A juventude brasileira está sob ataque. O que se apresenta como preocupação com a segurança, o combate ao discurso de ódio ou a defesa da ordem nas escolas e universidades, na verdade, esconde uma ofensiva repressiva contra o direito de expressão, o debate político e a própria organização da juventude. Três exemplos recentes — a perseguição a estudantes na universidade, a demonização da cultura jovem na internet e a manipulação de dados sobre violência escolar — ilustram como Estado e imprensa burguesa atuam de forma coordenada para sufocar qualquer manifestação autêntica da juventude.
No início do ano letivo de 2025, a Universidade de Brasília (UnB) protagonizou mais um episódio da escalada repressiva contra a juventude. O youtuber Wilker Leão foi suspenso por 120 dias, proibido de frequentar o campus e impedido de participar das atividades acadêmicas. A justificativa da Reitoria foi a “proteção da comunidade acadêmica” e o “regular andamento processual”, mas o que se viu foi a aplicação de uma medida cautelar sem o devido processo legal, negando ao estudante o direito à ampla defesa e ao contraditório.
O caso de Wilker escancara a disposição das autoridades universitárias em reprimir qualquer manifestação que fuja ao controle burocrático e ideológico da instituição. O ambiente universitário, que deveria ser palco do livre debate de ideias, é transformado em território de censura, onde o dissenso é tratado como caso de polícia.
Enquanto nas universidades a repressão se dá por meio de processos administrativos e punições exemplares, na Internet a juventude é atacada por outra via. Reportagens recentes sobre o universo dos “incels” (abreviação de “involuntary celibates”, ou celibatários involuntários) buscam apresentar a Internet como um antro de “monstros misóginos”, “transfóbicos” e “nazistas”. O fenômeno dos incels, que de fato expressa problemas reais de isolamento, frustração e ressentimento entre jovens, provocado pelo neoliberalismo, é usado pela imprensa burguesa para justificar uma cruzada moralista e repressiva. Em vez de debater as causas sociais do problema, a imprensa prefere associar toda uma geração a “discursos de ódio” e violência, preparando o terreno para a censura e a vigilância das redes sociais.
A terceira frente da ofensiva repressiva é a manipulação dos dados sobre violência escolar. Nos últimos dez anos, os casos de violência em escolas brasileiras mais do que triplicaram, chegando a 13,1 mil atendimentos em 2023. A imprensa, em coro com o Ministério da Educação e órgãos de direitos humanos, apresenta esses números como justificativa para endurecer o controle sobre estudantes, expandir a presença policial nas escolas e impor políticas de vigilância ostensiva.
O discurso dominante ignora que a violência nas escolas é resultado direto da degradação das condições de vida da juventude, da desvalorização dos professores, da destruição da infraestrutura escolar e do abandono das políticas públicas. Em vez de atacar as causas ainda que secundárias, o Estado e a imprensa preferem transformar a juventude em suspeita, tratando-a como potencial criminosa e justificando medidas autoritárias que só aprofundam o problema.