No último sábado (9), o portal UOL divulgou uma matéria de autoria de Josias de Souza intitulada “Bolsonarismo e patrimonialismo testam a solidez da democracia”. Nela, apresenta centralmente a ideia que coloca o bolsonarismo como principal ameaça à democracia brasileira, destacando supostos ataques institucionais e crises políticas como reflexo do movimento liderado por Bolsonaro. O problema dessa abordagem, além de ser fictícia, se dá no fato do autor esquecer, em todo o seu texto, daqueles que golpearam Dilma em 2016. A verdadeira ameaça à democracia no Brasil é o imperialismo e a burguesia, que historicamente manipula as instituições para garantir seus interesses.
Em primeiro lugar, a reportagem ignora que o bolsonarismo foi, em grande medida, um instrumento utilizado pela burguesia para golpear a esquerda, sobretudo o Partido dos Trabalhadores. Ou seja, sua ameaça se dá justamente quando há o suporte do imperialismo. O bolsonarismo não surge como uma força autônoma, mas como sintoma de um ataque do estrangeiro ao Brasil, especialmente do imperialismo norte-americano.
Contrariamente ao que sugere Josias de Souza, a verdadeira ruptura institucional não foi obra do bolsonarismo em si em um suposto golpe de araque que nunca ocorreu, mas das forças da burguesia, chamadas pelo autor de democráticas, que deram o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff em 2016, retirando a legitimidade democrática que o povo brasileiro havia conferido, e que posteriormente impediram a candidatura do presidente Lula em 2018. Essa burguesia, sob ordens do imperialismo, mostrou seu desprezo pelas regras democráticas da própria democracia burguesa quando estas ameaçavam seus privilégios e lucros, ainda que minimamente.
A matéria veiculada na UOL também minimiza o papel das potências estrangeiras, em especial os Estados Unidos, que pressionam as instituições brasileiras como o STF e o Congresso para garantir seus interesses, como se o problema fosse um suposto caos interno induzido pelo bolsonarismo. Na verdade, essa interferência externa, sim, é uma clara afronta à soberania nacional e à democracia brasileira, ao contrário da tese apresentada.
O autor apresenta, com as seguintes palavras, que “ironicamente, conspiram contra a sociedade dentro do Congresso, templo da representação popular”. Com todo o apresentado até aqui neste artigo, já é possível identificar a verdadeira ironia, seja por ingenuidade ou canalhice, de enaltecimento do Congresso como “templo da representação popular”. Sendo esta sua tese, o que pensaria o autor quando o Supremo Tribunal Federal retira direitos políticos de políticos bolsonaristas eleitos para o tal templo?
Além disso, as ações judiciais e perseguições contra o bolsonarismo são produto da mesma burguesia que apoia o regime e manipula as instituições para excluir adversários políticos e preservar os verdadeiros vampiros e tubarões do PSDB, PMDB, PSD e afins. Porém, é claro, o autor ignora tal informação. O uso seletivo da justiça para perseguir determinados setores do espectro político, como defende Josia, não é, na verdade, defesa da democracia, mas sim da perpetuação do poder da burguesia e do fortalecimento do aparato repressivo burguês.
Há, no fim do texto, uma fala que merece ser trazida na íntegra, dado o nível de atrocidade presente em cada palavra escrita: “Nenhuma outra democracia do mundo oferece tantas opções ideológicas como as que existem no Brasil: esquerda, meia-esquerda, um quarto de esquerda, liberal, social-democrata de bico rachado, centro, centrão, direita feijão com arroz, agrodireita, direita de Cristo… Há espaço para quase tudo, exceto para golpistas camuflados de patriotas.” Em resumo, o que o autor traz é: você pode estar representado dentro dos partidos da burguesia, seja pequeno-burguês, extremamente burguês, burguês do campo, sutilmente burguês, nacionalista burguês ou burguês abertamente entreguista. O que não pode é sair deste campo.
Sobre este ponto anterior, é aqui que entra o fato do discurso que identifica o bolsonarismo como única ameaça à democracia diluir o entendimento sobre o real funcionamento das contradições de classe no Brasil. O imperialismo e sua burguesia são os verdadeiros inimigos dos direitos democráticos, pois utilizam as instituições para manter a sociedade brasileira subordinada aos interesses do capital e do mercado financeiro, deixando as massas cada vez mais excluídas. A crise política atual, com tensões no Congresso, no STF e manifestações diversas, deve ser compreendida nessa conjuntura, e não reduzida a um fenômeno isolado fictício e hipotético.





