Polêmica

O problema não é a crítica, mas as medidas impopulares

A crise do Pix tem a ver com as medidas impopulares, e não com as ditas "fake news"

A polêmica do Pix deu vazão a uma das maiores crises do governo Lula neste mandato. De tão impopular, o governo foi obrigado a recuar da medida que, como resultado final, iria servir para cobrar imposto de renda de gente pobre e que hoje em dia não paga imposto de renda.

No meio da confusão, representantes do Partido dos Trabalhadores (PT) não conseguem tirar a conclusão óbvia: é preciso parar de tomar medidas contra a população. Dentre os confusos (ou talvez mal intencionados), está Alberto Cantalice, que, em recente texto publicado no Brasil 247, afirma que o “PT e o conjunto da esquerda brasileira precisam reagir”.

Neste texto, Cantalice, que é diretor da Fundação Perseu Abramo e membro da Direção do PT, afirma que um dos problemas é que “grande parte dos parlamentares e figuras políticas das esquerdas ficam nas platitudes: ou são meros divulgadores das ações do governo, quando o governo tem estrutura e recursos para divulgar seus atos, e outra parte fica o tempo todo atacando a política econômica de Lula e Haddad”.

Aqui é preciso dizer que os críticos do governo Lula e das medidas impopulares de Haddad estão certos na medida em que a crítica serve, na verdade, para defender o governo. Uma crítica à esquerda das medidas adotadas pelo governo federal serve para pressionar e levar o governo Lula a atender os interesses populares, única medida capaz de sustentar o governo do PT diante da direita, do bolsonarismo.

No entanto, não é possível impedir que outras pessoas, talvez não tão esclarecidas politicamente, façam críticas ao governo pura e simplesmente por estarem revoltadas com as medidas impopulares. Estas já perderam totalmente a confiança no governo e será difícil recuperá-las. Isso sem falar no “prato cheio” que isso foi para a campanha do bolsonarismo.

Cantalice também afirma que “boa parte dos parlamentares da esquerda e da centro-esquerda, e em especial os parlamentares do PT, usam suas redes não para empreender a disputa política de narrativas, e sim para promoção pessoal. Isso demonstra um completo descolamento da realidade concreta que vivemos”. 

Que a comunicação do governo federal e do PT é um desastre, todo mundo já sabe. Só que diante deste problema, a saída do governo federal foi apostar na censura da direita e confiar sua comunicação no ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O caso do Pix revela que essa “estratégia” vai levar a muitas derrotas, além da censura já estabelecida pelos deuses não eleitos do STF.

Tanto é assim que, diante do desastre da “fiscalização” do pix, o governo, por meio da AGU Advocacia-Geral da União (AGU) encaminhou um pedido à Polícia Federal (PF) para investigar a “disseminação de informações falsas sobre taxação do Pix”. Ou seja, não bastou o fracasso da política de fiscalizar o Pix. É preciso mais medidas impopulares, censura e polícia no encalço das milhares ou milhões de pessoas que disseminaram o vídeo de Nikolas Ferreira (PL-MG) e outros. É difícil ser mais impopular que isso. 

Também é necessário ressaltar que o problema todo não se trata de  uma questão de “comunicação”. A medida era impopular e ponto. Não há comunicação boa o suficiente para enganar a pessoa que teria suas transferências vigiadas e seu dinheiro arrancado dela a partir do momento em que a medida fosse posta em prática. Desconsiderar o fato de que o povo entende perfeitamente essa questão é subestimar a inteligência dos brasileiros.

É de se destacar que o próprio Cantalice é o homem que defende passar o “pente fino” nos programas sociais do governo. Todo mundo sabe que esse “pente fino” serve para cortar os programas sociais. Ao invés de atacar os banqueiros, atacar a população. Esse é o problema.

Reforçando, o problema não é de comunicação, mas as medidas econômicas e políticas em si. O problema não é o Nikolas Ferreira a direita e seus vídeos. O problema são as medidas práticas que estão sendo adotadas pelo governo federal. Agora, com o recuo do governo diante da questão Pix, ficou claro que a medida era, de fato, um ataque contra a população mais pobre. Se assim não fosse, não haveria recuo. A derrota dessa medida não deixa de ser uma vitória popular, e que a direita soube aproveitar muito bem.

Cantalice conclui: “Há que se continuar exigindo uma mudança de rota na comunicação, porém, cada um de nós tem que fazer a sua parte. 2026 ainda está longe. Entretanto, é no embate diário que se constrói o caminho.”

As mudanças não devem ser na comunicação do governo, mas nas políticas econômicas e sociais que precisam ser adotadas para ajudar os pobres e trabalhadores, e os ministros precisam atuar nesse sentido. É preciso expulsar do governo todos aqueles que querem enfiar a mão no bolso do trabalhador. Esta é a única saída para Lula e para evitar um desastre da esquerda de conjunto em 2026.

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