Atos bolsonaristas

O manual do identitário para não mobilizar o povo

Colunista faz chacota dos atos bolsonaristas, mas quando a esquerda irá sair às ruas?

Na segunda-feira (4), o articulista Ricardo Nêggo Tom publicou, no Brasil 247, um texto intitulado A marcha para a tornozeleira eletrônica, no qual busca fazer algumas análises sobre as manifestações bolsonaristas do final de semana.

O texto, no entanto, não pode ser levado a sério, pois, ao invés de uma análise verdadeira das manifestações bolsonaristas, busca apenas ridicularizá-las com trocadilhos e chavões ao estilo “meia dúzia de gatos pingados”.

A falta de clareza é tamanha, que o próprio texto se contradiz. Por exemplo, Nêggo Tom inicia seu texto com um parágrafo que nega que o Supremo Tribunal Federal (STF) estaria promovendo a censura no Brasil:

Numa demonstração de que a liberdade de expressão dos cidadãos brasileiros foi ‘cassada’ e de que a censura impera no Brasil sob a ‘ditadura do Judiciário’, bolsonaristas saíram livremente às ruas em diversas cidades do país para ameaçar as instituições e atacar frontalmente os ‘ditadores de toga’ que, segundo eles, os torturam e os impedem de se expressar.

No entanto, pouco depois, debocha do fato de Bolsonaro estar impedido de participar das manifestações, assim como foi anteriormente impedido de fazer publicações nas redes sociais e de dar entrevistas:

Aparentemente sóbrio, o conhecido ungido do deus Baco — batizado nas águas que passarinho não bebe — interagia com Bolsonaro por meio de um celular. O dono do tornozelo mais vigiado do país não pôde comparecer à própria festa, pois está proibido de sair de casa aos fins de semana por mau comportamento. Restou a ele colocar um copo de pinga diante do celular e esperar a bênção do companheiro de boteco. “Dê rama, senhor!”

E no parágrafo a seguir, em que o jornalista acha graça do fato de que uma manifestação pública poderia levar os manifestantes à prisão:

As homenagens não pararam por aí. Seu filho 01, Flávio Bolsonaro, diretamente da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, presenteou o chefe do clã chamando seu algoz Alexandre de Moraes de “vagabundo” e convocando seu impeachment, para o delírio de meia dúzia de gados pingados que não tinham nada melhor a fazer num domingo. Eles ainda vibraram com o “filho da puta” dirigido a Xandão pelo deputado federal Luiz Lima. Os bolsonaristas só não ficaram mais contentes que os fabricantes de tornozeleiras presentes ao evento, diante da perspectiva de boas vendas a médio prazo.

Ainda sobre o parágrafo acima, não pode passar batido que, para além da suposta graça de pessoas indo parar na cadeia por dizerem o que pensam e por se manifestarem, Nêggo Tom também acredite que comparecer a alguma manifestação é sinal de que o individuo não possui “nada melhor para fazer”, chavão muito próximo do “vai trabalhar!” que bolsonaristas e coxinhas no geral gritavam para as manifestações de esquerda antigamente.

A matéria, no entanto, longe de ser o pensamento isolado do jornalista, reflete o que se tornou a esquerda pequeno-burguesa no Brasil: um setor que não sai de casa, que não se mobiliza, que apoia a repressão estatal contra manifestantes e que luta para não ver a realidade.

Continuando seu texto, Nêggo Tom cumpre com todos os requisitos ditos acima. Não foi em nenhuma grande manifestação da esquerda no último período, até porque, não houve nenhuma, não está mobilizando a população por nada, mas tem coragem de fazer comentários como o que apresentamos a seguir, em que argumenta que os atos bolsonaristas são pequenos:

Cada vez mais esvaziados, os atos pró-Bolsonaro evidenciam que o apoio à sua figura vem sendo cumprido como uma espécie de obrigação religiosa. Não há mais aquele entusiasmo pela causa, mas sim o medo inconsciente de serem castigados com o fogo do inferno comunista, para onde seriam levadas suas almas caso deixem de adorar o messias que não faz milagres como o seu senhor e salvador da pátria.

Como Nêggo Tom não se importa com a mobilização popular, nunca a vivenciou de perto. Não entende, portanto, que hoje as manifestações podem ser pequenas, mas que, amanhã elas podem ser grandes.

Um exemplo claro disso foram as manifestações pelo “Fora Bolsonaro!”, que, no início, eram muito pequenas e contavam somente com o PCO e com os ativistas dos Comitês de Luta. No entanto, com a campanha se desenvolvendo, se tornaram grandes manifestações.

No entanto, como a esquerda pequeno-burguesa não se mobiliza, o que resta é torcer para que Bolsonaro não consiga mobilizar seus seguidores políticos a tempo de conseguir uma anistia e poder concorrer às eleições do ano que vem.

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