No último dia 21 de dezembro de 2025, o portal Esquerda Online publicou o artigo As características centrais do segundo mandato de Trump, assinado por Paul D’Amato. O texto pretende ser um balanço do primeiro ano do governo dos Estados Unidos, mas acaba se revelando apenas mais uma peça de propaganda do pânico liberal pró-imperialista. Sob o pretexto de analisar o “trumpismo”, o autor apresenta um tese histérica que mascara a verdadeira natureza do imperialismo e a crise terminal do capitalismo.
A primeira e mais grave distorção de D’Amato é a caracterização de Donald Trump como o motor de uma “mudança qualitativa para o autoritarismo”. O autor lamenta a pressão sobre o “prestigiado sistema de dois partidos” e os “freios e contrapesos” constitucionais, como se o regime político dos EUA fosse uma democracia idílica que agora estaria sendo profanada. O que o articulista não consegue — ou não quer — enxergar é que Trump é um político que chegou ao governo justamente pela revolta do eleitorado contra a política oficial do imperialismo. Esse “sistema” que D’Amato defende é o mesmo que orquestrou o golpe na Ucrânia e o golpe de 2016 no Brasil. Trump não é nem um político do Partido Democrata, nem um membro tradicional do Partido Republicano; ele representa uma ala específica da burguesia interna que se vê prejudicada pela política neoliberal e pela sanha belicista dos democratas e dos “falcões” republicanos.
O delírio do texto atinge o ápice ao tentar pintar Trump como o responsável pelas atrocidades do imperialismo, chegando a comparar o ICE (serviço de imigração) à Gestapo de Hitler. Essa personificação do mal serve para esconder que o verdadeiro fascismo, como necessidade histórica do imperialismo para responder à sua crise, já está em plena execução. Se queremos ver o fascismo operando com toda a sua ferocidade, não precisamos olhar para os discursos de Trump, mas para o genocídio em Gaza — uma obra total e absoluta do governo de Joe Biden. O autor ignora que o aparato repressivo, a vigilância interna e a agressão externa são ferramentas do Estado norte-americano que funcionam independentemente da vontade do presidente do país. As atrocidades que Trump comete não são fruto de um desejo monárquico pessoal, mas da pressão do próprio sistema imperialista que ele, como um intruso, tenta administrar em meio a contradições insolúveis.
Além disso, o artigo de D’Amato dedica parágrafos inteiros a lamentar a “fuga de cérebros” das universidades de elite e o corte de verbas para pesquisas científicas, tratando isso como uma tragédia civilizatória. Enquanto isso, o povo trabalhador norte-americano, que votou em Trump justamente para fugir da miséria neoliberal de Clinton, Biden e Obama, é citado apenas como vítima passiva. O autor está mais preocupado com o financiamento das instituições que formam os articulistas do Partido Democrata do que com a desintegração social que pariu o fenômeno Trump.
Em última instância, o texto do Esquerda Online propõe o medo como única saída política. Ao pintar Trump como uma anomalia fascista e não como o sintoma de uma crise sistêmica, o autor acaba empurrando a esquerda de volta para os braços do Partido Democrata — o partido da guerra e da fome.




