Editorial

O Facebook e o sintoma de uma crise que deve ser aproveitada

Racha no interior da burguesia ameaça coesão por censura nas redes imposta pelo imperialismo, o que é muito positivo à organização e o desenvolvimento político dos trabalhadores

A recente declaração de Mark Zuckerberg sobre mudanças nas políticas de moderação do Facebook e de outras plataformas sob seu controle representa um fato político de grande relevância. Entre as medidas anunciadas estão o fim do uso de “checadores de fato”, a simplificação das diretrizes de moderação e a remoção de sistemas de inteligência artificial para bloqueio preventivo de conteúdo. Tais mudanças sinalizam um relaxamento no draconiano regime de censura imposto pelas redes sociais nos últimos anos e embora seja positivo para a liberdade de expressão, é um movimento que deve ser entendido no quadro mais amplo da crise do imperialismo e das disputas internas entre setores da burguesia norte-americana.

Esse relaxamento na censura não reflete qualquer compromisso com valores democráticos ou com o respeito às liberdades individuais. Zuckerberg, como qualquer grande empresário, não age motivado por princípios ou mesmo humanidade. Essa mudança de postura é, antes de tudo, uma resposta às pressões econômicas e políticas que afetam diretamente os monopólios tecnológicos.

O controle estatal e imperialista, muitas vezes exercido de forma clandestina e autoritária, tornou-se um entrave para os lucros dessas empresas. A cisão dentro da burguesia, marcada por conflitos entre setores mais frágeis e mais poderosos, revela a profundidade da crise do sistema imperialista.

A vitória eleitoral de Donald Trump em 2024 expôs as rachaduras no sistema imperialista. Embora Trump seja um representante da direita burguesa e um inimigo dos trabalhadores, sua ascensão evidenciou uma ruptura na unidade da classe dominante. Seguindo essa nova dinâmica na correlação de forças, outros magnatas da internet além Zuckerberg deslocam-se para políticas “anticensura”, reforçando essa crise. Eles não representam um fortalecimento dos monopólios, mas sim a tentativa de setores específicos da burguesia de proteger seus interesses frente ao avanço de um controle estatal mais ostensivo e com isso, ampliarem o racha na classe social.

É inegável que o enfraquecimento da censura traz ganhos para os trabalhadores. A repressão à liberdade de expressão, promovida pelos monopólios digitais, sempre serviu como instrumento de controle político, dificultando a organização e a mobilização da classe operária.

O relaxamento dessas medidas pode criar um espaço para os trabalhadores ampliarem sua capacidade de articulação e enfrentamento contra a burguesia, na defesa de seus próprios interesses. Cada fissura no bloco burguês enfraquece sua capacidade de impor controle absoluto, criando oportunidades para a luta operária. A grande lição que emerge desse cenário é a necessidade de fortalecer a organização independente da classe trabalhadora, explorando as fissuras geradas pela crise do imperialismo, que cresce.

Não é o que fez a esquerda, com destaque para a presidenta do PT e a deputada federal Gleisi Hoffmann, que caracterizou como “gravíssima” a notícia de que Zuckerberg pretende relaxar a censura em suas redes, além de “uma declaração de guerra às democracias”, o que é um erro grosseiro.

Uma “democracia” que precisa da censura para sobreviver, o Brasil já teve, entre 1964 e 1985, e exatamente por lembrarmos dela, é que a liberdade de expressão, tão combatida pelos monopólios e setores desorientados da esquerda, deve ser encarada como uma ferramenta vital para os oprimidos.

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