O atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem sido alvo de duras críticas vindas não apenas da oposição, mas de setores da esquerda e do próprio governo. Em artigo publicado no último dia 16 no portal de esquerda Brasil 247 e intitulado Haddad em seu labirinto, o publicitário Ruy Nogueira acusa o ministro ser “um sujeito extremamente vaidoso”, arrogante e insensível, o que é verdadeiro, mas ainda está longe de ser uma questão central para o problema que o ministro representa hoje. A essência da crise é de natureza política, oriunda do fato de Haddad ser um político pequeno-burguês e, por isso mesmo, plenamente capaz de implementar uma política econômica neoliberal, privilegiando banqueiros e grandes capitalistas, enquanto aprofunda os ataques contra os trabalhadores e a população pobre.
Como ministro da Fazenda, Haddad consolidou sua imagem de operador da política de rapina, em que o setor financeiro se refestela com lucros astronômicos, enquanto o povo sofre com juros exorbitantes e a carestia. Sua proximidade com o imperialismo não é fruto de um erro ou de uma simples “teimosia”. Trata-se de uma expressão direta de sua posição de classe. Haddad não é um representante dos trabalhadores, mas sim da pequena burguesia carreirista, desprovida de uma base social verdadeira e por essa razão, desprovida também de princípios.
Desde que assumiu o comando da Fazenda, Haddad tem sido um fiel escudeiro do setor mais parasitário da economia: os banqueiros. O Brasil continua organizando sua economia de modo a comportar taxas de juros absurdamente altas e ter no pagamento delas sua prioridade.
Isso lhe rende elogios na imprensa burguesa e a manutenção de lucros fabulosos para os monopólios privados do sistema financeiro, porém sufocam a economia produtiva e esmagam as famílias trabalhadoras. Apesar das promessas de mudança, sua política tem mantido as bases do mesmo modelo econômico neoliberal implantado desde o golpe de 2016.
A insatisfação popular com as políticas de Haddad não é gratuita. Seus ataques ao bolso da população trabalhadora criaram um ambiente propício para a “crise do Pix” – o anúncio da fiscalização do sistema pagamentos que ameaçava criar mais um ataque econômico contra os setores mais pobres da população -, aproveitada pelo deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG) e pela extrema direita, que a usou como munição política e expôs a total desconexão do ministro com a realidade do povo brasileiro.
A imprensa imperialista tenta melhorar a imagem do ministro, apontando para índices econômicos supostamente positivos. A realidade é outra. Como lembrado por Nogueira, o ministro repete os erros de sua triste passagem como prefeito de São Paulo, lembradas pelo publicitário:
“Haddad governou de forma muito autoritária, distante de Lula e de costas para o PT, comprando brigas inglórias com os taxistas, por exemplo, tornando a cidade um big-brother tenebroso, coalhando ruas e esquinas com o odiados ‘pardais’ eletrônicos, instituindo a abjeta indústria das multas e impondo velocidades máximas ridículas nas marginais e principais vias (na capital do progresso, da pressa, das pessoas em constante movimento). Recordo-me de minhas voltas da casa na Serra da Mantiqueira, aos domingos à noite. Vinha nos regulamentares 120 km/hora, até a divisa de Guarulhos com São Paulo, onde inacreditáveis 40 km/hora provocavam a imediata reação de minha então mulher, a bela e talentosa Valquiria: ‘Pelo amor de Deus, não precisa mais xingar! Eu já sei que Haddad é um desastre!’ E eu, petista filiado, constatava o fracasso do prefeito que ajudei a eleger.”
Sua gestão à frente da Prefeitura de São Paulo é um exemplo claro de sua política direitista. Durante os protestos de 2013, Haddad mostrou-se incapaz de compreender o que estava em jogo. Ao invés de buscar o diálogo com os movimentos, insistiu em um aumento das tarifas do transporte público que serviu como estopim para uma crise política de proporções nacionais.
“Na reeleição”, lembra mais uma vez Nogueira, “Haddad obteve míseros 16,70% dos votos, perdendo em TODAS as zonas eleitorais para um João Dória, que jejuno nas urnas aplicou-lhe humilhante sova obtendo 53,29% dos votos já no 1º turno, fato inédito na história paulistana”. Sobre a crise totalmente fora de propósito com o sistema de pagamentos Pix, o autor também destaca a nova demonstração de insensibilidade popular total do ministro:
“Um ministro da Fazenda deve saber que o Pix é sagrado, ‘imexível’, faz parte do cotidiano dos brasileiros. A tragédia política e comunicacional do Pix é obra dele [Haddad], só dele. Nikolas é um fascista fazendo o que um fascista faz sempre. O problema não é ele. É o ministro [grifo nosso] que conduz a economia com índices invejáveis, em ciclo inegavelmente virtuoso, e não consegue transmitir o extraordinário feito aos brasileiros. Repete na Fazenda a mesma política de comunicação da prefeitura, entregue à dinossauros que teclam máquinas Remington e Olivetti.”
As críticas de Ruy Nogueira, apesar de seus equívocos ao insistir em um ângulo personalista, refletem um fato inegável: há uma crise crescente na base do governo Lula, alimentada pela política econômica de Haddad. O ministro da Fazenda tem sido alvo de insatisfação de diversos setores da esquerda, que veem em sua gestão um descompasso com os interesses populares que ele deveria representar.
O descontentamento com Haddad é mais um sintoma da fragilidade de uma política voltada a tentar conciliar os interesses do povo com os dos banqueiros. Essa tentativa de agradar aos vampiros do erário público, enquanto abandona os trabalhadores à própria sorte, é uma receita certa para o desastre. É preciso dizer claramente: Haddad não é vítima de sua “arrogância”, mas sim de sua escolha consciente de aplicar uma política neoliberal.
Não é Haddad quem vai mudar. Sua posição de classe o empurra inexoravelmente para o lado dos banqueiros, dos grandes empresários e dos parasitas que sugam a riqueza nacional.
Se o governo não romper com essa política de rapina levada adiante pelo ministro, abrirá espaço para o fortalecimento da extrema direita, para ser atacado com o inesgotável arsenal da demagogia bolsonarista, que fatalmente se aproveitará do descontentamento popular para sua autopromoção. A única saída é demitir Haddad e adotar uma política verdadeiramente voltada para os interesses dos trabalhadores.