O governo em Gaza divulgou na segunda-feira (22) um balanço segundo o qual, desde o início do cessar-fogo em 10 de outubro, “Israel” assassinou 411 palestinos e feriu 1.112, ao violar de forma sistemática o acordo e seu protocolo humanitário ao longo de 73 dias. O levantamento registra 875 violações, entre tiros contra civis, incursões em áreas residenciais, bombardeios e demolições de estruturas civis.
De acordo com o Gabinete de Imprensa do governo em Gaza, foram 265 casos de tiros diretos contra civis, 49 incursões de veículos militares em áreas residenciais, 421 episódios de bombardeio e ataques contra palestinos e suas casas, além de 150 ações de demolição e destruição de edifícios e instalações civis. O balanço também registra 45 prisões ilegais realizadas pelas forças de ocupação.
Bloqueio à ajuda e estrangulamento do combustível
No mesmo comunicado, o governo em Gaza registrou que “Israel” descumpriu o compromisso de permitir a entrada regular e suficiente de ajuda humanitária. No período, entraram 17.819 caminhões de ajuda, de um total planejado de 43.800, 41% do previsto.
O estrangulamento do combustível foi ainda pior: entraram 394 caminhões, de 3.650 programados, cerca de 10%. A restrição deixou hospitais, padarias, estações de água e sistemas de esgoto em estado de quase paralisação.
O acordo previa ainda a entrada de 300.000 barracas e casas móveis para famílias deslocadas. Segundo as autoridades palestinas, “Israel” manteve a proibição, aprofundando a crise de abrigo.
Frio, tempestades e desabamentos
A destruição em massa causada pelos bombardeios transformou o inverno em mais uma sentença de morte. O governo em Gaza registrou que sistemas recentes de mau tempo provocaram o desabamento de 46 casas já danificadas, matando 15 pessoas que haviam se refugiado dentro delas. O mesmo balanço informa a morte de duas crianças por frio extremo dentro de barracas.
Mais de 125.000 barracas ficaram inutilizáveis, e mais de 1,5 milhão de deslocados ficaram sem proteção efetiva, às vésperas do período conhecido como “Quarenta Dias”, marcado por frio intenso.
Na quinta-feira passada (18), o Ministério da Saúde em Gaza informou a morte do bebê Saeed Usaid Abdeen, de um mês, vítima de frio severo. O caso elevou para 13 o número de mortos por exposição ao frio, conforme as autoridades de saúde. A Defesa Civil registrou alagamentos generalizados, a queda de 17 edifícios residenciais e desabamentos parciais perigosos em mais de 90 outros, enquanto tempestades atingem uma população vivendo em barracas rasgadas e salas de aula sem aquecimento.
Médicos alertaram que crianças, idosos e doentes crônicos estão entre os mais expostos, com hospitais operando a quatro vezes sua capacidade e enfrentando aumento de casos de hipotermia, infecções respiratórias e doenças transmitidas pela água. Entidades humanitárias registraram que itens de proteção para o inverno permanecem muito abaixo do necessário porque “Israel” segue restringindo a entrada do material prometido.
Ataques e demolições durante a trégua
Enquanto o bloqueio aprofunda a miséria, a ocupação continua a matar. Correspondentes da WAFA registraram demolições a leste da Cidade de Gaza, acompanhadas de bombardeio de artilharia e tiros de drones. Houve ações semelhantes a leste de Khan Iunis, no sul, com disparos intermitentes de veículos militares.
Na noite de sexta-feira (19), seis palestinos foram assassinados quando a artilharia de “Israel” atingiu um centro de treinamento do Ministério da Educação que abrigava famílias deslocadas em al-Tufá, a leste da Cidade de Gaza.
Tempestades sucessivas derrubaram prédios já atingidos por ataques anteriores. Dois edifícios danificados por drones desabaram na Cidade de Gaza no sábado (20), sob chuva intensa. Equipes de resgate evacuaram moradores da torre al-Awda 6, de sete andares, em Tal al-Hawa, após rachaduras estruturais e o desabamento dos quatro andares superiores; não houve feridos. Outro edifício, da família Mughni, desabou no bairro de Nasr, também sem vítimas registradas.
