Fábio Picchi

Militante do Partido da Causa Operária (PCO). Membro do Blog Internacionalismo e do Coletivo de Tecnologia do Partido da Causa Operária. Programador.

Coluna

O que é ‘inteligência artificial’?

Compreensão errada sobre grandes modelos de linguagem é fonte de especulação e misticismo

Pedimos perdão aos leitores pela repetição, mas o tema é uma obsessão deste colunista. Fomos derrotados no terreno terminológico e, portanto, considerem aposentadas as aspas sempre utilizadas para falar sobre “inteligência artificial” neste espaço. Essa foi a última vez. Ainda assim, pretendemos dar uma interpretação intuitiva do termo a fim de esclarecer seu significado misterioso. Seria o ChatGPT ou o DeepSeek aplicações inteligentes como nós, uma inteligência criada artificialmente por seres humanos? Pretendemos demonstrar que não.

Vemos o termo inteligência artificial aplicado tanto a grandes modelos de linguagem como ChatGPT/DeepSeek, quanto para outras aplicações nunca descritas em detalhe, como quando falam em “uso militar”. Como poderíamos utilizar o DeepSeek para fins militares? Para povoar redes sociais e uma série de sítios falsos na internet? É possível, mas dificilmente esse tipo de arma seria tão efetiva quanto uma bomba atômica. Na prática, quando falam em inteligência artificial no campo militar referem-se a aeronaves e veículos não tripulados, controle de mísseis, até mesmo androides, cada vez mais ágeis e móveis, como demonstra a empresa norte-americana Boston Dynamics. Todas essas aplicações são tidas como inteligência artificial (ou aprendizagem de máquina) e guardam uma similaridade entre si —  todos são modelos estatísticos computados a partir de uma grande amostra de dados relacionados à atividade específica que devem executar —, mas seu processo de elaboração é muito diferente, assim como suas entradas e saídas.

Poderíamos enxergar cada um desses modelos como áreas do nosso cérebro, cada uma responsável por uma funcionalidade do corpo humano, desde a fala até a movimentação, visão, imaginação, etc. Poderíamos se soubéssemos com certeza que o cérebro funciona de forma compartimentalizada e que seu princípio de funcionamento é estatístico. Ou seja, que aprendemos por tentativa e erro; punição e recompensa.

O psicólogo comportamental Burrhus Frederic Skinner já demonstrou que isso é certamente parte do processo de aprendizagem, mas que não explica o todo, como o linguista Noam Chomsky procurou demonstrar num dos debates científicos mais importantes do século passado. É difícil, portanto, aceitar o termo inteligência artificial se sequer sabemos como funciona a inteligência natural.

Nosso argumento, portanto, se ateve ao primeiro termo do jargão. Gostaríamos de dar um passo além e demonstrar que a tal inteligência, se realmente for, também não é artificial. Sua base é natural, conjuntos de dados criados por seres humanos, sejam eles imagem, texto, áudio. Para a audiência técnica, sim, sabemos da existência de dados sintéticos, mas estes nada mais são que derivações controlados de dados reais, ou seja, naturais. A inteligência artificial, portanto, poderia ser vista como uma extrapolação estatística da realidade. 

Finalmente, os grandes modelos de linguagem, os modelos da moda, são preditores de palavras. Dada uma sequência de palavras (estrutura de qualquer tipo de texto), os modelos, com base nos dados que observaram durante seu treinamento, prevem a próxima palavra.

Dito isso tudo, gostaríamos de propor uma interpretação para esses grandes modelos de linguagem. Tais modelos, como os da DeepSeek e da Open AI, nada mais são que motores de busca para a era dos Zettabytes. Estima-se que o conteúdo da internet em 2024 seja da ordem de 179 Zettabytes, 179 * 1021 bytes, 179 giga terabytes. Todo esse volume de dados impede que a abordagem tradicional do Google seja suficiente para nos entregar resultados satisfatórios (isso se excluirmos as propagandas eternamente irritantes que poluem os resultados). No mais, o Google não tem acesso a documentos (alguns protegidos por propriedade intelectual) que foram utilizados no treinamento dos grandes modelos de linguagem.

Portanto, nada mais são que uma versão comprimida de toda a produção textual humana a que tiveram acesso durante seu treinamento. Quando pedimos para nos responderem alguma pergunta, estão apenas buscando a resposta mais provável nesse conjunto de dados comprimido que carregam consigo. É uma ferramente incrivelmente útil, principalmente na era do excesso de informação, na qual sofremos não com a dificuldade de acesso, mas com a dificuldade de separar o que é dispensável daquilo que nos interessa. Mas essa grande utilidade não faz desse sistema uma entidade inteligente.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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