, em vez de solidarizar-se com o Irã, a Resistência Palestina e seus aliados, prefere fazer coro com as críticas direitistas ao eixo de resistência (Irã, Síria, Hesbolá, Ansar Alá do Iêmen), dizendo defender o “povo iraniano” em abstrato. Eles dizem que “os principais atingidos por essa política de guerra não são os governos, mas os povos. São os trabalhadores iranianos, as mulheres, os jovens, os aposentados — já profundamente explorados por um regime autocrático e capitalista — que arcam com o custo da guerra e da instabilidade. A escalada militar, combinada à brutal repressão interna e à desigualdade social extrema, aprofunda o sofrimento do povo iraniano e evidencia que nenhuma libertação popular virá por meio de regimes que exploram sua própria classe trabalhadora enquanto usam o discurso “anti-imperialista” como verniz de legitimação”.

Quer dizer, para o PCBR, a resistência organizada pelo Irã, através do Hesbolá no Líbano, Hamas e resistência palestina em Gaza, o Ansar Alá no Iêmen, não são forças políticas e militares reais, mas apenas “discurso anti-imperialista”. Diante disso, como classificar a ação política do PCBR?

A nota chega ao cúmulo de apoiar um movimento pela “revolução” (derrubada) do governo do Irã, em plena guerra contra “Israel”, ao dizerem que “nos solidarizamos com os esforços das forças progressistas e comunistas do Irã — como o Tudeh e sua Juventude — que, mesmo sob duríssima repressão, organizam a resistência popular e lutam por uma alternativa democrática, laica, socialista e enraizada nas demandas reais do povo iraniano”. Quer dizer, quem está lutando não é o governo iraniano, mas o Tudeh.

Enquanto isso, setores do PSOL e do PT tem simplesmente ignorado a situação no Irã. Não há, no sítio do PT na internet, uma única matéria sobre os ataques mútuos entre Irã e Israel, é como se nada estivesse acontecendo.

O anti-imperialismo não é seletivo, nem defende “povos” e “trabalhadores” em abstrato

Uma esquerda que se reivindica e que pretende ser verdadeiramente revolucionária deve defender todo e qualquer governo ou movimento que efetivamente resiste ao imperialismo, independentemente de divergências ideológicas. Cuba, Coreia do Norte, Venezuela, Síria, Irã, Hesbolá, Hamas, as forças do Ansar Alá do Iêmen são exemplos de resistência que merecem todo o apoio, não ataques pela esquerda que se rendeu ao imperialismo. O mesmo se aplica à Rússia, que enfrenta a OTAN na Ucrânia e os países africanos da chamada república do Sahel, como o Mali, Niger e Burquina Fasso.

Não existe, ao contrário do que diz o PCBR e outros setores, um “povo”, nem “trabalhadores” abstratos. Os povos se organizam por meio de governos e estados. Para disfarçar a sua política pró imperialista, esses setores exigem que o governo Lula rompa com o Estado de “Israel”, o que é curioso, uma vez que eles não apoiam o Irã, que está efetivamente lutando contra os sionistas.

Além disso, por coerência, eles deveriam exigir que o “povo brasileiro” rompesse com a entidade sionista, e não se dirigir ao governo Lula. Isso mostra todo o oportunismo e a rendição ao sionismo e ao imperialismo. No entanto, preferem atacar o Irã — que nunca invadiu um país estrangeiro, mas é constantemente ameaçado pelos EUA e Israel — enquanto fazem vistas grossas aos crimes do imperialismo.

Uma esquerda que virou uma caixa de ressonância do imperialismo

Não há revolução possível sem anti-imperialismo. E não há anti-imperialismo quando se escolhe criticar os inimigos determinados pela imprensa imperialista. A postura desses partidos e organizações não é apenas uma traição à causa palestina e aos povos oprimidos do mundo; é uma rendição ideológica ao sionismo e ao imperialismo.

A esquerda verdadeiramente revolucionária está com a Resistência Palestina, com o Irã, com a Síria, com Cuba, enfim, com toda nação que efetivamente enfrenta o imperialismo.

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