Coluna

O fim do imaginário e o desafio revolucionário

O imaginário de uma sociedade alternativa ficou restrito aos contos da Disney

Nas últimas décadas, a capacidade das pessoas de imaginar alternativas à sociedade atual tem sido severamente restringida. A concepção de um mundo diferente tornou-se quase um exercício fantasioso, onde a utopia se assemelha mais a um conto de fadas da Disney do que a um projeto concreto de transformação social. Embora muitos desejem o fim da pobreza, da discriminação, da violência e da desigualdade, poucos conseguem articular caminhos viáveis para alcançar esses objetivos.

Esse empobrecimento do imaginário social tem duas causas principais. A primeira é a marginalização das obras de Marx e Engels no ambiente universitário. Nas ciências humanas, o pensamento dominante há décadas gira em torno de autores como Michel Foucault e Judith Butler, enquanto até mesmo supostos marxistas, como Lukács e Althusser, têm presença maior do que os textos fundadores do marxismo. A obra de Lenin, então, é praticamente inexistente nos currículos. Esse apagamento intelectual compromete a formação daqueles que futuramente estarão à frente da elaboração de políticas públicas e da administração do Estado, dificultando qualquer possibilidade real de mudança estrutural.

A segunda causa é o colapso da União Soviética, que eliminou o maior exemplo histórico de uma sociedade organizada sob bases não capitalistas. O que restou são países como a China, que mantém um capitalismo de Estado, e nações socialistas menores, como Cuba e Coreia do Norte, sobre as quais há pouca informação acessível. Com a ausência de referências concretas e a escassez de textos que indiquem caminhos para a transformação social, a imaginação coletiva ficou confinada a respostas superficiais. Pergunte a alguém como erradicar a pobreza e as respostas girarão em torno de frases genéricas como “é preciso acabar com a corrupção”, “falta vontade política” ou “o investimento em educação resolveria tudo”—nenhuma dessas respostas, por si só, toca na raiz do problema.

Diante desse cenário, duas tarefas se tornam urgentes. A primeira é o resgate e o estudo das obras de Marx, Engels, Lenin, Trotsky e de todos aqueles que protagonizaram processos revolucionários. Apenas compreendendo a fundo o funcionamento da sociedade e suas dinâmicas de poder será possível construir estratégias para uma mudança significativa. A segunda é a difusão dessas ideias, combatendo as respostas simplistas para os problemas sociais e apontando alternativas concretas. Para isso, a organização política se torna fundamental. Somente um partido coeso e bem estruturado pode canalizar esforços na direção correta e agir no momento oportuno para a transformação do sistema vigente.

Não devemos nos desanimar pelo fato de que a maioria das pessoas tem concepções equivocadas sobre como combater a pobreza e a desigualdade. Quando Lenin chegou ao poder, o cenário não era diferente. O essencial é que estejamos guiados por uma compreensão clara da realidade social, pois isso garantirá que, quando o momento certo chegar, sejamos capazes não apenas de conquistar o poder, mas de saber o que fazer com ele.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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