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Oriente Médio

O ‘pesadelo Assad’ é pior do que a invasão sionista da Síria?

A esquerda que comemora a queda de Assad é totalmente incapaz de explicar porque está comemorando uma vitória de 'Israel'

O golpe de Estado contra o governo de Assad demonstrou como um enorme setor da esquerda pequeno burguesa internacional se tornou um apêndice do imperialismo. Comemoram a vitória da Al-Qaeda, dos EUA e de “Israel” contra o governo que participava do Eixo da Resistência, ou seja, um aliado do povo palestino em sua luta pela libertação do país. O portal International Viewpoint, supostamente trotskista, publicou o artigo de Thomas Rid, intitulado A nightmare ends, towards what hope in Syria?. É mais um dos muitos artigos de esquerda que comemoram o golpe imperialista, começa com:

Bashar al-Assad caiu. Ninguém vai lamentar. Em vinte anos de ditadura e dez anos de guerra civil, ele e sua quadrilha conseguiram transformar a Síria em uma distopia infernal, sem dúvida pior do que o Iraque sob Saddam Hussein, embora este último tenha elevado a barra muito alto. A Síria, ou pelo menos o que restou dela, não era mais do que um enorme laboratório de Captagon, comandado por traficantes tão corruptos quanto cruéis. Deixaram o povo sírio, que não havia fugido deste país morto-vivo, com apenas uma perspectiva: miséria e sofrimento, e uma única escolha: tornar-se vítima ou carrasco.

Aqui já aparece toda a política do imperialismo concentrada na introdução do texto. Primeiro, a queda de Assad gerou “lamentações” no mundo inteiro. O governo sírio era um membro do Eixo da Resistência, a aliança que luta contra o imperialismo no Oriente Médio.

Ele ajudava a armar o Hesbolá no Líbano e a Resistência Palestina. Era um governo aliado do Irã e da Rússia, as duas principais forças políticas que se chocam com o imperialismo hoje. Afirmar que ninguém achou que a queda de Assad foi negativa é completamente absurdo.

Segundo, ele coloca a culpa em Assad pela Síria ter se transformado em uma “distopia infernal”. Essa é mais uma tese totalmente imperialista. Os EUA deram bilhões de dólares para mercenários salafistas criarem uma guerra civil violentíssima no país, essa guerra durou 13 anos!

Além disso os EUA ocuparam o território ao norte do Eufrates, justamente onde se concentra o petróleo e a produção de trigo. Ou seja, roubaram os recursos mais valiosos de um país pobre destruído pela guerra.

Por fim, os EUA aplicaram as sanções mais violentas do planeta, o Ato César, contra esse país miserável. As sanções chegaram a impedir ajuda humanitária de entrar no país após um terremoto, mas para Rid, a culpa de tudo recai sobre Assad, é a mesma política da imprensa imperialista.

Terceiro, o autor usa Sadam Hussein como base de comparação para criticar Assad. Ou seja, usa outro alvo do imperialismo no Oriente Médio. Essa é a região onde existem as monarquias do golfo, todas ditaduras muito violentas, a ditadura fascista do Egito de El-Sisi, onde está o próprio Estado de “Israel”, um regime nazista que pratica um genocídio.

Mas quem ele usa para atacar Assad? Justamente o grande inimigo dos EUA na região nas décadas de 1990 e 2000. É mais um indício de sua subserviência total ao imperialismo.

Uma vitória do sionismo e dos oprimidos?

Os defensores do golpe de Estado na Síria tem uma grande dificuldade, convencer os trabalhadores de que uma vitória de “Israel”, o nazismo do século XXI, também é sua vitória. O autor afirma:

Nem todos estão satisfeitos pelos motivos certos. Para o governo israelense, foi uma surpresa, sem dúvida uma surpresa divina. No dia seguinte à queda do clã Assad, o exército israelense lançou uma campanha de bombardeios tão ilegal quanto sem precedentes desde o fim da Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de destruir toda a infraestrutura militar da Síria, realizando mais de 600 ataques em menos de uma semana.

E segue:

Hoje, a Síria é essencialmente um país desmilitarizado. Acima de tudo, o estado israelense violou os acordos de 1974 e avançou para o território sírio, ocupando o Monte Hermon no Rif Dimashq ao norte, cerca de vinte quilômetros de Damasco a oeste, até Quneitra, e ao sul, nas primeiras aldeias da província de Daara perto da fronteira jordaniana. Ao mesmo tempo, Netaniahu anunciou ao mundo inteiro que Israel ocuparia as Colinas de Golã para sempre, enquanto seu governo propôs uma lei para dobrar a população de colonos judeus nesta área”.

Ou seja, os mercenários da Al-Qaeda financiados pelos EUA derrubaram um governo do Eixo da Resistência e logo depois, “Israel” realizou o maior ataque contra a Síria em toda a sua história, superando inclusive o realizado em 1967, ano em que a ditadura sionista conquistou sua maior vitória contra os povos árabes até hoje.

O autor, porém, em nenhum momento tenta explicar porque nessa conjuntura a queda de Assad pode ser considerada uma vitória dos oprimidos. Seria a primeira vez na história que “Israel” e ao mesmo tempo, os oprimidos do mundo, têm juntos uma vitória. Seria necessário explicar como a queda de Assad será positiva para o povo mais massacrado do mundo, os palestinos.

Aqui é preciso deixar claro uma realidade na luta política. Se o imperialismo vence todos os povos do mundo são derrotados. Isso porque o imperialismo oprime o mundo inteiro e quando ele vence ele acumula forças para manter a sua opressão.

Ao mesmo tempo, quando ele é derrotado é uma vitória de todos os países do mundo. As vitórias do Iêmen contra os EUA no Mar Vermelho, por exemplo, abrem caminho para ações militares contra o imperialismo no mundo inteiro.

Ficou claro que a marinha dos EUA não é tão poderosa assim. A vitória do Talibã no Afeganistão deu o sinal para os russos de que era possível atacar a OTAN.

Agora pelo contrário, a vitória de “Israel” na Síria está passando a mensagem de que o país ainda é forte, de que é preciso ter medo do sionismo. Isso não é um fato pois as derrotas acumuladas desde o 7 de outubro de 2023 foram gigantescas. Ainda assim, só no quesito da propaganda, a queda de Assad já abre margens para vitórias do imperialismo.

A derrubada do governo nacionalista da Síria, longe de ser celebrado, deve ser denunciada pelo que foi: um golpe de Estado do imperialismo contra um país oprimido, massacrado por 13 anos de guerras.

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