No domingo (21), bombardeios atingiram Shujaiya, assassinando um palestino e ferindo outros. Em Sheikh Radwan, uma casa de três andares da família Labed desabou; cinco palestinos morreram, incluindo três que ficaram presos sob os escombros. A Defesa Civil resgatou cinco pessoas, incluindo uma criança e duas mulheres.
Sem material de construção
Desde o cessar-fogo, “Israel” proibiu a entrada de materiais de construção em Gaza. A ocupação bloqueia inclusive itens essenciais, como concreto, sob o pretexto de impedir o reparo de túneis. Na prática, a população permanece obrigada a se abrigar em estruturas quebradas, com risco permanente de novos desabamentos, enquanto as demolições continuam no leste da Faixa.
A emissora libanesa Al Mayadeen registrou novos ataques em al-Tufá: cinco mortos e sete desaparecidos após um ataque contra uma escola que abrigava deslocados. Houve ainda bombardeios em áreas a leste da Cidade de Gaza e de Khan Iounis. Em outro episódio, cinco palestinos morreram ao chegar ao Complexo Médico al-Shifa, depois de a artilharia atingir uma reunião de casamento. A emissora também registrou artilharia contra Bani Suheila, a leste de Khan Iounis.
O Ministério da Saúde em Gaza informou que, em 48 horas, 13 pessoas foram assassinadas e 20 feridas, com seis mortes recém-confirmadas e sete corpos retirados de debaixo dos escombros. O órgão registrou ainda que muitos permanecem presos sob escombros ou caídos nas ruas, porque ataques da ocupação impedem o trabalho de ambulâncias e da Defesa Civil.
Desde o cessar-fogo, o Ministério contabilizou 401 mortos, 1.108 feridos e 641 corpos retirados dos escombros. O total acumulado desde 7 de outubro de 2023 chegou a 70.925 mortos e 171.185 feridos. O Ministério registrou ainda a inclusão de 243 mortes no total após verificação pelo Comitê de Mártires entre 12 e 19 de dezembro de 2025.
Fome em massa
A Organização Mundial da Saúde (OMS) registrou que qualquer redução do quadro de fome em Gaza continua “extremamente frágil”, pois a população enfrenta devastação generalizada, destruição de infraestrutura, queda da produção local de alimentos e restrições às operações humanitárias.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, registrou que mais de 100.000 crianças e 37.000 gestantes e lactantes devem sofrer de desnutrição aguda até abril de 2026. A Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC) estima que 1,6 milhão de palestinos, 77% da população, vivem níveis elevados de insegurança alimentar aguda.
O Ministério da Saúde em Gaza registrou ao menos 440 mortes por fome desde 7 de outubro de 2023, incluindo mais de 150 crianças.
Na saúde, a OMS registrou que apenas 50% das instalações seguem parcialmente funcionais, com falta geral de medicamentos, equipamentos e combustível. Tedros registrou ainda que pacientes não conseguem acessar atendimento especializado como diálise, tratamento de câncer e grandes cirurgias.
Com dados do Ministério da Saúde em Gaza, a OMS registrou que 1.092 pacientes morreram à espera de evacuação médica entre julho de 2024 e 28 de novembro de 2025, devido a atrasos e restrições impostas por “Israel”.
Hamas cobra ação dos mediadores
Diante da sequência de desabamentos e mortes, o Hamas registrou que a queda de edifícios danificados pela guerra expõe o agravamento da crise humanitária e que as violações do cessar-fogo aumentam o risco para civis. O partido cobrou ação imediata dos mediadores para interromper as violações e impor medidas para a reconstrução do território sitiado.
O “presente de Natal” imposto por “Israel” às crianças palestinas, portanto, não é figura de linguagem: é a combinação de bombas, demolições e bloqueio que produz fome, destruição do atendimento médico, desabamentos e mortes por frio em meio às ruínas de Gaza.





