Em artigo publicado no dia 21 de outubro de 2025, o Esquerda Online comenta o resultado das eleições presidenciais bolivianas com o título: Rodrigo Paz eleito presidente da Bolívia, o retorno da direita ao poder. O texto omite o essencial e legitima, por via indireta, o golpe de Estado que destituiu Evo Morales em 2019 e continua em andamento no país. O Esquerda Online, ao invés de denunciar o imperialismo e seus agentes internos, escolhe lamentar a vitória da direita como se fosse um simples fenômeno eleitoral, ignorando completamente o cenário de violência política, judicial e institucional que levou a esse resultado.
Logo no título e na introdução, o Esquerda Online crava que se trata de “o retorno da direita ao poder”. A expressão já revela o caráter farsesco da análise. Desde o golpe de 2019, que derrubou Evo Morales após um processo manipulado pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e pelas Forças Armadas, a direita jamais deixou o poder de fato. O que houve foi um governo tampão comandado pelo traidor Luis Arce, com o próprio governo submetido às instituições herdadas do golpe.
A “transição democrática” conduzida por Arce não revogou nenhuma medida do regime golpista. Pelo contrário: manteve intacto o sistema judicial que cassou a candidatura de Morales e entregou o país à chantagem econômica do capital internacional.
Não há no texto uma única menção à cassação da candidatura de Evo Morales. Esse é o ponto central do golpe em curso, mas é ocultado pelo artigo como se fosse irrelevante ou inexistente. Ao dizer que Rodrigo Paz “venceu o segundo turno” e que Evo “havia pedido voto nulo”, o Esquerda Online esconde do leitor o fato de que Morales foi impedido de concorrer por decisão judicial — imposta por um aparato judicial controlado pela direita e aceita sem resistência por Luis Arce.
Esse silêncio não é acidental: é uma operação política consciente para legitimar a farsa eleitoral e colocar todos os atores no mesmo plano — como se a derrota da esquerda fosse resultado de seus próprios erros e não de uma ofensiva imperialista.
O Esquerda Online menciona que o MAS “foi eliminado drasticamente no primeiro turno” e que “não deu orientação de voto no segundo”, como se isso fosse um gesto de neutralidade política. Em nenhum momento o artigo questiona a responsabilidade direta de Luis Arce na destruição do MAS, na cooptação do partido pelas instituições do regime golpista e na sabotagem deliberada à liderança de Evo Morales.
Ao falar da crise econômica, o Esquerda Online trata Arce como uma vítima da conjuntura e evita qualquer crítica direta ao seu governo, que foi um governo a serviço da burguesia.
Ao longo do texto, não há nenhuma menção ao papel do imperialismo no golpe, nas eleições, nem na atual ofensiva reacionária na América Latina. Tudo é tratado como uma disputa interna boliviana, reduzida à economia, à fragmentação partidária e ao “ciclo da esquerda no poder”.
Com isso, o Esquerda Online cumpre o papel que a esquerda oportunista sempre desempenha nos momentos decisivos: desarmar politicamente os trabalhadores, ocultar o verdadeiro inimigo e apresentar a derrota como um erro estratégico ou uma fatalidade.




