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Reveillon

O golpe das ‘boas intenções’ contra os rojões

Com palavras no diminutivo e texto emotivo, jornalista reforça campanha por criminalização de fogos de artifício, o que não tem nada a ver com animais e autistas, mas com repressão

No artigo assinado por Pedro Rafael Vilela, publicado originalmente pela Agência Brasil e republicado no portal de esquerda Brasil 247, é defendida a proibição de fogos de artifício com estampidos, sob o argumento de que esses artefatos causam sofrimento a animais e pessoas sensíveis a ruídos altos, como autistas. Essa campanha, revestida de uma carga emotiva significativa, abusa de diminutivos como “bichinho” e “gatinho”, além de termos como “sofrimento aos animais” para sensibilizar os setores mais abastados da pequena burguesia, que em sua maioria, está mais preocupada com confortos individuais do que com questões políticas. É, no entanto, uma manifestação clara da demagogia, que Karl Marx tão bem caracterizou ao afirmar que “o caminho para o inferno está pavimentado pelas boas intenções”.

Logo de cara, Vilela brinda o leitor com um “parte da comunidade de seres vivos”, um malabarismo para dizer que seres humanos e bichos deveriam ser iguais em direitos, o que é totalmente absurdo, uma vez que o direito é parte da sociedade, que até o atual estágio da evolução, não inclui nenhuma espécie além do homem. A suposta “comunidade de seres vivos”, no entanto, cumpre um papel, de tornar aceitável que seres humanos sejam reprimidos pelo Estado a título de proteção de “bichinhos” e “gatinhos”. Trata-se de um golpe, evidentemente.

O autor continua:

“Mas parte da comunidade de seres vivos pode viver situações de extremo sofrimento nessas ocasiões, levando a ferimentos severos, sequelas e até mortes, em decorrência dos ruídos causados por rojões e fogos de artifício com estampidos.”

Há uma tentativa muito clara de transitar entre o emocional e o racional, mas é evidente que o objetivo maior dessa campanha não é a proteção dos “gatinhos” ou dos autistas, o que fica expresso no trecho a seguir:

“O assunto é sério, preocupa especialistas, tutores, vítimas e mobiliza autoridades, inclusive o Congresso Nacional, que analisa um projeto de lei para proibir artefatos pirotécnicos que emitem sons muito altos.”

O texto de Vilela parece ignorar, mas lembremos o leitor que a atual composição do Congresso conseguiu ser a mais direitista em décadas, sendo praticamente dominada pelo bolsonarismo, mas ainda conservando uma presença relativamente forte da direita tradicional. Imaginar que o parlamento brasileiro, que nunca se mobilizou por nada positivo para a população, agora mudou, sendo tomado por um sentimento de humanidade é uma loucura.

Ainda mais quando no mundo, manifestantes desarmados têm recorrido aos rojões como instrumentos de resistência contra a repressão policial. São muitos os casos em todos os continentes, que mostram como os fogos de artifício são usados não apenas para festas, mas também para neutralizar a polícia. O uso de fogos de artifício em protestos não é um capricho; é uma tentativa desesperada de sobrevivência diante de uma opressão esmagadora.

O excessivo apelo à emoção no texto de Vilela em si acaba sendo um reforço de que realmente, não é para o leitor refletir sobre a campanha pela proibição dos fogos de artifício, mas desligar o intelecto e se deixar guiar pelo sentimento de piedade. É, portanto, uma colaboração com uma campanha que não visa outra coisa, mas o fortalecimento do aparato repressivo do Estado brasileiro.

Campanhas como essa, disfarçadas de proteção aos animais e autistas, ocorrem justamente em um momento em que o imperialismo se organiza para desarmar a população, já prevendo o deslocamento do regime brasileiro para a direita. Ao limitar o acesso a instrumentos que podem ser usados em manifestações, como fogos de artifício, o regime se prepara para neutralizar qualquer resistência futura a uma eventual escalada autoritária.

Por essa razão, a mobilização de “especialistas, tutores, vítimas” e que “mobiliza autoridades, inclusive o Congresso Nacional” rumo à proibição dos fogos com estampidos deve ser compreendida como parte da luta política do regime golpista, contra a esquerda e os trabalhadores, para minar as possibilidades de autodefesa das forças opositoras da política que une a direita tradicional e o bolsonarismo, além de uma defesa da própria polícia, devendo ser rejeitada pelas forças políticas ligadas à luta dos trabalhadores.

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